OBSTRUÇÃO ATÉ O FIM

‘Planalto que espere votação da meta. Queremos a reforma política’, diz Zarattini

Para líder do PT, vitória da madrugada foi “reflexo de falta de união da base do governo”. Ele criticou fato de Temer ter pedido mudança da meta fiscal sem propor mudar a política econômica

Luis Macedo/Câmara dos Deputado

Votação teve de ser interrompida: continuidade da apreciação da meta fiscal será na próxima terça

Brasília – O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), afirmou esta manhã (31), durante entrevista coletiva para avaliar o resultado da votação ocorrida na madrugada, que o fato de a proposta de mudança da meta fiscal do governo não ter sido aprovada em sua integralidade consistiu numa grande vitória da oposição e ressaltou que “agora, o governo vai ter que esperar” para apreciar a continuidade da matéria. “Nossa vitória é reflexo da baixa aprovação popular desse governo e da falta de união da base que dá sustentação ao presidente da República neste Congresso. Não conseguiram mobilizar os aliados deles para evitar nossa obstrução”, disse.

A sessão chegou a aprovar o texto-base do Projeto de Lei (PLN) 17/17, que autoriza o governo a aumentar o deficit primário de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões em 2017. Para 2018, a meta fiscal será a mesma. Mas, por conta da falta de quórum no momento da votação de uma emenda da oposição, a votação dos destaques teve de ser interrompida às 3h43min.

Segundo Zarattini, os partidos da oposição e suas respectivas bancadas vão se reunir no início da próxima semana para discutir as estratégias a serem adotadas na sessão que dará continuidade à votação para mudança da meta, prevista para terça-feira (5). Mas ele destacou que um ponto já está definido: os oposicionistas vão obstruir a votação até o fim, porque não têm pressa para que a continuidade da proposta seja votada em caráter célere.

Eles pretendem se concentrar na votação da reforma política e discutir bastante todos os itens, daqui por diante.

“Como o governo não cumpriu o prazo de incluir a mudança da meta no Orçamento, o que constitucionalmente teria de ser feito até hoje, então, que se vire e aguarde quando o Congresso tiver disposição para votar a matéria outra vez. Vamos obstruir”, disse.

O que queremos concentrar esforços a partir de agora é na pauta da Câmara dos Deputados, não da sessão conjunta do Congresso (que é onde consta a continuidade da apreciação da proposta de mudança da meta fiscal)”, acrescentou.

Reforma política

De acordo com o líder petista, a bancada do seu partido está interessada em trabalhar para que seja votada na terça-feira a proposta de Emenda à Constituição (PEC) 282/2016, que está sendo relatada pela deputada Shéridan (PSDB-PR). O texto estabelece filtros rígidos que praticamente acabam com as coligações nas eleições proporcionais e estabelece uma cláusula de barreira.

A ideia é aprovar ao menos esta PEC com os itens de que trata para, em seguida, os deputados se debruçarem na PEC 77/2003, que está sendo relatada pelo deputado Vicente Cândido (PT-RS), e que propõe a mudança do atual sistema eleitoral para o distritão – modelo que permite a aplicação do sistema majoritário para eleição de deputados e vereadores na próxima eleição – e a instalação de um fundo para financiamento público de campanhas.

O texto sofreu várias alterações mediante estratégias da base governista na comissão especial que apreciou a proposta. Os dois últimos trechos são tidos como polêmicos e objeto de várias divergências por parte dos partidos de oposição. O PT em especial, fechou questão contra o distritão.

“Se conseguirmos aprovar o fim das coligações e criar uma cláusula de barreira já teremos um avanço no nosso sistema político e nas discussões sobre a reforma nesta Casa. Não é possível termos 20 partidos no Congresso e outros 10 registrados na Justiça eleitoral. Isso que prejudica o debate político no país. Sou favorável a que continuemos discutindo o tema, fora e dentro do plenário, para aprovarmos o que for possível e viável para a melhoria do país e para que as campanhas se tornem cada vez menos influenciadas pelo poder econômico”, afirmou.

‘Recessão e cortes’

Voltando a falar sobre a proposta de alteração da meta fiscal, Zarattini explicou que a oposição é contra a mudança, ao contrário do que foi observado no governo Dilma Rousseff, porque o governo não está nem sequer modificando sua política econômica.

“A política econômica é exatamente a mesma, uma política de recessão, de cortes, que está afundando a economia brasileira. Isso diminui a arrecadação e leva a um novo buraco nas contas do governo. E o governo pensa em resolver com as privatizações, mas garanto: terá dificuldades para implantar esse plano”, ressaltou.

Para o deputado, a primeira privatização que o Executivo pretende realizar, que é das usinas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), não deverá ser possível, porque o estado de Minas Gerais, segundo ele, “está praticamente em rebelião contra essa venda”.

“No ano que vem, o Executivo pretende pontuar sua estratégia na privatização da Eletrobras, o que é um absurdo, porque significa o aumento nas contas de energia de toda a população. Vamos lutar contra esse momento e contra a política econômica de modo geral, porque está prejudicando o país”, afirmou.

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