hipocrisia

Defensor de paralisação e atos contra Dilma, Doria se opõe a greve geral contra reformas

Doria em 2013: 'Greve geral de amanha, pode (sic) ser o teste mais difícil do Governo Dilma'. Em 2017: 'Só quem não quer trabalhar é que vai fazer greve'

Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress

Doria apoia ou critica manifestações populares de acordo com sua concordância com a reivindicação

São Paulo – O prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), manifestou-se severamente nos últimos dias contra a greve geral de amanhã (28), convocada por várias centrais sindicais. Em vídeo postado nas redes sociais, Doria diz que “só quem não quer trabalhar é que vai fazer greve”, para em seguida ameaçar os servidores com o desconto do dia. O prefeito fechou um acordo com as empresas de aplicativo de transporte Uber e 99Táxis para levar os 140 mil servidores municipais aos locais de trabalho. O João Trabalhador, imagem construída na eleição de 2016, ignora, porém, que já foi favorável a uma greve organizada pelas mesmas centrais sindicais, em 2013, quando esta podia prejudicar o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff.

“Greve geral de amanha, pode (sic) ser o teste mais difícil do Governo Dilma”, escreveu Doria nas redes sociais, em 10 de julho de 2013, uma quarta-feira, um dia antes do Dia Nacional de Paralisação convocado por centrais sindicais, entre as quais a CUT e a Força Sindical, que também organizam o ato de amanhã.

Dois anos depois, quando as mobilizações pedindo o impeachment de Dilma ganharam força, o prefeito de São Paulo também fez questão de defender protestos. “Tentar desqualificar as manifestações populares contra Dilma é negar a democracia. Não é elite, não é burguesia. É o povo brasileiro”, escreveu.

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Imagem resgatada no twitter de Doria, quando a paralisação interessa a interesses do PSDB

Agora que a população se mobiliza contra as reformas da Previdência e trabalhista, que liquidam com as leis trabalhistas e dificultam muito o acesso à aposentadoria, Doria mudou de lado. Para ele a maioria da população é favorável às reformas e apenas uma “minoria ruidosa” se opõe. O prefeito abusa da chamada “pós-verdade”, definição para afirmações ou ideias que ignoram a realidade e continuam defendendo determinadas posições.

Pesquisas recentes indicam que a população é majoritariamente contrária às reformas. Segundo o instituto Vox Populi, 93% dos brasileiros são contra a reforma da Previdência. E 80% contra mudanças trabalhistas, como a terceirização universal. A adesão de categorias à greve cresce todos os dias.

Na capital paulista, ônibus, metrô, trens, bancários, metalúrgicos, químicos, servidores públicos, professores estaduais, municipais e da rede privada, comerciários, aeroviários, entre outras categorias já confirmaram que vão parar. Em todo o país haverá paralisação e manifestações contras as reformas.

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Post de Doria no Twitter estimulava paralisações contra Dilma Rousseff

“Quem quer trabalhar participa de greve no sábado, no domingo, de noite, no horário de almoço, mas não durante o trabalho. Primeiro porque não é justa, nem a greve nem a manifestação, e segundo porque somos servidores públicos”, disse Doria. um dos empresários mais ricos da capital paulista acredita que pode dizer o que é justo ou não do ponto de vista dos trabalhadores que terão seus poucos direitos destruídos por uma reforma que passa no Congresso Nacional em ritmo acelerado, sem debate, sem ouvir os brasileiros.

Revoltados, muitos servidores utilizam seus próprios perfis e grupos de colegas de trabalho para responder o prefeito, mas evitam fazê-lo publicamente por medo de retaliação. “Sim, prefeito, gostamos do nosso trabalho e fazemos com muito amor e esforço, porque condições não temos. Mas também queremos ter o direito de nos aposentar um dia, queremos ter férias, queremos dignidade. Nós não temos seu berço de ouro”, escreveu um servidor que prefere não ser identificado.

Com informações de William de Lucca

 

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