‘Alexandre de Moraes elegeu os presos como inimigos número um’, diz ex-conselheiro
Advogado que integrava o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), critica 'filosofia autoritária' do ministro e diz que se não houver mudanças, mais sangue vai ser derramado
Publicado 26/01/2017 - 10h01
São Paulo – Um dos conselheiros que ontem (25) se demitiram do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), Hugo Leonardo, que é advogado e vice-presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), critica o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, pela agravamento da crise nos presídios, em especial no norte do país.
Segundo ele, a concepção adotada pelo governo federal, que ele chama de “filosofia autoritária”, não vai resolver os problemas do país apenas com o uso da força. Ao considerar a adoção até mesmo das Forças Armadas contra os presos, Hugo Leonardo afirma que o ministro da Justiça elegeu a população carcerária como “inimigos número um” do país.
Hugo Leonardo e outros seis conselheiros do CNPCP se demitiram ontem (25) em protesto contra a maneira como o ministro Alexandre de Moraes elaborou o Plano Nacional de Segurança Pública, que reúne itens com os quais não concordam. E, também, devido à portaria publicada ontem, que criou novos cargos no órgão.
O advogado, que deu entrevista por telefone ao Seu Jornal, da TVT, disse que se a política de segurança nacional não der uma guinada, o país verá rolar mais sangue:
“Espero verdadeiramente que aja uma guinada em sentido oposto às políticas criminais propostas pelo ministério da Justiça. Não vejo outra alternativa a não ser que o presidente da República, Michel Temer, reveja essa postura, porque, definitivamente, teremos muito, muito, muito sangue a correr ainda caso essa política se perpetue, com essa opção absolutamente equivocada de que mais força e maior truculência resolverão os problemas penitenciários e sociais do país.”
Segundo ele, as tentativas de mudanças no regimento do CNPCP, com a criação de novos cargos, tinham como objetivo garantir que Alexandre de Moraes tivesse carta branca para nomear conselheiros “alinhados com essa filosofia autoritária e truculenta”.