Memórias

Livro escrito por filha sobre Genoino será lançado nesta quinta em São Paulo

Obra editada por meio de financiamento coletivo trata da relação da família antes, durante e depois da prisão

Reprodução

Segundo Miruna, Genoino “espera paciente, junto de todos nós, o dia em que seu nome será libertado de vez, e sua história será resgatada pela verdade”

São Paulo – O livro Felicidade Fechada, de Miruna Genoino, será lançado na noite de hoje (16), na ViaTV, no Butantã, zona oeste de São Paulo. Publicada por meio de financiamento coletivo, a obra traz uma narrativa pessoal da filha do ex-deputado José Genoino, falando sobre a trajetória política do pai e as relações da família desde as acusações, a partir de 2005, que resultaram na prisão do militante, e sua liberdade, obtida em 2014. Há outros lançamentos previstos, no dia 29 (no Sindicato dos Bancários do Distrito Federal) e em 3 de maio, no Rio de Janeiro.

Com 240 páginas, o livro traz imagens “políticas e poéticas”. Os manuscritos chegaram a ser recusados em alguns locais, até que a Editora Cosmos propôs uma campanha na plataforma digital Catarse. Os recursos foram obtidos em apenas 11 dias. O valor total, de R$ 90 mil, superou a meta inicial. A solidariedade já havia se manifestado em 2014, quando a Justiça impôs uma multa pela condenação de Genoino: na época, 2.624 pessoas contribuíram para uma campanha de arrecadação. O livro é dedicado a elas.

“Durante o período da decretação da prisão de José Genoino, em 2014, Rioco Kayano, companheiro de José Genoino, tivera a ideia de bordar num grande tecido o pássaro Fênix – aquele que renasce das cinzas – com a frase do poeta Mário Quintana: ‘Todos os que estão a atravancar o meu caminho, eles passarão, eu passarinho‘, citada na carta de renúncia de Genoino ao cargo de assessor do Ministério da Defesa. Homens, mulheres, crianças, idosos, militantes, amigos, pessoas públicas, juntaram-se, na ocasião, bordando pássaros coloridos numa alusão à luta pela liberdade na trajetória política da família”, diz o texto de apresentação do livro.

Cartas

O livro traz a correspondência trocada entre Miruna e o pai. Foram mais de 100 cartas, no período que vai de 3 de maio a 11 de agosto de 2014, quando Genoino deixa um curto período de prisão domiciliar e retorna ao presídio da Papuda, no Distrito Federal. Assim, é retomado um antigo hábito de Miruna e do caçula Ronan Kayano, que quando crianças costumavam escrever cartinhas ao pai. O tom familiar é reforçado com desenhos dos netos Paulinha e Luis, fotos e retratos pintados por Rioco.

Hoje, o que eu mais gostei de ouvir de você foi que o corpo fica preso, mas sua alma jamais. Que a mente nunca pode ficar presa, escreveu Miruna (“Mimi”) ao pai em 9 de julho de 2014.

A apresentação foi escrita pelo agora vereador Eduardo Suplicy (PT), ex-companheiro de Parlamento de Genoino. Segundo ele, Miruna “escreveu um dos mais belos e comoventes depoimentos que já li ao longo de minha vida sobre quaisquer acontecimentos, pessoas ou episódios da História”. Suplicy afirma que durante toda sua longa convivência com Genoino “nunca soube de qualquer palavra ou ação que pudesse significar uma ilicitude, muito menos qualquer ato  de enriquecimento ilícito”.

“Sou também testemunha de como Genoino e sua família sempre tiveram uma vida modesta”, acrescenta Suplicy. “Eis porque considero muito relevante a iniciativa de Miruna Genoino de escrever este depoimento tão bonito e sincero sobre as batalhas que seu pai travou e o verdadeiro calvário por que passou.”

O posfácio é do próprio José Genoino, que conta ter deixado de ser “100% política”, com candidaturas, atuação partidária e participação no governo Lula, para pensar mais na mulher e nos filhos.

“A partir de 2005, tive que fazer uma espécie de retorno revisado do que vivi quando iniciei minha militância política em 1967, e isso desaguou numa mudança, um reajuste da minha relação com a família, com a Rioco, com o Ronan, a Miruna e a Mariana – a filha que mora em Brasília (Mariana é irmã deles por parte de pai). Antes, eu decidia muita coisa, opinava e escolhia, depois, a partir de 2005, tomei a decisão de discutir tudo com eles. Fui jogado num tsunami muito tormentoso, violento, e essa relação familiar foi o barco que me segurou. (…) Agora estou fazendo política de outra forma. Passei a colocar a minha família na política. Conversei com a Miruna, a Rioco, o Ronan, a Mariana, assuntos que não conversava antes porque ficava embalado naquela missão que estava destinado a cumprir. Esse é o sentido de uma militância política.”

Genoino retomou atividades, com discrição. “Não quer mais holofotes, mas espera paciente, junto de todos nós, o dia em que seu nome será libertado de vez, e sua história será resgatada pela verdade”, escreve Miruna.

 

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