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Debate em São Paulo amplia discussão sobre influência política da mídia

Franklin Martins, André Singer e Bernardo Kucinski discutem conjuntura política e influência dos meios de comunicação nas eleições de 2014 e nas que virão, em 2018

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Bernardo Kucinski e seu novo livro: lançamento com debate sobre democratização da mídia

São Paulo – O lançamento do livro Cartas a Lula, do cientista político Bernardo Kucinski, ontem (4), em São Paulo, foi o pretexto para um debate sobre a conjuntura política atual do país e o papel e influência da mídia nas eleições de 2014 e o que se pode esperar dela para o pleito de 2018.

A mesa reuniu o próprio Kucinski (ex-assessor da Presidência da República no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva), o também cientista político André Singer (ex-porta-voz da Presidência da República no mesmo governo), o jornalista Franklin Martins (ministro-chefe da Secretaria de Comunicações de Lula), além do advogado Joaquim Ernesto Palhares (diretor do site Carta Maior) e o ex-candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL, Gilberto Maringoni.

Para Kucinski, a mídia distorce o tema  da corrupção na Petrobras e, em consequência disso, é passada uma visão distorcida à população.”Precisaria explicar como começou a corrupção na Petrobras, porque (a ideia de corrupção, pela abordagem da mídia) ficou atrelada ao petismo. Mas a corrupção existe há décadas”, disse.

André Singer minimizou a capacidade de a mídia influir no processo eleitoral. “Não tenho convicção sobre o papel da comunicação (como indutora de vantagem político-eleitoral aos setores conservadores da oposição). Se fosse tão fundamental, (o PT) não teria vencido as eleições de 2006, 2010 e 2014. Não nego a importância da comunicação, mas não dou a mesma centralidade que os companheiros”, pontuou.

Franklin Martins relativizou o clima pessimista disseminado entre setores da esquerda e movimentos sociais, que se sentem “traídos” pelas medidas adotadas pela presidenta Dilma Rousseff, como a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e a difícil concretização de reformas urgentes. “Precisamos, mais dia, menos dia, enfrentar questões políticas como a democratização dos meios de comunicação e a reforma política. Acho extremamente importante que estejamos aqui, tendo ganho as eleições. Porque (pelo clima que se estabeleceu entre as pessoas do campo progressista) parece que perdemos. Mas se tivéssemos perdido as eleições, estaríamos agora discutindo como evitar que se entregasse o pré-sal (aos Estados Unidos), ou que acabasse o regime de partilha (modelo introduzido pela Lei n° 12.351/2010, pelo qual a produção de um determinado campo de petróleo é compartilhado pelo consórcio vencedor do certame e pela União).

Na opinião de Martins, o país corre risco de retrocesso, mas as conquistas sociais proporcionadas pelos governos petistas dificultam essa reação, por terem “fincado raízes”.

Palhares, da Carta Maior, disse que o Brasil perdeu a oportunidade de fazer uma reforma que democratizasse a posse e o acesso aos meios de comunicação. “Fica um gosto amargo de derrota por não termos constituído um veículo (de comunicação pública) para combater o monopólio das comunicações”, afirmou.

Para Franklin Martins, no entanto, “não cabe ao governo criar veículos de imprensa, cabe à sociedade e aos partidos”.

Ainda segundo Palhares, a mídia tradicional, desde o primeiro mandato de Lula, tenta moldar a opinião pública agressivamente, o que poderia ter levado setores conservadores da sociedade ao poder já em 2014. “Tenho receio de que as próximas eleições estejam perdidas, se algo não for feito.”

Direto e reto

Em Cartas a Lula – O Jornal Particular do Presidente e Sua Influência no Governo do Brasil, Bernardo Kucinsk reúne uma seleção dos textos produzidos entre os anos 2003 e 2006, período em que atuou como assessor especial de Comunicação da Presidência da República, no primeiro mandato do presidente Lula.

Escritos pelo autor e entregues em envelopes fechados diariamente ao presidente na primeira hora do dia, os textos comentavam de forma direta e crítica os principais temas então veiculados pela mídia e que mostraram ser decisivos para a conjuntura econômica e social do país.

A criação do Fome Zero, a política de valorização do salário mínimo, o estouro do que veio a ser o chamado escândalo do mensalão são alguns dos episódios abordados. Em matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, Kucinski revela que a área econômica – então representada pelo ex-ministro Antonio Palocci – era o assunto sobre o qual mais debatia com Lula. “Desmontava uma a uma as falácias neoliberais”, escreveu, referindo­-se aos argumentos contra a elevação do salário mínimo.

O livro desperta interesse por ser um testemunho de quem viveu de perto e no centro do poder durante os primeiros anos de governo de Lula e do PT.

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