Em disputa apertada, PT e carlismo tentam se livrar de apoio incômodo em Salvador

Com 64% de avaliação 'péssima', atual prefeito é renegado por ACM Neto e Nelson Pelegrino. Alinhamentos com governo estadual e federal e eficiência administrativa marcam campanha

Tentando manter distância do prefeito, ACM Neto recebeu o senador Aécio Neves (PSDB) na tentativa de voltar à liderança (Foto: Fernando Amorim. A Tarde. Folhapress)

São Paulo – Com cenário praticamente definido para o primeiro turno, Salvador começa a colocar em debate as alianças para o segundo turno entre Nelson Pelegrino (PT) e Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto (DEM). Em paralelo, nos últimos dias de campanha no rádio e na televisão antes da ida às urnas, no domingo, os dois principais candidatos mantiveram a linha de se desconectar da atual gestão. Seja quem for, o futuro prefeito receberá em 1º de janeiro uma cidade com graves problemas de saúde, mobilidade e segurança e uma população extremamente insatisfeita com a atual gestão. 

Eleito em 2004 pelo PDT, reeleito pelo PMDB e agora filiado ao PP, o prefeito João Henrique teve, ao longo de oito anos, apoio de praticamente todos os partidos que disputam esta eleição em momentos alternados – ao todo, são 12 candidatos. Pesquisa Ibope divulgada no último dia 27 mostrou que Henrique  não recebeu avaliação de “ótimo” de nenhum soteropolitano, mas foi considerado “péssimo” por 64%. Seu atual partido não lançou candidatura própria e compõe a coligação de 15 partidos que apoiam Pelegrino, o que garantiu ao petista praticamente o dobro de tempo no rádio e na TV do que teve ACM Neto.

O levantamento do Ibope deu ainda a Pelegrino vantagem de três pontos sobre ACM Neto, com 34% a 31%. Apesar de a diferença ainda estar dentro da margem de erro, o que os deixa tecnicamente empatados, foi a primeira vez que o candidato do PT apareceu na frente do adversário.

Integrantes da gestão de João Henrique estão embarcados nas duas campanhas. “É uma situação que chega a ser engraçada, uma disputa para ver quem o apoiou mais”, diz o professor de ciências políticas da Universidade Federal da Bahia Joviniano Neto. “Muitos dos secretários mostram o que fizeram de bom, mas não dizem que o fizeram no governo João Henrique.”

Perfis

Para o cientista político Paulo Fábio Dantas Neto, a candidatura de ACM Neto representa uma oposição à gestão do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), e ao governo Dilma Rousseff-Luiz Inácio Lula da Silva. ACM Neto, personagem fundamental na campanha de Pelegrino, adotou o discurso do “alinhamento”. “Isso é uma coisa muito conhecida aqui em Salvador. Muito usada por Antônio Carlos Magalhães, que dizia ser preciso estar alinhado com o estado para se obter verbas. É algo um tanto conservador”, avalia.

Pelegrino conta com Lula e Jaques Wagner para formar um arco de alianças sólido para o segundo turno (Foto:  Leogump Carvalho/Frame/Folhapress)

Para Dantas Neto, a candidatura do herdeiro do carlismo foi marcada pela tese da capacidade de gerenciamento do deputado. “De início, ele tentou evitar a disputa política. Queria aparecer como um gestor ágil e competente, com um viés tecnocrático. Mas do ponto de vista de gestão, ele é no máximo uma promessa”, disse Dantas Neto. “O fato é que a candidatura dele nasceu de uma articulação nacional de oposição. Para mim, foi uma surpresa ele não usar isso desde o início. E teve um custo alto, já que a oposição normalmente é a força política mais interessada em politizar. A despolitização favorece o governismo”, apontou.

Ambos os candidatos têm como vice mulheres negras e militantes do movimento negro e pró-cotas. A escolha de Célia Sacramento, do PV, na chapa de ACM Neto foi vista como uma espécie de vacina prévia às críticas ao posicionamento contrário do DEM em relação às cotas, manifestado em ação apresentada pelo partido ao Supremo Tribunal Federal (STF). Salvador é a cidade com maior número de negros do país e o assunto é caro à população. O tema foi usado pela candidatura petista, e ACM Neto tem dito que ele, pessoalmente, é favorável à questão, contrariando seu partido.

Segundo turno

Joviniano Neto acredita que, para o segundo turno, a candidatura de Pelegrino tenha mais campo para crescer, já que congrega a maior parte do movimento popular e sindical da cidade e pode atrair o maior número de apoios, entre eles, Mário Kertesz, do PMDB, que tem a terceira maior intenção de votos nas pesquisas. “O PMDB não tem como apoiar ACM Neto. Uma das coisas que sustenta o partido na Bahia é o acesso que tem ao governo federal”, disse Joviniano. Dessa forma, ele acredita que o candidato fique com cerca de 30% dos votos, faixa histórica do carlismo na cidade.

Para José Carlos Aleluia, da coordenação de campanha de ACM, no entanto, a igualdade de tempos na TV e no rádio e os debates diretos irão dar vantagem ao democrata. “No segundo turno queremos estar com apoio popular. Vamos procurar, evidentemente, os partidos. Mas na política brasileira, em função da questão do tempo de rádio e televisão, os apoios são fundamentais no primeiro turno. A vantagem de se ter 14 partidos apoiando, enquanto nós temos apenas cinco, acontece no primeiro turno, no segundo turno isso é irrelevante ou de baixa relevância.”

 

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