contra as reformas

Com setor de transportes mobilizado, Brasília tem grande adesão à greve

Bancos, escolas, centros comerciais e locais centrais da capital estão completamente parados. Empresas de ônibus e metrô descumpriram ordem judicial de rodar 50% da frota e não rodaram

JORNALISTAS LIVRES

Bastante movimentada em dias normais, a rodoviária de Brasília está praticamente parada

Brasília – O impacto da greve geral de hoje (30) é forte em todo o Distrito Federal desde a madrugada. Lojas e bancos estão fechados, escolas estão vazias e até mesmo locais que diariamente costumam ser corredores de passagem de transeuntes, como a rodoviária, estão com movimentação nitidamente reduzida, num dia atípico.

Todas as empresas de ônibus do DF mantiveram seus ônibus nas garagens, assim como o metrô, que não rodou trem algum, o que contribuiu para a paralisação das atividades. Sem falar que, além das escolas públicas do ensino médio terem fechado as portas, unidades particulares de ensino que anunciaram que iriam trabalhar normalmente nesta sexta-feira, acabaram dispensando os alunos, segundo informações do sindicato da categoria.

A capital do país está tendo, no entanto, desde o início da manhã, manifestações setorizadas em diversos pontos que podem até passar uma ideia de menos protestos em comparação com movimentos grevistas anteriores. 

O setor de Saúde está tendo boa adesão dos profissionais. No Hospital Regional da Asa Norte (HRan), um dos principais de Brasília, médicos e funcionários se organizaram com antecedência e o local está fazendo atendimento apenas no ambulatório. Saindo do ambulatório, só os casos de emergência estão sendo recebidos.

A paralisação é sentida ainda na Universidade de Brasília (UnB), uma das maiores do país, onde funcionários e professores decidiram cruzar os braços, com apoio dos alunos. No total, as categorias que mais aderiram à paralisação foram motoristas, professores, profissionais da área de saúde, vigilantes e trabalhadores da UnB.

A grande surpresa foi a paralisação total das empresas de ônibus e do metrô porque uma decisão judicial publicada ontem exigia que pelo menos 50% da frota passasse a funcionar, mas o argumento das empresas e também do metrô de Brasília foi de que as empresas acharam melhor não colocar nada em funcionamento por questões de segurança e deixar para discutir a questão posteriormente, na Justiça.

O resultado é uma cena insólita no cenário do centro de Brasília, onde acontece a integração principal entre metrô e os ônibus: baias da rodoviária completamente vazias. Muitas lojas, em função disso, quando abertas, funcionando com número reduzido de empregados e prometendo fechar as portas no meio da tarde. Também no trânsito, é nítida a diferença, com aumento do número de veículos e de lotação dos transportes piratas.

Dia é de luta’

O diretor do sindicato dos professores do DF (Sinpro), Cláudio Antunes, que está participando de um ato da categoria na cidade satélite de Taguatinga, lembrou a importância da paralisação, de protestos contra as reformas trabalhista e da Previdência. “O dia é de luta para não perdermos direitos trabalhistas.  Hoje, por exemplo, uma professora se aposenta com 25 anos de trabalho e a nova lei quer acrescentar 10 anos a essa profissão desgastante. Não podemos deixar isso acontecer”, afirmou.

O mesmo espírito foi destacado entre os estudantes. “Estamos aqui, mas não para pedir aulas. Nossa aula hoje é cívica, para gritar Fora Temer, pedir respeito pela democracia, por melhor qualidade do ensino e protestar contra estas reformas que são uma ofensa para os trabalhadores, pedir para que sejam rejeitadas pelo Congresso”, disse a aluna de engenharia civil da UnB, Lourdes Miranda. Lourdes pretende ficar o dia inteiro em frente ao prédio da reitoria da UnB ao lado de um grupo de colegas que carregam  faixas com as frases “Fora Temer”, “Chega de governo ilegítimo” e “Nenhum direito a menos”.

A empregada doméstica, Nádia Rodrigues, moradora de Planaltina, contou que até tentou trabalhar, mas tinha acertado com a patroa ficar até por volta do meio dia no serviço e, em seguida, seguir para alguma manifestação com o marido. Não conseguiu. Além de não encontrar ônibus passando na parada, ela teve medo de pegar um transporte pirata superlotado.

Ainda por cima, Nádia e o marido depararam, perto de casa, com queimas de pneus, colocadas por motoristas por volta das 6h20, na BR-020, próximo ao Setor Mestre D’Armas, na cidade. Os pneus foram uma estratégia dos motoristas de ônibus, para evitar que alguém quebrasse o acordo e furasse o movimento. O casal demonstrou não se importar.

“Falei com minha patroa e ela entendeu. Não é uma questão de parar o trabalho por parar, não se trata de um feriado. O Brasil precisa mesmo desse dia, porque a situação está complicada e precisamos mostrar que nossa contribuição é importante. Não podemos ficar só reclamando sem fazer nada, temos de contribuir e protestar”, disse ela.

Liminares e decisões

Nesta greve geral, o Distrito Federal vive uma situação diferente em termos de liminares e decisões judiciais. Por um lado, a Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) conseguiu uma liminar judicial para que 50% da frota do metrô do DF fosse obrigada a circular. Mas os trabalhadores do metrô se valeram de decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) que garantiu o direito à greve dos trabalhadores do setor.

Ou seja, se por acaso eles sofrerem alguma punição posterior por parte do Governo do Distrito Federal, a questão vai ter que ser resolvida na Justiça, levando em conta a jurisprudência do tribunal.

Também não adiantou muito a tentativa do governo do DF de ameaçar cortar o ponto dos servidores que faltarem ao trabalho. Judicialmente, as categorias poderão argumentar que estes servidores não tiveram transportes para chegar até as repartições onde trabalham.

O resultado da adesão à paralisação ainda não tem condições de ser computado e só sairá no final do dia, mas várias categorias já estão comemorando. “Podem até achar que é uma greve mais silenciosa que o normal, mas do ponto de vista de produção do trabalho, aqui no DF estamos fazendo nossa parte e fazendo bem”, destacou a servidora do Judiciário Rosália Nunes, que participa de um piquete ao lado de colegas em frente ao Conjunto Nacional.

Conforme os panfletos que estão sendo distribuídos em vários pontos de mobilização, como a Rodoviária, a área da Esplanada dos Ministérios em frente à catedral, a UnB e a Praça do Relógio, em Taguatinga, a paralisação tem como foco a saída de Michel Temer do governo e protestos contra a reforma trabalhista e a reforma da Previdência. Mas vários outros itens também estão sendo lembrados. Os grevistas deixam claro que são contrários ao desmonte do serviço público, o fim do programa Mais Médicos, a privatização das empresas estatais e o fim dos concursos, entre outras questões. 

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