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Depois de oito horas de obstrução, Câmara começa a apreciar denúncia contra Temer

Processo de votação só começou às 17h03, depois de muita espera para registro da quantidade necessária de deputados. Oposicionistas fizeram obstrução até o último instante

lula marques / agpt

Maia aguarda a formação de quórum para iniciar a sessão: quer derrubar a denúncia depois de conflitos com Temer

Brasília – A Câmara dos Deputados só conseguiu atingir o número de votos suficiente para permitir a votação da denúncia contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco às 17h03, depois de oito horas de atraso, provocado por obstruções, atos públicos dos oposicionistas e até mesmo pressão de integrantes da base aliada. Também interferiu para atrapalhar o rito legislativo a notícia inesperada de que o presidente foi levado às pressas para o Hospital do Exército.

A informação oficial do Executivo é de que Temer teve um mal-estar provocado por obstrução urinária, mas houve críticas de falta de transparência sobre o que de fato teria acontecido, o que tornou o clima ainda mais tenso na Casa.

Parlamentares aliados se dividiram ao longo do dia. Um grupo de deputados que apoiam o Palácio do Planalto, principalmente formado por integrantes do PP e PR, resolveu ampliar o movimento pela obstrução dos oposicionistas. Eles não ficaram junto das bancadas de oposição, mas passaram a manhã em casa ou nos gabinetes.

E afirmaram, em reservado, a muitos colegas, que só iriam para o plenário no último momento, porque aguardavam novos telefonemas de ministros, em razão de não terem todos os pleitos atendidos até agora – o que acentuou as notícias de articulações no estilo “toma lá, dá cá” dos últimos dias.

Por outro lado, muitos líderes da base, ao contrário do movimento da maior parte dos governistas de telefonar para os colegas e tentar convencer estes indecisos, demonstraram irritação. Destacaram, dentro e fora do plenário, que haverá mudanças logo após a votação e que quem desobedecer ao que pede o Executivo será retaliado.

“Agora será pão, pão; queijo, queijo. Quem for da sustentação ao governo que aja como um governista. Quem não for, que arque as consequências futuras”, ameaçou o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

Pedidos de adiamento

Em meio às dúvidas e falta de esclarecimentos sobre o estado de saúde do presidente Michel Temer, duas sugestões foram feitas ao plenário, sem êxito. A primeira foi um requerimento para que, numa manobra regimental, passasse a ser adotado sistema de urgência da matéria e, assim, a votação pudesse acontecer sem os 342 votos. Mas nem mesmo os deputados do DEM concordaram com a estratégia.

“Isso seria mais do que traição, seria uma forma de chantagear os colegas da oposição que estão fazendo um movimento legítimo e democrático no Salão Verde. Proponho desconsiderar esse requerimento e aguardar o quórum para realizar a sessão da forma correta”, disse o ex-líder do Democratas, Onix Lorenzoni (RS).

A outra foi um apelo feito pelo decano da Casa, o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ). Teixeira não é o deputado mais velho, mas é o que acumula maior número de exercício em legislaturas na Câmara, atualmente. Ele usou esta prerrogativa para subir à tribuna. “Diante de tudo o que está acontecendo, o ideal é que os trabalhos sejam suspensos e possamos nos dedicar a reivindicar informações corretas e precisas sobre o que houve com o presidente da República, de forma transparente”, disse. Seu pedido também não foi acatado.

‘Obstrução foi vitoriosa’

Entre os oposicionistas, o dia foi de satisfação com o fato de a obstrução programada por eles ter tido sucesso até o final da tarde, mas muitos dos deputados da oposição também ficaram apreensivos para saber mais detalhes sobre a situação do presidente – que segundo o Palácio do Planalto, está fazendo exames e passa bem.

“Não estamos nos sentindo derrotados pelo fato de não termos conseguido impedir a votação, pelo contrário. Nossa obstrução foi vitoriosa e até a base aliada está ciente disso. Sem falar que, com a votação acontecendo a partir de agora, a população terá maiores condições de acompanhar como foi o voto de cada deputado”, afirmou o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE).

No ato dos oposicionistas iniciado durante a manhã, Guimarães abriu um novo painel de votação do lado de fora, que registrava as presenças dos deputados no plenário e, ao mesmo tempo, o número de parlamentares presentes na Casa, mas fora da sessão.  

Há pouco, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que não tem dúvidas na vitória da base do governo pela rejeição da denúncia. Ele lembrou que em sessões anteriores, mesmo havendo dificuldades para quórum, no final do dia houve a presença do número suficiente de deputados, que permitiu o início dos trabalhos, como de fato aconteceu.

Maia, entretanto, continua sendo visto com reservas pelo núcleo de articulação do Palácio do Planalto por ter tido divergências com o governo nas últimas semanas, ter feito críticas ao tratamento recebido e por não ter atuado com o mesmo esforço com que trabalhou pela rejeição da primeira denúncia.

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