Sem disfarce

Deputados da oposição e até governistas acusam Alckmin de tentar comprar votos

Com dificuldade para aprovar projetos de seu interesse na Assembleia Legislativa, o líder do governo ofereceu de forma explícita a liberação de emendas em troca de votos

Fabio R. Pozzebom/ABr

Normalmente com vida fácil na Assembleia, Alckmin tem tido problemas em 2017

São Paulo – Deputados estaduais da oposição e até da própria base do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) acusam o governador de querer “comprar” votos de parlamentares em troca da liberação de emendas. Insatisfeito com o andamento de projetos de seu interesse na Assembleia Legislativa de São Paulo, o líder do governo, deputado Barros Munhoz (PSDB), disse na última terça-feira (20), em reunião do colégio de líderes, que o governo vai liberar na próxima semana até um milhão de reais em emendas. Em troca, porém, quer a votação do projeto que autoriza parcelamento de débitos tributários.

A proposta, entretanto, não foi bem recebida. Parlamentares do PT, PMDB, PSC e PRB se insurgiram e denunciaram na tribuna a intenção de Alckmin em querer comprar votos. Insatisfeitos, alguns deputados disseram que não irão votar os projetos de interesse do governo, independentemente do pagamento das emendas, e definem a proposta como uma ofensa.

Para o deputado Alencar Santana, líder do PT na Assembleia, a maior liberação de emendas para parlamentares da base do governo é algo normal e compreensível. Porém, o modo como o governo agiu essa semana, condicionando abertamente a liberação das emendas à votação de um projeto, é algo que não pode ser visto com naturalidade. “O governo fez isso de uma forma explícita, como chantagem”, afirma.

Semestre frustrado

O líder do PT avalia que o primeiro semestre desse ano foi ruim para o governo Alckmin, que não conseguiu aprovar tantos projetos de seu interesse. Entre eles, o projeto de lei (PL 79/2017), que redireciona verbas da Linha 6 do Metrô para a Linha 5; o projeto (PL 253/2017) que autoriza o parcelamento de débitos tributários; outro que reduz o valor das multas para devedores do Estado (PL 57/2017); e, mais recentemente, o projeto de lei (PL 806/2017), que permite a SP-Previ a participar de fundos imobiliários e vender seus imóveis.

Segundo Alencar Santana, no início “a oposição fez o trabalho praticamente sozinha”, se não derrotando os projetos, ao menos ganhando tempo e estendendo o debate. Na discussão do projeto da SP-Previ, entretanto, parte da própria base do governo começou a obstruir a votação.

“Antes éramos só nós da oposição. Agora há setores da base, como o PMDB e PSC. A coisa deu um atrito”, avalia Alencar Santana, destacando que há um acúmulo de problemas do governo Alckmin com sua base parlamentar. “Tem uma relação que está se desgastando, um acúmulo de coisas, mas com uma parte da base há um problema que para nós ainda não é nítido. O fato é que o governo não conseguiu ter tudo aquilo que gostaria no semestre e foi ficando nervoso.”

Apesar da denúncia de compras de votos, deputados foram chamados ontem (22) para assinar uma parcela da liberação das emendas. A expectativa é que ao menos parte da base aliada se acalme com a ação.