Pelo Brasil

No meio do caminho da caravana de Lula, um povo em busca de um abraço

Ao deixar a Paraíba em direção ao Rio Grande do Norte, caravana Lula pelo Brasil era recebida em pequenas cidades, à beira da estrada, dobrando o tempo de viagem inicialmente previsto

Ricardo Stuckert

Lula em Campina Grande. Para Celso Amorim, ex-presidente impressiona pela capacidade natural de atrair carinho e ‘redespertar esperança’

Currais Novos (RN) – Foi um dos mais longos deslocamentos desde 17 de agosto, quando em Salvador (BA) teve início a caravana Lula pelo Brasil. Ainda na manhã deste domingo (27), a comitiva deixou a capital paraibana, João Pessoa, em direção a Campina Grande. E chegou ao final de seu destino traçado para o dia, em Currais Novos, já com noite alta. Um percurso de 340 quilômetros, mas que foi cumprido em 10 horas de viagem, o dobro do inicialmente previsto.

Dê-se um desconto para o ato “Água e Democracia”, que já estava na programação para acontecer no Parque Ecológico de Bodocongó, em Campina Grande. Ainda assim, não era para tanto. Mas à medida que a paisagem urbana da cidade ia dando lugar ao cenário do Semiárido, novos personagens surgiam pelo caminho. Era gente, muita gente, querendo ser parte do roteiro, querendo ver e ser vista. Tocar e seu tocada.

O ex-chanceler Celso Amorim, diplomata de muitas milhas rodadas, dizia ainda em Campina Grande, que depois de ter viajado o mundo todo ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva se dizia impressionado com a sua capacidade natural de atrair carinho e “redespertar esperança”.

Foi assim em Riachão e também em Nova Palmeira, terra natal da senadora petista Fátima Bezerra, ainda na Paraíba. Cartazes saudavam o ex-presidente. Moradores tentavam bloquear a passagem do ônibus de onde Lula acenava. Uma moça gritava e fazia um coração com as mãos. Uma bandinha tocava as músicas que foram temas de campanhas políticas ao longo da história. Velhos, jovens, adultos, crianças gritavam o nome do ex-presidente, que mais uma vez alterava seu roteiro para descer e falar aos moradores.

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Caravana chega a Currais Novos, no Rio Grande do Norte. Para muitos, ‘dia mais feliz da vida’

“O melhor presidente, ele é tudo na vida”, disse Esmeraldina da Conceição, que esperava Lula com a neta, em Picuí, município de pouco mais de 18 mil habitantes na divisa entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte. O ato de passagem da bandeira do Partido dos Trabalhadores, que já se tornou praxe quando a caravana passa de um estado para outro, se deu no final da tarde. Grande parte dos moradores da cidade parecia estar concentrada na rua, onde um palco foi montado pelo prefeito Olivânio Remígio.

Garimpeiro de origem, de família muito pobre, Olivânio relatou a importância da passagem de Lula, por representar “esperança”. “Eu tenho certeza de que cada um que está aqui vai acordar mais feliz nesta segunda-feira.”

O estudante de Geografia Jokinha Dantas, da Universidade Federal de Campina Grande, soluçava, após furar o bloqueio da segurança e conseguir um abraço e uma foto com o ex-presidente. Morador da zona rural de Picuí, Jokinha conta que sua vida mudou após ingressar no Instituto Federal da Paraíba – uma das 282 escolas técnicas federais criadas nos governos de Lula e Dilma. E conta, emocionado, sobre amigos que acabaram “caindo no crime”. “Ganhei percepção política e consegui tirar muitos jovens das drogas. Tudo isso eu sou porque teve o IFPB que me abriu os olhos para o mundo.”

O abraço, além de sonho, era também uma promessa cumprida. Há três meses, Jokinha perdeu o melhor amigo, assassinado, que também sonhava tirar uma foto com Lula. “A loucura que fiz hoje é pra você, Neto Borges.”

De Picuí, já com a noite caindo, a caravana seguiu para Currais Novos. Mas não sem novas paradas relâmpago. Em Acari (RN), a meia hora do destino final, mais ruas tomadas à espera da comitiva. Antes de sair de Campina Grande, o deputado federal Vicentinho (PT-SP) estava radiante com a expectativa de passar pela pequena cidade na região do Seridó. “Nós vamos passar ali e rever a casinha onde eu cresci”, dizia.

Mas não foi desta vez. Foram tantas as paradas de improviso que a comitiva já estava muito atrasada para o ato com movimentos sociais e a Frente Brasil Popular, que já esperavam em Currais Novos.

“Às duas horas da tarde a gente estava assistindo ele, pela internet, em Campina Grande. Meu marido disse, não vai chegar em Currais Novos menos de oito da noite. Nós saímos de Várzea cinco e meia para pegar ele aqui em Acari”, contou Auxiliadora Araújo, 62 anos, aposentada. “Temos de nos organizar para derrubar aquele inquilino, ele tem de sair dali”, disse, referindo-se a Michel Temer, o marido Hipólito Araújo, que já havia recepcionado Lula em Campina Grande uma vez, em 1981.

E assim foi durante todo o domingo. Nas estradas, quando reconhecem os ônibus da comitiva, buzinas, gritos, acenos.

Atravessar a pequena cidade de Carnaúba dos Dantas, por exemplo, não levou mais que 10 minutos, mas o trajeto marcou os “passageiros” dessa viagem. Em todas as estreitas ruas, os moradores tomavam as calçadas, para ver a caravana passar.

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Parada não planejada em Nova Palmeira, Paraíba. População organiza ‘recepções’ informais para saudar passagem de Lula

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