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Temer mantém ministros que têm problemas com Justiça

Henrique Eduardo Alves (Turismo), Fátima Pelaes (secretária de Políticas para Mulheres) e Fábio Medina Osório (advogado-geral da União) eram cotados para deixar governo interino

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Alves, Fátima e Osório levaram mais desgaste ao governo de Michel Temer

Brasília – Embora sejam grandes as expectativas sobre quedas de novos ministros do governo interino de Michel Temer, ele decidiu hoje (6) que vai manter Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Fábio Medina Osório (advogado-geral da União), assim como a secretária de Políticas para Mulheres, Fátima Pelaes. Os três vinham sendo considerados “na corda bamba” e tidos como os próximos a deixarem o Executivo nos próximos dias, por motivos diversos. Alves e Fátima foram citados em investigações do Judiciário. Osório usou de práticas que provocaram insatisfações no Planalto. O entendimento do presidente interino, no entanto, foi de dar um tempo a mais para o trio.

A dúvida foi motivo de conversas e especulações diversas durante o final de semana e esta manhã, principalmente por conta da situação de Henrique Alves. Isso porque o ministro do Turismo teve seu nome citado em um documento encaminhado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), como um dos recebedores de propina da Petrobras no processo contra o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A saída de Alves, considerado como um dos próximos a também se tornar réu pelo STF, teria sido costurada durante reuniões da base do governo no último final de semana, entre políticos aliados do governo interino.

Durante uma entrevista curta, concedida a uma rádio gaúcha, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, lembrou que Michel Temer avisou a todos, durante a primeira reunião ministerial, que ao convidar os integrantes do seu primeiro escalão teria conversado com cada um sobre possíveis envolvimentos com o Judiciário e deixado claro que quem viesse a ter problemas maiores, teria de deixar o cargo.

“Não precisa ser nenhum menino para entender o que o presidente quis dizer e que, neste caso, fica difícil a situação do ministro (Henrique Alves)”, afirmou Padilha. A declaração foi tida como uma espécie de recado de Temer – que tem Padilha como um dos principais interlocutores – para que o ministro do Turismo peça para sair do cargo.

Entre integrantes do PMDB no Congresso, no entanto, já tinha sido especulado se não valeria mais a famosa frase dita por vários caciques do partido, como o senador e ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (RR), de que “ser investigado e ser réu num processo não demonstra a culpa do político, o que demonstra a culpa é a sentença transitada em julgado que o condenar”. Que, a princípio, foi o entendimento que prevaleceu.

Além de tudo, Alves tem ao seu favor, o fato de ter sido um dos primeiros a romper com o governo de Dilma Rousseff e a apoiar Michel Temer. Temer também ficou de conversar com Fábio Medina Osório sobre como quer que sejam feitos os trâmites da AGU e a sintonia do trabalho lá realizado com as ações do Palácio do Planalto.

Desconforto no Planalto

Segundo informações divulgadas pela imprensa durante o final de semana e confirmadas por parlamentares no Senado, seriam três os motivos do descontentamento do Planalto com Osório. Primeiro, ele tentou dar o que se chama de “carteirada” no hangar da Força Aérea Brasileira (FAB) ao chegar lá dizendo que era ministro e precisava de todo jeito de um avião, o que causou desconforto e levou oficiais da aeronáutica a reclamarem oficialmente dele.

Depois, o ministro viajou para um evento no Paraná no dia em que saiu decisão do Judiciário refazendo o ato que tinha trocado o presidente da EBC. Ele não estava em Brasília para despachar com Temer sobre o caso, mesmo sabendo que poderia sair decisão a respeito – o que teria irritado o presidente interino e vários integrantes do primeiro escalão.

E em terceiro lugar, Osório foi censurado pelos colegas por ter aberto um pedido de sindicância contra seu antecessor, José Eduardo Cardozo, sem ter pedido autorização à equipe de articulação política, que considerou desnecessário o gesto.

Já Fátima Pelaes, tida como a mais próxima a deixar o governo, na última sexta-feira (3), foi a primeira a receber a confirmação de que permaneceria no cargo. Ela foi citada pelo Ministério Público Federal como integrante de uma articulação criminosa para desviar recursos de emendas parlamentares do período em que foi deputada federal.

Fátima disse que apesar de estar sendo investigada pela operação Vaucher, da Polícia Federal, está tranquila, não cometeu atos ilícitos e confia nas apurações em curso pela polícia e no Judiciário. Segundo pessoas próximas ao presidente interino, como Fátima se justificou no mesmo dia em que foram divulgadas as denúncias e afirmou que não está envolvida no caso e que ainda não foi julgado processo, Temer decidiu mantê-la no cargo ainda no final de semana.

Segundo a deputada Erika Kokay (PT-DF), que integra a bancada feminina da Câmara, como se não bastassem as opiniões da secretária de mulheres, chamadas por ela de “fundamentalistas” (como declarações de que é contrária ao aborto mesmo em caso de estupro) e seu distanciamento das políticas públicas para a área, ainda por cima estas últimas denúncias e a investigação do Ministério Público transformam em “acinte” a sua manutenção no cargo. Erika ressaltou que a bancada vai questionar formalmente a nomeação de Fátima Pelaes em várias instâncias.

“É um acinte à luta histórica das mulheres deste país, que conquistaram esse espaço com muito sangue, suor e lágrimas. E se já não bastasse o fundamentalismo com que trata as questões de gênero, ferindo a legislação vigente e a laicidade do Estado garantida pela Constituição, também é acusada de peculato. Vamos questionar a nomeação dela no Ministério Público e na Comissão de Ética da Presidência da República”, afirmou a deputada.