retorno à escravidão

‘Deputados empresários aniquilaram direitos trabalhistas’, afirma Ivone Silva

Para a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, reforma é retrocesso histórico. Já o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC crê que são necessárias alternativas ao 'futuro sombrio'

reprodução/tvt

Sindicalistas discutiram o papel da organização dos trabalhadores na atual conjuntura política

São Paulo – “É muito triste ver deputados empresários, apoiados por banqueiros, que aniquilaram nossos direitos”, afirmou a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva. A sindicalista participou hoje (13) do programa Melhor e Mais Justo, da TVT, ao lado do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana. Eles discutiram temas da atual conjuntura política brasileira que envolvem a reforma trabalhista, aprovada na terça-feira no Senado, além dos papeis dos sindicatos no Brasil contemporâneo.

Wagner afirmou que o papel dos sindicatos é de “apontar outro caminho possível para o povo, pois a realidade nos impõe um futuro sombrio pela frente”. O sindicalista ponderou as dificuldades de resistir diante de um cenário adverso, tanto na política quanto na opinião pública. “É difícil contrapor os argumentos neoliberais, porque existe uma mídia comprometida com esse projeto. Muita gente não tem acesso às mídias alternativas. Estamos voltando ao trabalho escravo (…) por um projeto que não foi votado nas urnas.”

Ivone destacou um dos principais pontos da reforma trabalhista, sancionada hoje pelo governo de Michel Temer (PMDB) e apoiada por parlamentares da base e setores da mídia. “Voltaremos ao tempo da primeira Revolução Industrial. A lei autoriza que os contratos de trabalho sejam negociados entre patrão e o indivíduo. Mas em uma situação de desemprego, como isso acontece?”, questionou. “Estão acabando com a Justiça do Trabalho. O trabalhador que entrar na Justiça contra o patrão vai ter que pagar as custas do processo se perder”, disse, em referência a outro ponto da reforma.

“O cidadão está desempregado, sem receber seu salário e seus direitos, porque as empresas terceirizadas podem simplesmente fechar um CNPJ e abrir outra, dando um calote sem que essa outra empresa seja obrigada a pagar esses débitos”, continuou a presidenta. Para Ivone, a precarização nas relações de trabalho “trazem à tona a luta de classes. O trabalhador precisa saber que é trabalhador. Se ele não é patrão, não detém os meios de produção, ele é trabalhador. Nosso grande problema é que muitos trabalhadores estão com a ideologia do patrão”, completou.

Para Wagner, o momento inspira mais críticas ainda pela natureza do governo que está implementando tal projeto neoliberal. “O governo não tem a legitimidade necessária. Primeiro, temos um governo golpista. Segundo, um Congresso eleito mas sem a moral necessária para alterar a vida e as relações de trabalho sem fazer tal discussão com os mais interessados. Somos nós, os trabalhadores, que foram excluídos das propostas. Os empresários que fizeram esse projeto”, disse.

A presidenta do sindicato dos bancários engrossa o discurso contra o governo, que não teve sua agenda eleita pelo voto. “Se dissessem nas urnas que o plano de governo deles seria o desmonte do Estado, ia acontecer o que aconteceu em 2014. Eles seriam derrotados. A população, desde os governos democráticos populares, percebeu a importância de um Estado forte, atuando nas políticas públicas para a população ter seus direitos garantidos. Vimos que isso foi o que deu certo, chegamos ao pleno emprego com essas políticas. É o oposto do que fazem agora.”

Papel dos sindicatos

Diante das adversidades impostas pela agenda Temer, Wagner afirmou que “os sindicatos tem a obrigação de ganhar um novo protagonismo na situação atual. A prioridade está dada. De acordo com dados da Pnad, aumentou o nível de sindicalização, existe uma busca por instrumentos de defesa do trabalhador. Isso, por conta de uma descrença na política, no Congresso imoral, no governo ilegítimo, nas instituições e no Judiciário que faz política com decisões ao arrepio da lei”.

Para Ivone, “os sindicatos sempre foram atores importantes no país e assim vai continuar, junto com os movimentos sociais. Então, tudo que foi implementado nos governos democráticos populares foi porque veio dos movimentos sociais e sindicais. Mesmo o salário mínimo atrelado ao PIB foi exigência sindical. As cotas, o Prouni. Tínhamos um governo democrático com Lula e Dilma, que ouvia os movimentos”.

Assista ao programa Melhor e Mais Justo na íntegra: