IMPEACHMENT

Renan divulga carta para explicar descontrole com Gleisi

Presidente do Senado diz que anteriormente enviou petições ao STF para defender a senadora e que as intervenções que faz na sessão são impessoais

Marcelo Camargo/Abr/fotos públicas

Renan estaria enfurecido com a frase usada por Gleisi ontem, ao dizer que ‘senador nenhum tinha moral para julgar o impeachment’

Brasília – O Senado Federal divulgou na tarde de hoje (26) nota oficial assinada pelo presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), onde ele tenta se explicar sobre o episódio que protagonizou esta manhã, quando desceu da mesa diretora para apaziguar os ânimos e terminou provocando uma briga maior ainda, por meio de bate-boca com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Renan afirma, no documento, que lamenta as recorrentes provocações observadas pelos parlamentares no plenário durante a sessão do impeachment.

Ele diz que as intervenções feitas pelo Senado junto a outros órgãos são “impessoais, transparentes, e ditadas pelo dever funcional no intuito de defender a instituição e as prerrogativas do mandato parlamentar”.

As palavras têm o objetivo de esclarecer em que termos Renan tentou interferir junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) em caso referente a denúncias contra Gleisi Hoffmann. No documento, ele lembrou que agiu de forma “institucional e não pessoal”, mas citou petição enviada em maio ao tribunal, na qual reclamou de práticas usadas pela Polícia Federal em ações de busca e apreensão na casa da senadora. Renan também afirmou que uma segunda reclamação encaminhada teve como tema o pedido de indiciamento da parlamentar feito pela PF e objetivou lembrar da questão da imunidade parlamentar.

Na nota, de forma lacônica, Renan não dá detalhes maiores sobre os dois documentos, apenas se explica e diz que busca agir, sempre, com isenção. Embora o intuito principal das entrelinhas tenha sido amenizar o clima de divergência com a senadora – que é ex-ministra, considerada uma das principais defensoras da presidenta Dilma Rousseff e recebeu o apoio de vários colegas – a intenção do senador também foi desfazer outros arranhões. Uma vez que ele terminou irritando vários parlamentares, ao dizer que o Senado estava se transformando em “circo”, “casa de loucos” e “espetáculo de horrores”.

“A impressão que o Renan nos passou foi que ele quis acabar com o circo ou com o hospício ao qual se referiu, mas estava calado por tanto tempo e inquieto que quando desabafou, se descontrolou. Assim, quem terminou agindo como palhaço e louco terminou sendo ele”, disse em tom irônico, Lindbergh Farias (PT-RJ). Em público, o clima no Senado não é exatamente de troca de amabilidades, mas de maior ponderação no momento de os parlamentares se pronunciarem.

Entre pessoas próximas ao senador, o acirramento do tom das palavras de Renan Calheiros nesta manhã decorreu de dois fatores específicos. Primeiro, o fato de ele ter ficado enfurecido com a frase usada por Gleisi Hoffmann ontem, generalizando o Senado como um todo, ao dizer que “senador nenhum tinha moral para julgar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff”. De acordo com um assessor dele há mais de dez anos, Renan tinha descido com a intenção de falar de forma branda, “mas não se conteve”. “

A senadora Gleisi, entretanto, não se pronunciou a respeito e tem evitado dar declarações sobre o episódio. Enquanto parlamentares contrários ao impeachment acreditam que, agora, o presidente do Senado encontrou um argumento forte para votar pelo afastamento de Dilma, tema sobre o qual, segundo eles, Renan vinha se mantendo “em cima do muro” nos últimos dias. O presidente da Casa tinha até aventado a possibilidade de usar da prerrogativa que tem de não votar (o que fez na apreciação da pronúncia da denúncia). Ele jogou um jogo muito bem preparado”, chegou a reclamar um petista.

Já entre alguns peemedebistas ligados ao presidente interino, que reclamam da postura de Renan Calheiros por não ter se assumido como apoiador direto de Michel Temer até hoje, o ambiente passou a ser de satisfação. Integrantes deste grupo, entre peemedebistas e deputados e senadores de outras siglas, avaliaram que, mesmo tendo jantado com Temer no início da semana e tendo sido convidado e confirmado participação na viagem à China com o presidente provisório e integrantes do Executivo, para participação da reunião do G-20, na próxima semana, a posição mais calada do dirigente do Senado era considerada desconfortável. “Isso vinha incomodando o Palácio do Planalto”, disse um líder partidário.

Pedido de Suplicy

Outra carta que foi distribuída no Senado nesta tarde foi do ex-senador Eduardo Suplicy. Senador por quase 20 anos, integrante do PT, Suplicy pede, no documento, aos ex-colegas, que avaliem suas posições e votem contra o impeachment da presidenta Dilma, em nome das lutas já travadas na Casa, em defesa do país e para que não haja afronta aos princípios constitucionais e democráticos.

O indiciamento na Justiça, divulgado no início da tarde, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da sua esposa, Marisa Letícia, foi outro tema que provocou conversas de bastidores entre senadores petistas e integrantes da base de apoio a Michel Temer. Mas foi propositadamente deixado de lado nas discussões, durante momentos de descanso do plenário.

Em reservado, o entendimento dos senadores contrários ao impeachment foi que a iniciativa consistiu em mais um golpe de setores do Judiciário para desestabilizar as estratégias dos parlamentares que atuam para derrubar o processo nestes últimos dias de sessão. Mas concordam entre si que o melhor é não se falar no tema durante os trabalhos, ao menos por enquanto.

Já entre os aliados da base de Temer, o discurso defendido pelo grupo é de que vão respeitar o acordo feito no início da tarde para evitar novas discussões e para não fugirem mais do foco dos trabalhos, evitando dar pretextos aos adversários.

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