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Governo do ES foi insensível com policiais e situação pode piorar, alerta oficial da PM

Especialista em segurança, Adilson Paes de Souza afirma que reivindicações dos policiais do Espírito Santo, que não pedem só salários, são legítimas e que sem diálogo não há solução

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Forças nacionais atuam nos efeitos e não têm condições de lidar com as causas da crise de segurança no Espírito Santo

São Paulo – Tenente-coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo, Adilson Paes de Souza considera legítima a greve de policiais militares do Espírito Santo. Ele afirma que a situação não eclodiu da noite para o dia e que sem diálogo não há solução. Até mesmo a participação de militares do Exército e da Força Nacional é apenas paliativa, segundo ele. “Como boa parte da população, vejo com muita preocupação e com temor de que a situação possa piorar ainda mais”, afirmou, em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã de hoje (9). 

“Pelo que tenho acompanhado, é legitima a reivindicação dos policiais. A pauta não é apenas por melhoria salarial; estão relatando falta de condições para o trabalho, como falta de colete, de combustível, viaturas precárias. É uma pauta ampla. Essa insatisfação não ocorreu da noite para o dia. Houve insensibilidade e inabilidade na condução desse problema. Não adianta falar que houve chantagem, que não vai negociar. É preciso negociar”, afirma Paes de Souza, que também é mestre em Direitos Humanos pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Sobre o envio de forças federais, o especialista diz que “dada a gravidade da situação e a ausência de agentes de segurança nas ruas, é uma medida salutar, mas não muito eficaz”, porque trata-se de uma ação de emergência, que vai atuar nos efeitos da crise, e não nas causas. Paes de Souza afirma que tem recebido relatos de policiais militares insatisfeitos, por todo o país, que se queixam da desvalorização, que também afeta outras categorias do funcionalismo público. Mas, segundo ele, a situação dos policiais é mais crítica, pois, conforme a Constituição, eles são proibidos de realizar greves e se organizar em sindicatos. 

“Eles não têm como se fazerem ouvir. Num Estado democrático de direito, as controvérsias devem ser resolvidas no diálogo, não na força. Força é só para última instância, mas parece que não houve diálogo. Essa é a questão”, afirma o militar. 

Segundo ele, um dos únicos canais de diálogo possíveis seria com os parlamentares, que vêm se ausentando da situação. Ele afirma que os deputados da chamada “bancada da bala”, em vez de incitar a violência, deveriam visitar o estado para fazer uma radiografia da situação, identificando suas causas. 

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