Dilma manifesta ‘calma’ frente à crise

Ao fim da viagem a Nova York, presidenta reafirma direito do Brasil de debater soluções para problemas econômicos e critica caminho imposto à Grécia

A presidenta reiterou que o Brasil tem o direito e as condições para propor soluções à crise econômica mundial (Foto: Roberto Stuckert Filho. Presidência)

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff centrou o discurso na economia ao fazer um balanço dos cinco dias de visita a Nova York. Durante entrevista a jornalistas brasileiros, ela manifestou preocupação com o prolongamento da crise econômica que afeta a União Europeia e os Estados Unidos, e indicou que o Brasil deve estar preparado para um quadro de recessão externa, com consequências sobre a produção doméstica.

“Neste momento, que é um momento de volatilidade dos mercados, de nervosismo dos mercados, a nossa atitude é de calma, tranquilidade”, afirmou. Ela defendeu a atuação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e do ministro da Fazenda, Guido Mantega. A presidenta rebateu as recentes críticas à condução da política econômica, que tiveram como centro a decisão de cortar em meio ponto percentual a taxa básica de juros da economia, a Selic, indicando que não se trata de “medida inusual”.

A presidenta reiterou que acompanha diariamente os desdobramentos do mundo da economia, e pontuou que o Brasil quer ter papel ativo, o que já havia sido manifestado no discurso feito na abertura da 66ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na quarta-feira (21). Na ocasião, ela foi a primeira mulher na história a abrir os trabalhos da principal reunião do organismo. “Nós estamos prontos a participar do diagnóstico. Nós estamos prontos também a dar a nossa contribuição, desde que ela seja uma contribuição que faça parte de um processo de solução do problema macroeconômico, ir muito claramente ao ponto.”

Durante a conversa com jornalistas, Dilma mais uma vez deixou clara a convergência de pensamentos em relação ao antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, em especial ao pontuar que a crise não é um problema criado pelo Brasil. “Mas também não se pode alegar que não soframos as consequências indiretas da crise”, advertiu. A presidenta indicou que o freio sobre o consumo nas economias desenvolvidas tem um impacto direto na contração da indústria brasileira e, por extensão, na criação de empregos. 

“Sofremos as consequências e julgamos que temos todos os direitos de participar e de discutir as saídas”, pontuou a presidenta, que acredita que a América do Sul tem condições de seguir em crescimento econômico, desempenhando um papel importante no resgate das demais nações. Ela manifestou especial interesse pela sugestão do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, de que se realize uma reunião entre os ministros da área econômica e os presidentes de bancos centrais da região para que se encontre uma proteção conjunta aos efeitos da crise.

Comando

A presidenta fez questão de ressaltar, ao se despedir de Nova York, a avaliação de que falta comando político para solucionar a crise das nações ricas. Dilma acredita que as respostas adotadas nos últimos meses são “antigas e velhas e ultrapassadas”, e apontou que a experiência do passado mostra que medidas recessivas, como corte de empregos, enxugamento de gastos públicos e restrição de direitos sociais, deixa clara a ineficácia desta linha de pensamento.

“Nós não só não concordamos com isso, como temos a experiência de duas décadas perdidas por esse método de saída”, pontuou. A referência foi às políticas neoliberais adotadas no Brasil e em parte do mundo entre a segunda metade da década de 1980 e o começo deste século. Ao cortar despesas públicas, o Estado abre mão de seu papel de fomentar o dinamismo da economia e agrava cenários de baixa atividade econômica.

Para ela, o caso da Grécia, bola da vez na zona do euro, não se resolverá com as medidas impostas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Com a redução das políticas de crescimento econômico, o país corre o risco de ingressar em um espiral recessiva.

A presidenta voltou a manifestar a intenção do Brasil de participar com recursos econômicos na ajuda às nações afetadas pela crise, embora considere que o problema não se deve à falta de verbas, mas à ausência de regulação do mercado financeiro e de propostas inovadoras. “Ninguém aqui acredita que um pacote de 8 bilhões (de euros) resolva o problema da Grécia. Então, você tem de buscar a solução que seja politicamente consistente com o problema.”

Balanço

A presidenta participou, na manhã desta quinta-feira (22), do último compromisso oficial em Nova York. Durante a Reunião de Alto Nível da ONU sobre Segurança Nuclear, ela pontuou que o Brasil só acredita no uso pacífico desta tecnologia, e defendeu que é hora de deixar para trás a produção de armamentos do gênero. 

“Precisamos, sim, aposentar os arsenais nucleares. Temos, sim, de avançar na reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ele tem sido o baluarte da lógica do privilégio nuclear, por mais de 65 anos, e legitima o acúmulo de material físsil nas potências nuclearmente armadas”, enfatizou em seu último discurso antes do retorno ao Brasil. 

Dilma chegou a Nova York no domingo (18), e cumpriu agenda oficial desde segunda-feira (19), com participações em debates sobre a participação feminina na política, o impacto das doenças não transmissíveis e a internet como ferramenta de transformação da relação entre governos e cidadãos. Ela manteve encontros privados com oito chefes de Estado, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o da França, Nicolás Sarkozy, além de uma audiência com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

A abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas foi o ponto alto em termos de exposição da agenda de governo. Dilma defendeu o reconhecimento de um Estado palestino, medida que contraria Estados Unidos e Israel, mas conta com o aval de China e Rússia; cobrou um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU; lembrou o passado de resistência à ditadura e o amadurecimento da democracia; e cobrou força política na solução da crise financeira.

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