prisão política

Teatro Oficina reúne artistas, políticos e ativistas para exigir liberdade a Lula

Música, teatro, literatura e política marcaram a noite desta quarta-feira em São Paulo. O dramaturgo José Celso recebeu artistas e lideranças, que classificaram a prisão de Lula como política

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Teatro Oficina durante a apresentação musical de Chico César: defesa da democracia e do direito de Lula ser candidato

São Paulo – A noite desta quarta-feira (25) escreveu mais um capítulo da  história do Teatro Oficina, no centro de São Paulo, como referência das lutas pela democracia no país. No aniversário de 44 anos da Revolução dos Cravos, movimento socialista português que derrubou a ditadura de Antônio Salazar, o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) comandou o ato Lula Livre com a presença de lideranças políticas, intelectuais e artistas de diferentes vertentes culturais. Durante o ato, por diversas vezes, o anfitrião, o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, fez intervenções sobre os temas apresentados.

Marcado inicialmente para as 18h30, o ato atrasou, começando por volta das 19h30, se estendendo até 22h. Ainda antes das atrações, Suplicy concedeu uma entrevista coletiva para falar da situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde o dia 7 na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. “Sou amigo do Lula há 40 anos. Amanhã vou para Curitiba para tentar visitá-lo”, disse.

Suplicy criticou a Justiça de execução penal local, que vem impedindo sucessivamente que visitas sejam realizadas ao ex-presidente. Já foram barrados amigos, nove governadores, três senadores, uma comissão de deputados federais, além do teólogo Leonardo Boff e do ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1980, o ativista Adolfo Pérez Esquivel. “Tantas vezes visitei presos em muitas unidades. É mais natural que os amigos de Lula pudessem o visitar. Se a juíza não me autorizar, vou entregar minhas cartas que escrevi.”

O vereador também comentou as mais recentes pesquisas de intenção de votos para o senado, em que aparece em segundo lugar, tecnicamente empatado com o apresentador de programas policiais na televisão José Luiz Datena, que deve disputar o pleito pelo Democratas. “Sobre as pesquisas, estou com uma boa colocação. Mal começou a campanha, o conhecimento das pessoas. Em 1990, pela primeira vez eu era presidente da Câmara Municipal. O PT me convidou para o Senado. Fui o primeiro senador eleito pelo PT. Em 1998, novamente candidato, obtive 43% dos votos, mais de 6 milhões de pessoas. Em 2006, novamente eleito com mais de 8 milhões, 48% dos votos válidos. Em 2014, houve um verdadeiro tsunami, fui alvo de fake news e não entrei.”

Defesa da democracia

No início do ato, os primeiros a usar o microfone foram a jornalista Maria Inês Nassif e o escritor e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho. Eles realizaram o lançamento do livro Enciclopédia do Golpe – O papel da mídia, ao lado do jornalista Camilo Vannuchi, que assina um texto inserido no livro sobre fake news. “Este é o segundo livro da enciclopédia. Iniciamos esse trabalho desde o começo do golpe. O primeiro volume é uma visão geral sobre os protagonistas do golpe, quem foi quem, quem são os adversários da democracia. Este segundo livro trata especificamente da mídia”, disse Maria Inês.

“O Brasil, se considerarmos ainda uma democracia, é uma das poucas aonde temos uma mídia homogênea, não temos o contraditório. A mídia é estrutural no golpe de Estado de 2016 e continua sendo importante na formação da consciência da população sobre a prisão política do presidente Lula. A mídia precisa ser discutida. É importante termos claro todos os movimentos dessa mídia conservadora, reacionária, que tem um lado só. Precismos discutir uma mídia democrática. Muitos dos nossos colegas cumprem este papel”, disse Lalo.

Na sequência, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, subiu ao palco do Oficina ao lado da vereadora Juliana Cardoso (PT), anunciada como uma das organizadoras do evento. “Fico sem palavras com o carinho e reconhecimento”, disse Okamotto a uma plateia completamente cheia. No Instituto, defendemos o legado do governo democrático popular do Partido dos Trabalhadores. Lula tem os valores da classe trabalhadora. Todas as noites, levanto três vezes pensando neste homem preso. Lula é inocente e eu não posso admitir que uma pessoa que convivo, conheço, fique presa injustamente. O apartamento não é dele. Qualquer pessoa de bom senso não imaginaria que Lula pediria um apartamento que ficasse em nome da empresa, não faz sentido. É uma farsa.”

Juliana discursou na sequência e disse que “querem colocar o povo de joelho”. “Precisamos parar todos os dias para conversarmos. Dessa forma faremos a revolução. Assim vamos fazer a transformação. Precisamos formar quatro linhas de frente: Lula livre, Lula presidente, Lula inocente e Marielle vive”,disse lembrando o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ).

O pré-candidato à Presidência pelo Psol, Guilherme Boulos, falou ao público empunhando um cravo branco, em referência à Revolução dos Cravos. “Vivemos tempos muito duros em nosso país. Vivemos, sem dúvidas, a maior crise da nossa frágil democracia desde o fim da ditadura militar. Sabemos que nunca tivemos democracia plena. Até porque, não existe em canto algum democracia política sem democracia econômica e sem democracia social”, afirmou, ovacionado.

“O pouco que conquistamos de democracia no Brasil está gravemente ameaçado com o golpe parlamentar de 2016. Abriram a porteira da instabilidade, soltaram os pitbulls da intolerância. Soltar é fácil, prender é um problema. Subiram com uma escalada de intolerância e ódio, criando Bolsonaro, criando o ambiente, fazendo assassinatos políticos, matando Marielle, que foi executada politicamente. Uma mulher negra, lésbica, vinda da favela, uma das lideranças políticas mais promissoras e combativas do Rio de Janeiro e do Brasil. Uma mulher que tinha lado, que enfrentava os abusos e arbitrariedades das polícias nas favelas, aonde a democracia nunca chegou”, completou.

Antes da apresentação da peça “Ledores no Breu”, da Companhia do Tijolo, os artistas cantaram em coro as seguintes palavras:

“Se o mundo ficar pesado, eu vou pedir emprestado a palavra POESIA

Se o mundo emburrecer, eu vou rezar pra chover palavra SABEDORIA

Se o mundo andar pra trás, vou escrever num cartaz a palavra REBELDIA

Se a gente desanimar, eu vou colher no pomar a palavra TEIMOSIA

E se acontecer afinal, de entrar em nosso quintal a palavra TIRANIA

Pegue o tambor e o ganzá, vamos pra rua gritar a palavra UTOPIA”

José Celso encerrou o ato após apresentações de música e teatro. Ele falou sobre a situação do Oficina, que passa por uma disputa na Justiça com o empresário Sílvio Santos, que quer construir um empreendimento comercial em uma área que, defende o dramaturgo, é tombada. “Querem assassinar o Bixiga (como é conhecido o bairro da Bela Vista). Primeiro vão contra o órgão de proteção da história que é o Condephaat, o Conselho que nos defende da especulação imobiliária. Durante 37 anos, esse teatro conseguiu que não se construísse nada no entorno, pois temos um projeto”, disse, sobre a Praça do Artista, com palcos externos, projeto original do Oficina.

Celso lembrou que Suplicy é um dos nomes que atuam em defesa do teatro. Por sua vez, o vereador ressaltou a importância do projeto original. “Esse ato é formidável. A generosidade do José Celso e do elenco que está apresentando o extraordinário Rei da Vela. É comovente a fala da Fernanda Montenegro. Ela fala que o Teatro Oficina é eterno. É muito especial e aqui renovo meu apelo ao Sílvio Santos, que possa permitir que o Teatro continue aqui”, disse.

“Parece que o Sílvio Santos quis entrar na Justiça, mas com o apelo de gente como Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e todos os artistas, grandes dramaturgos, até a Hebe Camargo, lá do céu, estaria dizendo para o Silvio entrar em entendimento. Esse ato constitui um apoio ao Teatro Oficina que tem tanto significado para todos nós. Quando eu era estudante, fui diretor do Centro Acadêmico e presidente do Centro Acadêmico em 1964. Costumava organizar peças de teatro para a escola assistir. Fazíamos o espetáculo para estudantes, professores e funcionários da escola. Após a apresentação, fazíamos um debate com o diretor, os artistas, professores e nós. Parte da minha formação, que sou hoje, é decorrente de assistir a peças do Teatro Oficina. Tenho vontade de buscar a verdade, porque sou um seguidor de Galileu Galilei, retratado na peça do Bertolt Brecht que vi aqui. Esse lugar contribuiu para que eu alcançasse a consciência política”, concluiu Suplicy. 

Ainda passaram pelo teatro nomes como o ex-ministro das Relações Internacionais e da Defesa Celso Amorim, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, a atriz Letícia Sabatella, o pré-candidato ao governo do estado pelo PT, Luiz Marinho, os músicos Paulo Miklos e Chico César, e o presidente da CUT, Vagner Freitas, entre outros.