'Foi golpe'

Ato pressiona STF a desengavetar processo pela anulação do impeachment

“A devolução do mandato a Dilma Rousseff é importante para o restabelecimento da ordem democrática do país, que vive num estado de exceção desde o golpe de 2016”, dizem organizadores

Movimento Nacional pela anulação do impeachment

Grupo deve sair em passeata ao fim da tarde até a Praça dos Três Poderes, em frente à sede do STF

Brasília – Em manifestação diferente das demais, com muitos banners da ex-presidenta Dilma Rousseff e de Leonel Brizola (líder pedetista morto em 2004), grupos de pessoas de vários partidos, sindicatos e associações reúnem-se hoje (21), na capital do país, para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre um tema que tem sido visto como superado por muita gente. Apesar das principais discussões políticas, atualmente, serem sobre mudança constitucional para convocação de eleições diretas ou por um nome para suceder a Michel Temer por via indireta, esses grupos que estão no ato querem que o STF tire da gaveta e julgue de uma vez os mandados de segurança que pedem a anulação do processo de impeachment de Dilma.

“A presidenta Dilma Rousseff não desistiu de voltar ao cargo, caso contrário ela não estaria fazendo palestras quase todos os dias para denunciar o golpe ocorrido no Brasil em 2016. Não é um gesto de desejo para retornar ao poder e sim de restabelecimento da democracia que nos foi roubada”, afirmou a enfermeira aposentada e militante do PT Edva Aguilar, uma das integrantes do movimento.

Com o apoio de parlamentares, que desde as 12h30 estão se revezando entre o local e o Congresso Nacional para participar dos debates e fazer discursos, eles pretendem sair em passeata, no final da tarde, a partir da rua onde estão com a tenda armada – entre os prédios dos ministérios do Planejamento e da Agricultura – até a Praça dos Três Poderes (em frente à sede do STF).

Mobilizações de 2013

De acordo com os organizadores, em especial o chamado Movimento pela Anulação do Impeachment, o momento é importante por diversas razões. Uma delas é o fato de que quatro anos atrás explodiram em todo o país os protestos de junho de 2013 (no período da Copa das Confederações, que antecedeu a Copa do Mundo de 2014). E, em especial nesta quarta-feira, completam-se quatro anos do discurso feito por Dilma que, de uma forma democrática, chamou os governadores ao Palácio do Planalto e propôs um pacto com várias ações, em atendimento aos pedidos da população.

A segunda razão, segundo afirmou o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, é a instabilidade política em si, observada atualmente. “O país está vivendo um dos seus piores momentos, sem falar que este é o pior momento do governo ilegítimo de Michel Temer”, destacou.

Outro motivo é a lembrança da ruptura que o país viveu em 2016, considerada a mais grave desde a sua redemocratização, que culminou com atos diversos de violência contra as manifestações populares vistas nos últimos meses. O que levou ao decreto de Michel Temer que autorizou o uso das Forças Armadas para conter manifestantes em Brasília, no final de maio, dentro do dispositivo constitucional de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

“Isto aqui é uma ação para tomada de posicionamento no sentido de reivindicarmos o que é de direito dos brasileiros, com a anulação desse impeachment. Um impeachment sem crime foi um golpe que colocou o Brasil num estado de exceção”, acrescentou Pimenta.

Arbitrariedades ampliadas

De acordo com um dos diretores do Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal, Expedito Mendonça, o principal reflexo das mudanças depois do impeachment de Dilma Rousseff tem sido a ampliação das arbitrariedades e a repressão policial, principalmente contra sindicalistas. Mendonça aproveitou sua fala para denunciar que um companheiro de sindicato foi conduzido ontem (20) de forma violenta por policiais militares, na mesma Esplanada dos Ministérios onde eles estão reunidos, enquanto convidava colegas para uma reunião.  

“Ele foi obrigado a entrar à força num carro da PM e levado a uma delegacia com o argumento de que estava num local onde não poderia fazer este tipo de convite. É um absurdo. A Esplanada dos Ministérios não tem dono, é um espaço, desde a sua construção, destinado ao povo, aos trabalhadores do país.” Expedito Mendonça se juntou aos discursos de parlamentares como Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Erika Kokay (PT-DF), para quem o processo de impeachment de Dilma foi uma ação orquestrada das elites e forças conservadoras brasileiras desde a reeleição da ex-presidenta, em 2014.

Edva Aguilar ressaltou que o Brasil já teve um passado histórico marcado por décadas de escravidão e de desrespeito aos trabalhadores e ao povo de um modo geral. “Quando olhamos o passado percebemos que sempre que vimos chegar ao poder um governo progressista, houve também perseguição por parte das elites. Não adianta gritarmos só ‘Fora Temer’, porque a subida de Temer foi apenas a ponta do golpe”.

Para Edva, a importância de se pressionar o Judiciário e reunir a população para pedir a anulação do impeachment se dá pela visão deste grupo de que “o STF é o caminho mais fácil para se conseguir o feito, diante de um Congresso cheio de compromissos espúrios dos parlamentares com os seus financiadores”. “No Supremo, precisaríamos de apenas seis votos para conseguir anular todo o processo e conseguir a volta ao cargo da presidenta para que fique até o final de 2018”, observou.

A manifestação conta com cenas insólitas, em que são observados ao lado dos militantes trajando camisetas vermelhas, várias pessoas de paletó e blasers (no caso das mulheres). Tratam-se de servidores dos ministérios que aproveitam uma saída do trabalho para acompanhar o ato, como é o caso de Cleide Nunes, assistente administrativa do Ministério da Saúde. “Estou  no meu horário de almoço e vim até aqui para prestigiar o pessoal. Talvez não possa ficar o tempo inteiro, mas farei tudo para conseguir acompanhar a passeata no final do dia”, disse.

Realizado de forma pacífica, o evento também tem a presença de dirigentes da executiva nacional do PT, do líder do partido no Senado, Lindbergh Farias (RJ), e da executiva da legenda no Distrito Federal, entre outros deputados e senadores. Há caravanas de pessoas das regiões administrativas do DF e de cidades do interior de Minas Gerais, Goiás e São Paulo. Os chavões principais gritados pelos manifestantes são: “Não ao Golpe” e “Volta Dilma”.

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