'Reformas' de Temer

‘Confiei no relator’, diz Paim. ‘Não admito patrulhamento’, responde Ferraço

Senador petista critica mudança de posição sobre tramitação de projeto da reforma trabalhista – segundo ele, feito na confederação da indústria. Para relator, agora a crise não pode paralisar os trabalhos

Edilson Rodrigues/Ag. Senado e Pedro França/Ag. Senado

Paim e Ferraço: projeto “ruim para todos” e vontade de continuar os trabalhos apesar da crise

São Paulo – O anúncio de suspensão da tramitação da “reforma” trabalhista e sua retomada, em um intervalo de apenas quatro dias, foi questionado pelo senador Paulo Paim (PT-RS) durante audiência na Comissão de Assuntos Econômicos da Casa e provocou um início de discussão com o responsável pelo relatório, Ricardo Ferraço (PSDB-ES). “Eu confiei plenamente no relator. Vocês acham que num país sério, com o governo despencando… Digamos que fosse época do impeachment da Dilma, e a Dilma inventasse de mandar uma reforma profunda como esta, o que aconteceria? Este Senado não votaria, não deixaria nem tramitar”, disse Paim, para quem o projeto em discussão é “ruim para todos”.

Segundo o senador e ex-sindicalista, o texto, aprovado na Câmara como PL 6.787 e agora tramitando como PLC 38, tenta “vender” à sociedade que a prevalência do negociado sobre o legislado é algo bom. “É brincadeira, é piada. O mínimo num país como o nosso é assegurar ao trabalhador o que está na CLT. Eu conheço muito bem o movimento sindical e como funciona dentro das fábricas. Quem é que manda dentro da fábrica? É o sindicato, é o trabalhador? É o empregador. Que negociação é essa?”, questionou. “Todo mundo sabe onde esse projeto foi feito”, acrescentou. “Foi num sábado à tarde, na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria), com a presença da Fiesp (federação da indústria paulista).”

Ferraço respondeu a Paim: “Sinto que há um determinado patrulhamento, ou um desejo de patrulhamento sobre a minha convicção própria, que eu a tenho”. Ele afirmou que, de fato, na semana passada teve “convicção” de que o calendário de tramitação deveria ser suspenso, em razão das denúncias envolvendo o governo, mas que reconsiderou sua posição.

“Ontem, cheguei à conclusão de que a crise institucional, que é bruta, que vive o nosso país, não pode impedir que a gente continue fazendo o nosso trabalho aqui no Senado. Há uma crise instalada, mas há uma necessidade de o Senado continuar trabalhando, de continuar produzindo. O Senado não está de recesso”, acrescentou o tucano. “Não vou aceitar qualquer tipo de patrulhamento com relação à minha decisão, sobretudo daqueles que mergulharam nosso país nessa crise econômica”, emendou, sob protestos da oposição.

Para Paim, a reforma é “indefensável”. Ele fez um apelo ao presidente da CAE, Tasso Jereissati (PSDB-CE). “O Senado não é uma casa de carimbar. Como é que vamos aceitar uma ideia de aprovar exatamente como veio da Câmara e deixar que o presidente (Michel Temer) resolva o que ele vai vetar ou não? Vamos primeiro resolver a questão política e depois vamos aprofundar o debate.”

Tasso disse estar “cumprindo rigorosamente” o combinado na semana passada, que era realizar uma audiência pública para discutir o PLC 38. “Nenhum de nós conhece o relatório do senador (Ferraço). Temos ainda um vasto caminho pela frente de debates, de discussões, que nós estaremos fazendo. O momento é gravíssimo, temos uma crise profunda que vai ter desdobramentos, mas isso não impede, pelo contrário, estimula o Senado a prosseguir seus trabalhos para que (a população) não tenha a sensação de que o país está totalmente à deriva.”

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