Golpe continuado

‘Vivemos sob uma emergência da extrema-direita’, diz Dilma em Madri

'Lula está no cárcere e aí me perguntam: por que vocês não escolhem outro candidato? Pelo mesmo motivo que eu não renunciei quando passava pelo processo de impeachment', afirma ex-presidenta em palestra

Mídia Ninja

“Ele (Lula) é o nosso candidato, sim, porque consideramos que isto é uma questão de justiça, de inocência”

São Paulo – A ex-presidenta Dilma Rousseff deu início a uma série de participações em eventos na Europa para denunciar a “perseguição política ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as ameaças à democracia” no Brasil. Sua primeira palestra foi nesta terça-feira (10), na Casa América, em Madri, na Espanha.

“Desde que me derrubaram tentam desconstruir Lula, mas a cada acusação, a cada decisão contrária a ela, mais aumenta a sua popularidade. Então, para seus adversários, torna-se fundamental o seu encarceramento, apontou a ex-presidenta. “Mas é importante que vocês saibam que nós temos no direito brasileiro uma imensa distorção: o juiz que instrui o processo é o mesmo que julga. O processo contra Lula, por isso, está eivado de distorções. Seja por restrições ao direito de defesa, seja pelas relações indevidas do Judiciário com a imprensa.”

Em sua fala, Dilma também explicou o porquê de o ex-presidente não ter desobedecido o mandado de prisão, como muitos manifestantes em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e mesmo correligionários defendiam. “Nós somos um partido institucional. Nós acreditamos na democracia. Mesmo quando sabemos que as regras do jogo estão sendo desrespeitadas, nós usamos as regras do jogo até o fim. Por isto, eu fui ao Senado da República, e lá fiquei 15 horas, defendendo meu mandato, mesmo sabendo que iriam me condenar. Se você acredita na democracia em seu país, você tem que ser o primeiro a respeitar as regras, ainda que estejam sendo distorcidas. Cabe-nos denunciar, no espaço político no qual possa fazê-lo”, afirmou.

Democracia em risco

“É o que estamos fazendo em relação a Lula”, acrescentou Dilma. “Sabemos que eles querem fazê-lo calar-se. Um dos argumentos usados na ordem de prisão de Lula é que esta medida era necessária porque ele falava muito e estava convencendo seus adversários de que sua prisão seria injusta. Foi a primeira vez que vi um direito de opinar e falar ser condenado numa democracia. Isto é muito grave.”

Dilma disse ainda que “a democracia no Brasil está em risco”. “O processo de exceção está se aprofundando. Temos que ter clareza de que este tipo de processo de exceção já aconteceu e pode voltar a acontecer na América Latina. Aconteceu com Lugo no Paraguai, aconteceu em Honduras”, pontuou. “O lawfare, que é o uso da lei para destruir o inimigo, vem acontecendo no Brasil, porque de outra forma não conseguiriam destruir o PT. E não conseguirão.”

A ex-presidenta, assim como o PT, fez questão de ratificar a candidatura de Lula à presidência da República nas eleições de 2018. “Lula está no cárcere e aí me perguntam: por que vocês não escolhem outro candidato? Não escolhemos pelo mesmo motivo que eu não renunciei quando passava pelo processo de impeachment. Quando não se deve, não se faz o trabalho para o adversário. Por que Lula abandonará o plano de ir à eleição se nós sabemos que ele é inocente? Por que criar um Plano B, se construíram uma culpa que é falsa e mentirosa? Lula é candidato”, destacou. “Esta é a nossa posição. Não é por soberba. Ninguém é soberbo dentro de um cárcere. Ele é o nosso candidato, sim, porque consideramos que isto é uma questão de justiça, de inocência. E se querem tirá-lo da disputa terão fazer isto com suas mãos, não com as nossas. Com as nossas, não, porque lutaremos.”

Na palestra, Dilma afirmou ainda que é necessário “solidariedade internacional” para se mostrar o que acontece no país. “Precisamos que se divulgue ao mundo. Precisamos, em todas as instâncias, que se saiba do que está acontecendo no Brasil”, disse. “Há um processo de radicalização da direita no Brasil. Vivemos sob uma emergência da extrema-direita. E não é só no Brasil. sabemos que isto aconteceu até nas eleições alemãs, recentemente.”

Ao final, a ex-presidenta lamentou a prisão de Lula, ressaltando sua indignação. “É muito triste ver Lula, mesmo sendo carregado nos ombros do povo, se dirigir ao cárcere. Nos causa enorme indignação. Sabemos o que há de imensa injustiça nisto. Encerro dizendo que não tenho dúvidas: Lula é inocente. Além de inocente, é um grande guerreiro.”

 

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