Bancada ruralista cai quase à metade na Câmara, mas domina 30% do Senado

Indicação do ministro da Agricultura, que ficou na mão do setor nos dois mandatos do governo Lula, será prova de força do agronegócio após a eleição

Enquanto o número de deputados relacionados ao setor caiu quase à metade, as cadeiras conquistadas no Senado aumentaram(Foto: Ricardo Stuckert/ Agência Câmara)

Rio de Janeiro – Acostumados a atuar como um dos mais influentes grupos setoriais do Congresso Nacional, os ruralistas podem ter de lidar com uma realidade que menos favorável na próxima legislatura. Os parlamentares ligados ao agronegócio são apontados como donos de grande poder de articulações e capazes determinar o resultado de algumas votações. A mudança para 2011 decorre do fato de que o número de deputados relacionados ao setor cairá quase à metade. Por outro lado, as cadeiras conquistadas no Senado aumentarão.

Na Câmara, a bancada ruralista foi reduzida de 117 deputados federais eleitos em 2006 para 66 deputados, em 2010, em uma redução de 45%. Por outro lado, a bancada ruralista no Senado ganhou peso e terá 24 cadeiras a partir de fevereiro 2011, o que representa cerca de 30% do total de senadores. Os parlamentares em ambas as casas dividem-se entre partidos da base aliada do governo e legendas de oposição.

A força política dos ruralistas poderá ser medida nas próximas semanas, durante a composição do ministério da presidente eleita Dilma Rousseff. O setor controlou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) durante todo o governo Lula – primeiro com Roberto Rodrigues, do PP, e depois com Reinhold Stephanes, do PMDB – e a expectativa da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) é que o ministro da pasta continue a ser de sua “cota” no futuro governo.

Essa continuidade, entretanto, já esbarra em uma primeira dificuldade, pois o vice-presidente eleito, Michel Temer, que também é presidente do PMDB, deseja manter no cargo o atual ministro, Wagner Rossi, a quem é ligado. O desejo de Temer provocou a reação de diversas lideranças ruralistas, que publicaram notas em jornais do país defendendo a recondução de Stephanes ao Mapa.

A tendência é que o vice-presidente eleito ganhe a queda-de-braço, mas há na entourage de Dilma quem defenda que o Mapa não fique nem com Rossi nem com Stephanes, sob o argumento de que a maioria das lideranças ruralistas apoiou Serra na disputa presidencial.

“Os ruralistas, nas eleições presidenciais, tiveram um desempenho dúbio apesar de terem sido um dos setores mais favorecidos pelo governo Lula”, afirma Edélcio Vigna, assessor para Políticas de Reforma Agrária e Soberania Alimentar do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em artigo publicado na agência Adital. “A candidata Dilma perdeu em estados considerados domínio dos grandes agropecuaristas, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. Por outro lado, a candidata ganhou em Tocantins, Goiás e Rio Grande do Sul”, avalia.

O resultado paradoxal, segundo o assessor do Inesc, “demonstra que os ruralistas só atuam de forma coordenada nas votações congressuais onde seus interesses imediatos estão em pauta”. Essa prática, no entanto, terá que ser modificada na próxima legislatura: “A bancada ruralista, assim como nos mandatos passados, deverá se recompor na legislatura 2011/2015. Mas, se não evoluir nas práticas e no discurso, incorporando a preocupação ambientalista e de sustentabilidade, poderá ser varrida para a lata de lixo da história”.

Com discussões de interesse do setor, como a conclusão da mudança no Código Florestal, e a meta do governo federal de reduzir em 80% o desmatamento na região amazônica, o começo dos trabalhos do Legislativo devem mostrar para que lado vão essas forças políticas. A mudança de peso na Câmara e no Senado podem, também, concentrar as ações e fortalecer lideranças.

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