eleições indiretas

Dilma: ‘Cunha é o pecado original do impeachment’

Durante abertura da 12ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, a presidenta defendeu a legitimidade de seu mandato e atacou o presidente da Câmara

Valter Campanato/ Agência Brasil

Dilma: ‘ Eu não tenho contas no exterior. Jamais usei dinheiro público para me beneficiar’

São Paulo – “Sabemos que o processo de impeachment tem um pecado original. Esse pecado é o presidente da Câmara”, afirmou hoje (27) a presidenta Dilma Rousseff, sob o coro de “Fora, Cunha” dos presentes na abertura da 12ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, que deve reunir 6 mil pessoas em Brasília até sexta-feira (29). Mesmo antes da fala de Dilma, os presentes entoavam palavras de ordem contra o processo de afastamento da presidenta, em tramitação no Senado.

Dilma argumentou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), promoveu um “jogo escuso” na abertura do processo, que foi acolhido em plenário por maioria absoluta no dia 17. “Ele (Cunha) propôs para o governo tirar os votos contra sua cassação no Conselho de Ética para não abrir o processo de impeachment. Ora, um governo que aceita isso é um governo que apodrece, por isso, recusamos a negociação”, disse.

Os ataques direcionados a Cunha prosseguiram. “O presidente da Câmara, que tem acusações e processos no Supremo Tribunal Federal (STF), abriu o processo. Eu não tenho contas no exterior. Jamais usei dinheiro público para me beneficiar. Não sou acusada de corrupção”, afirmou. De acordo com Dilma, a ausência de provas para tentar derrubar o seu governo acabou forçando os opositores a “arranjarem uma acusação frágil”.

“Me acusam de ter práticas contábeis incorretas. Para me beneficiar? Não”, afirmou a presidenta. Dilma seguiu com uma explicação sobre as acusações de abertura de créditos suplementares sem consulta ao parlamento, um dos objetos de seu pedido de impedimento. “Garantimos direitos sociais e recursos a hospitais públicos. Sempre foi feito isso, desde 1994, mas na minha vez, é crime. Por quê? Porque não têm nada contra mim, então, inventam”, disse.

A presidenta reforçou a importância do diálogo e de conferências nacionais para discutir temas pertinentes aos direitos humanos, e ressaltou a importância da democracia para a manutenção de conquistas. “O que está em questão (no impeachment) são os direitos de vocês”, disse, quando parte dos presentes reivindicara a assinatura da regularização do nome social para a população trans. “Vamos discutir essa questão”, respondeu. “Eles não vão. Eles jamais farão uma legislação para garantir direitos da população LGBT.”

“A democracia tem disso, o direito absoluto de reivindicar. E eu vou lutar até o fim para garantir que a democracia seja respeitada. Este impeachment é falso, ele é um processo de eleições indiretas (…) nós lutamos pelas Diretas Já. Foi uma longa trajetória, portanto, não vamos deixar que encurtem o caminho das eleições diretas”, disse.

Dilma ainda afirmou que a conferência deste ano deve apresentar um balanço das conquistas voltadas aos direitos humanos dos últimos 13 anos. “Direitos sempre são conquistas e a luta implica reivindicação.” A presidenta cumprimentou o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ), que deve participar da conferência. Neste momento, os presentes entoaram “Bolsonaro, vou te dizer. Eu também cuspo em você”, em referência à tentativa de cuspe de Wyllys no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) durante votação do impeachment na Câmara, onde o parlamentar “homenageou” o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Leia também

Últimas notícias