Entrevista

Bandeira de Mello: manifestações contra Marisa Letícia são ‘típicas de uma escória’

Para jurista, 'escória' é representada pela classe média alta. Ele se diz pessimista com o Brasil e atribui o motivo ao Judiciário, simbolizado por Sérgio Moro, 'um suposto juiz', segundo ele

Reprodução/Youtube

Sobre caso Moreira Franco: “Você sabe que uma coisa é quando é para a direita, outra é quando é para a esquerda”

São Paulo – Os ataques à ex-primeira-dama Marisa Letícia e manifestações de pessoas que “comemoraram” sua morte, ocorrida ontem (2) em São Paulo, são coisas típicas “de uma escória, de uma ralé”. “A classe média alta é constituída por uma escória. As pessoas não suportam a evolução de uma pessoa de origem modesta.” A opinião sobre as manifestações recentes não só contra Marisa, mas também dirigidas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é do jurista Celso Antônio Bandeira de Mello.

Ele disse à RBA estar “muito pessimista” sobre o Brasil, “porque quando o Judiciário não vai bem, nada vai bem”. A principal referência da atual situação do Judiciário é o juiz Sérgio Moro, de acordo com Bandeira de Mello. “Existe um homem que faz o que bem entende, que desrespeita a Constituição diariamente e ninguém faz nada. O Supremo não faz nada. Aquele homem do Paraná, um juiz que não respeita a Constituição.”

O jurista lembra um termo utilizado pelo então relator da Lava Jato, Teori Zavascki, morto em acidente de avião no dia 19 de janeiro, sobre o tratamento dado a presos pela operação Lava Jato. “O próprio ministro que morreu disse que era um tratamento medieval (aos presos) que era dado lá.”

Em voto no qual foi acompanhado pela maioria da Segunda Turma em 28 de abril de 2015, Teori concedeu habeas corpus a nove acusados da Lava Jato, para que respondessem em liberdade. No voto, Teori argumentou que seria “extrema arbitrariedade” manter a prisão preventiva considerando apenas a possível interferência da liberdade no fechamento de um possível acordo de colaboração premiada. “Subterfúgio dessa natureza, além de atentatório aos mais fundamentais direitos consagrados na Constituição, constituiria medida medievalesca que cobriria de vergonha qualquer sociedade civilizada”, afirmou o ministro relator (leia aqui).

Para Bandeira de Mello, Moro “é um suposto juiz”.

Como o sr. comenta os ataques a Lula e a Marisa Letícia, feito por pessoas que chegam a comemorar a morte da ex-primeira-dama?

Evidentemente, são bandidos que fazem isso. Pessoas que não têm sentimentos. Só assim para fazer um ataque à dona Marisa. As pessoas não suportam a evolução de uma pessoa de origem modesta. É isso. A classe média alta é constituída por uma escória, uma ralé. Pra mim, que esse tipo de gente se manifeste dessa maneira é muito típico de uma escória, de uma ralé.

Curioso que estamos num país cristão, onde muitas pessoas que fazem isso se dizem cristãs…

Supostamente cristãs.

Como vê o caso de Moreira Franco, nomeado ministro para, segundo a oposição, escapar da Lava Jato, caso semelhante ao de Lula, que foi impedido de ser ministro pela argumentação de que seria uma manobra para ter foro privilegiado?

Bom, mas você sabe que uma coisa é quando é para a direita, outra coisa é quando é para a esquerda. Não há nenhuma imparcialidade. Então essas coisas acontecem.

O sr. está otimista com o Brasil?

Não, muito pessimista.

Por que?

Porque quando o Judiciário não vai bem, nada vai bem. E eu acho que o Judiciário não vai bem. Existe um homem que faz o que bem entende, que desrespeita a Constituição diariamente e ninguém faz nada. O Supremo não faz nada. Aquele homem do Paraná, um juiz que não respeita a Constituição. Se você olhar para a Constituição está dito que o prisioneiro tem direito de ficar calado. Fica calado, aí continua preso. Então evidentemente que não é respeitar o direito dele. O próprio ministro que morreu disse que era um tratamento medieval que era dado lá. E era mesmo.

O sr. se refere ao juiz Sérgio Moro?

Ao Moro, sem dúvida. É um suposto juiz, não é?

Qual sua opinião sobre o ministro Luiz Fachin ter ido da Primeira para a Segunda Turma do STF e em seguida ter sido sorteado como relator da Lava Jato?

Era uma opção. O Fachin tinha o direito de optar e optou, e o sorteio caiu nele. Não vejo nenhum problema nisso. Ele não é mau ministro, não. Já imaginou se tivesse caído com aquele homem do Mato Grosso (Gilmar Mendes)? Aí é que era uma desgraça.