pedido de socorro

‘Se não chegarem a um acordo, as pessoas vão começar a deixar o Espírito Santo’

Moradores relatam tensão e medo vividos pela população e responsabilizam governo de Paulo Hartung (PMDB) pelo caos no estado. 'Estamos numa guerra e a TV não retrata a realidade'

Tânia Rêgo/Agência Brasi

Moradora não concorda em colocar o batalhão do Exército para cuidar da segurança do estado. ‘Não estão preparados’

São Paulo – “Estamos numa situação desesperadora. O Espírito Santo está em guerra e o que aparece na televisão não retrata o que está ocorrendo”. Entrevistada hoje (9) pela Rádio Brasil Atual, Érica Baffa da Silva, moradora de Vila Velha, na região metropolitana de Vitória, relata o drama que tomou conta do estado desde que, no último sábado (4), a Polícia Militar capixaba entrou em greve. A corporação reclama do reduzido número de soldados e reivindica reajuste salarial de 43% para recuperar perdas acumuladas em sete anos sem aumento.

Érica conta que a população “acorda amedrontada” todos os dias, receando sair de suas casas. “Os mercados foram saqueados e a gente fica em casa sem mantimento. Estamos sem ir às lojas, escolas, postos de saúde, faculdades e os hospitais estão cheios. O governo precisa resolver isso logo.”

Carlos Roberto Elisei, morador do bairro Jardim da Penha, em Vitória, reforça que os cidadãos estão acuados e afirma que crianças, idosos e doentes são os que mais sofrem com o caos atual. 

Dono de um pequeno restaurante, Carlos conta que seu prejuízo já passou dos R$ 12 mil. “Eu estive hoje lá para ver se conseguíamos abrir, mas não foi possível. Está tudo fechado em volta.”

Exército

Érica discorda de que o Exército tome conta de segurança pública do estado. “A cidade já é perigosa com 10 mil policiais nas ruas. Hoje, não temos ninguém. O governo federal disponibilizou o Exército, mas eles não estão preparados para uma guerra civil.”

A moradora afirma que não vai trabalhar desde a última segunda-feira (6) e que, de lá para cá, muitas crianças foram baleadas. “A gente sai e tem toque de recolher, não conseguimos nos deslocar. Estamos em um estado de insegurança total. O Espírito Santo está em guerra. Não é exagero, é um pedido de socorro. As escolas estão fechadas e tem crianças baleadas nos hospitais. Quem sai de casa é baleado ou assaltado.”

Carlos também não vê preparo adequado do Exército para lidar com o problema, além de considerar insuficiente o número de soldados enviados ao Espírito Santo. “O governo manda irmos para a rua porque já está seguro, mas o número de militares do Exército dá para tomar conta de um jogo de futebol. Além disso, a gente não consegue ver esses soldados aqui. Enquanto eu ia para o restaurante, não vi nenhum.”

Ao todo, são 105 mortes já foram confirmadas pelo Sindicato de Policiais Civis. Entretanto, Carlos afirma que nem todas as regiões estão sendo contabilizadas. “Os noticiários afirmam que ainda não se sabe se tem corpos na periferia ou no interior, porque eles não foram para lá contar. O IML não consegue mais receber corpos.”

Solução

Érica também avalia que falta sensibilidade ao governador Paulo Hartung (PMDB) para lidar com a mobilização dos policiais. “O governo prometeu melhorar a segurança e o armamento dos policiais, mas ele não cumpriu. Nosso governador precisa parar de bater de frente e vice-versa, porque os maiores prejudicados somos nós.”

Está prevista para a tarde desta quinta uma reunião do governo com representantes da PM, para negociar a suspensão da greve. Carlos acredita ser esse encontro “a última esperança”. “A gente não vê uma solução, porque os dois lados, tanto o governo quanto os manifestantes, não sabem negociar. Hoje, só o secretário de Direitos Humanos, Júlio César Pompeu, que é uma pessoa mais tranquila, pode ajudar na negociação, porque o secretário de Segurança (André Garcia) e o governador ‘perderam a mão’. Se nada for resolvido hoje, tenho certeza que parte da população vai começar a deixar o Espírito Santo.”

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