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Em ano pré-eleitoral, parlamentares ficam em polvorosa com visita do papa Francisco

Deputados e senadores vibram com possibilidade de encontrar ou tirar uma foto com o Pontífice. Ruralistas querem pedir enquadramento de missionários que atuam em defesa de indígenas

Antonio Lacerda/EFE

Se a estátua no Rio já chama atenção, a chegada do papa em carne e osso aumentará a animação

Brasília – Enquanto ainda se repercute a agenda legislativa impulsionada pelas manifestações de junho no Congresso, deputados e senadores correm por fora para agilizar uma outra agenda, tida como de bastante utilidade e apelo eleitoral para eles, sobretudo em ano de véspera de eleições: a de encontros para fotos, cumprimentos e possíveis audiências com o papa Francisco, que chega ao Brasil na próxima semana para a realização da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.

O evento está programado para o período de 23 a 29 de julho e já foram solicitados, até mesmo, encontros reservados à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Os motivos passam tanto por conversas sobre a interferência de entidades católicas em determinados temas da vida nacional – caso da política indigenista como também por assuntos de repercussão entre os devotos, como a revisão do processo que resultou na expulsão do Padre Cícero Romão Batista, do Ceará, pela Igreja Católica em 1916.

Neste último caso, a audiência foi solicitada pelo líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE) – que inclusive teve o apoio da Presidência da República, uma vez que o próprio secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, interviu para que o encontro fosse programado pelos organizadores da Conferência. O objetivo é discutir com o papa a revisão de processo instaurado há sete anos pelo Vaticano sobre o Padre Cícero. Tido como santo popular entre os brasileiros, o religioso, do município cearense de Juazeiro do Norte, foi excomungado há quase 100 anos mediante acusação de desobediência e heresia depois que uma beata declarou ter recebido por ele, durante missa, uma hóstia que se transformou em sangue.

O pedido está sendo esperado com expectativa pelos nordestinos e, sobretudo, cearenses. “A população do Nordeste e muita gente que hoje mora em outros estados brasileiros e tem devoção pelo Padre Cícero anseia por resgatar a verdade sobre esse religioso, que a cada ano é cultuado por mais de 2 milhões de fiéis apenas em Juazeiro do Norte”, destacou Guimarães.

Outra solicitação especial de audiência foi feita pelos membros da Frente Parlamentar da Agropecuária. Representantes da Frente querem se queixar com o Papa Francisco sobre a atuação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no País, mas a audiência não foi confirmada. De acordo com um dos integrantes do grupo, o assunto pode ser considerado “ácido” demais para ser tratado com o pontífice.

A irritação dos deputados e senadores da frente com o Cimi, que é vinculado à CNBB, se deu por terem considerado que a entidade incentiva conflitos no campo, ao defender a ocupação de determinadas áreas consideradas reservas indígenas sem fazer uso de um critério técnico. O ponto culminante dessa crítica, que vem de anos, foi observada com a invasão de uma propriedade no Mato Grosso e a morte de dois índios no local em maio passado – criando uma crise que resultou, inclusive, na mudança da presidência da Funai.

‘Líder mundial’

Embora as audiências ainda não tenham sido confirmadas, o que se tem de concreto é a intenção do papa Francisco, já divulgada pela CNBB, de falar em seu discurso sobre as manifestações observadas nos estados brasileiros, realizadas em sua maior parte pelos jovens. O papa, de acordo com a entidade, já teria inclusive declarado, sobre as passeatas e atos de protesto nas cidades do país que “o fenômeno envolve todo o povo brasileiro e desperta para uma nova consciência”.

Não se sabe se o assunto será tratado pelo papa diretamente com os deputados e senadores, mas o entusiasmo dos parlamentares, quando se comenta sobre a possibilidade do encontro, tem sido nítido nesses dias que antecedem a visita, como é o caso do senador Pedro Simon (PMDB). Muito religioso e conhecido pela sua fé, Simon disse acreditar que Francisco  pode vir a se firmar como “um novo líder mundial”.

“Minha intuição diz que pode nascer algo a partir de uma grande idéia, que começa no Rio de Janeiro, a ser aceita pelo mundo. O papa Francisco pode iniciar uma movimentação, não no sentido apenas de aumentar o número de cristãos ou e se preocupar com a redução do catolicismo, mas por se firmar como algo mais expressivo entre a população”, acentuou o senador.

Comissões e designações

No Senado, foi instituída desde maio uma comissão para representar a Casa nas solenidades de recepção ao papa. Fazem parte deste grupo o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), Pedro Simon (PMDB-RS), Paulo Paim (PT-RS), Vital do Rêgo (PMDB-PB), Francisco Dornelles (PP-RJ), Lindbergh Farias (PT-RJ), Ruben Figueiró (PSDB-MS), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Inácio Arruda (PCdoB-CE).

Já na Câmara, o presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) está decidindo ainda se pedirá autorização para que cerca de 20 deputados possam pegar um voo, em caráter oficial, da Força Aérea Brasileira (FAB) até o Rio de Janeiro e, assim, participar tanto da recepção oficial de abertura da jornada, seguida de recepção ao Papa Francisco.

A princípio, a ideia é ser requisitado um modelo maior que as aeronaves utilizadas normalmente pelos presidentes da Câmara e do Senado, que possuem lugares para 14 pessoas. Mas, em temos de malandragens com os voos da FAB para viagens particulares e de lazer de parlamentares, somente esta semana será confirmado se o avião será ou não pedido. Caso não seja, o número da comitiva de deputados será bem menor que o esperado.

Quem primeiro propôs a criação de um grupo de deputados para ver o Papa foi o deputado Júlio Campos (DEM-MT). “É importante para a Câmara participar do encontro, que reunirá milhões de jovens e representa o testemunho deles de uma igreja viva e em constante renovação”, afirmou Campos.

O argentino Jorge Mario Bergoglio foi empossado como Papa Francisco este ano, após a renúncia do cargo por Bento XVI. Ele é o 266º líder da Igreja Católica e esta será sua primeira viagem internacional como representante máximo da Igreja Católica. Segundo informações da CNBB, o pontífice deverá percorrer cidades fluminenses. Ele também deverá visitar o Santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, de quem diz ser devoto.

Além das audiências que estão sendo agendadas com religiosos e parlamentares, o papa Francisco tem confirmado, também, um encontro com menores infratores – programado para se realizar no Palácio Arquiepiscopal São Joaquim, na Glória – Rio de Janeiro.

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