politização da Justiça

Senadores classificam Moro como ‘suspeito’ para julgar Lula

'Dizem que o Sergio Moro não é parte contra o Lula, mas as duas revistas que defendem ele colocaram na capa o juiz com as cores do PSDB brigando com Lula', afirmou Gleisi Hoffmann

Francisco Proner / Mídia NINJA

Para senadores, articulação entre Judiciário e mídia comercial contra Lula traz cada vez mais o povo para seu lado

São Paulo – “Dizem que o Sergio Moro não é parte contra o Lula. Como não? As duas revistas que têm editorial alinhado com ele, que defendem ele, colocaram na capa o juiz com as cores do PSDB brigando contra o Lula. É inacreditável”, criticou hoje (10), a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), durante posse da direção municipal do partido em Curitiba. Ela compareceu ao diretório do partido após acompanhar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que presta depoimento na capital paranaense diante do juiz Sergio Moro.

“Se Moro é parte da luta contra Lula, como ele pode julgar? Ele é suspeito”, continuou a senadora. Gleisi reafirmou que a presença de milhares de manifestantes em Curitiba não visa a nenhum tipo de confronto, mas sim “denunciar o desmonte do estado de direito e a criminalização de um dos maiores líderes populares que esse país já viu”. Ao defender a independência da Justiça, Gleisi ponderou que o que não pode acontecer é a condução de processos distante dos preceitos legais. “A Lava Jato está sendo conduzida, desde o início, de uma forma politizada, midiatizada e espetacularizada.”

Ao lado da senadora, seu companheiro de Casa Lindbergh Farias (PT-RJ) recordou do vazamento de conversas entre Lula e a presidenta eleita em 2014, Dilma Rousseff (PT), em março de 2016, meses antes do impeachment. “Quem não se lembra dos fatos dessa operação realizados em conjunto com a grande imprensa? Quando Dilma nomeou Lula como ministro da Casa Civil, o Moro vazou uma gravação dos dois por telefone. Um ato ilegal feito por ele. Uma gravação da presidência da República, algo que só seria possível com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF)”, disse.

RBA
Capas de revistas colocam Moro com as cores do PSDB em ‘luta’ contra Lula

Vanessa Grazziotin, senadora amazonense eleita pelo PCdoB, engrossa o discurso de Lindbergh. “Na época em que Moro divulgou a gravação de Lula e Dilma, entendemos aquilo como uma bomba que viabilizou o golpe. Isso ficou muito claro. O próprio falecido ministro do STF Teori Zavascki, responsável pela Lava Jato na época, disse que Moro tinha extrapolado. Da mesma forma, conduziram o ex-presidente coercitivamente para depor em um aeroporto. É lamentável”, afirmou Vanessa.

Para os senadores, a forma de atuação do Judiciário se repete: como atuou de forma partidária durante o processo de impeachment, agora ataca Lula. “Querem impedir Lula de ser candidato à presidência em 2018. Eles estão com o Judiciário e com a mídia tentando nos desestabilizar. Mas eu proponho uma reflexão. Quando voltarmos ao governo não podemos ter a mesma cabeça. A burguesia rompeu com o pacto da Constituição Federal, então, não teremos a visão da reconciliação. Não vamos negociar com a Rede Globo. Precisamos de um programa de reformas de base e tributação de grandes fortunas”, disse Lindbergh, pensando em um cenário futuro para seu partido.

Para Vanessa, a perseguição a Lula, ao contrário do efeito esperado, está fazendo o ex-presidente crescer. “Hoje, em Curitiba, tem muita gente que veio espontaneamente. Gente que começou a perceber o objetivo de todo o processo. Desde as investigações da Lava Jato até o golpe. Tudo visa a desestabilizar os trabalhadores para viabilizar a agenda regressiva como as reformas trabalhista e da Previdência (…) Mas quanto mais o perseguem, mais ele cresce. Não creio que vão chegar ao ponto de prender o Lula, porque não há provas, não há dólares no exterior, nem contas secretas. A população não vai permitir mais essa injustiça”, disse.

O momento e a presença de apoiadores do ex-presidente em Curitiba representa, de acordo com a senadora Fátima Bezerra (PT-BA), “uma luta histórica de defesa da democracia.” “Querem criar algum mecanismo para evitar que Lula seja candidato à presidência. Ele vem sendo vítima de uma grande injustiça, este homem vem sendo atacado de maneira covarde através de um massacre midiático. Acusações e mais acusações sem absolutamente nenhuma prova. Se durante três anos massacraram o Lula e não conseguiram nada contra ele, não será agora”, afirma.

Os senadores da bancada da oposição são unânimes em apontar os “exageros e a partidarização” da Justiça como um ponto que passa a ficar cada vez mais claro para a população. “O que está em curso é o golpe do golpe. Eles não se contentam em trazer essa agenda de total retirada de direitos, de tirar a Dilma. Tiram empregos, remédios, jovens da escola, autonomia de professores, direitos históricos. Mas o povo precisa acordar e está acordando”, completou Fátima.

Vanessa acredita que os posicionamentos do Judiciário são coordenados com a posição da mídia comercial. “Existe um planejamento, infelizmente. Não é de agora a politização do Judiciário. A direita fez o que fez, porque tinha certeza de que ia vencer a Dilma em 2014 nas urnas. Não conseguiu e, na época, já diziam que apesar de Dilma ter vencido não ia conseguir governar. Foi se configurando o golpe. E um golpe não se garante sem apoio da mídia e do Judiciário. Então, fizeram esse grande consórcio que representa as elites e o interesse do capital para avançar em reformas supressivas de direitos”, finalizou.

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