Derrotado pela 2ª vez, Serra descarta aposentadoria

Tucano só se pronuncia depois de Dilma e diz que despedida 'não é adeus', mas 'até logo'

O candidato derrotado José Serra afirmou: “Para quem nos vê derrotados, estamos apenas começando uma luta de verdade” (Foto: Rodrigo Coca/Folhapress)

São Paulo – José Serra quebrou o protocolo e não deu o tradicional telefonema para cumprimentar a adversária e presidenta eleita do Brasil, Dilma Rousseff. Apesar de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter anunciado a vitória da petista às 20h13, Serra falou pela primeira vez sobre a derrota somente às 22h34, em pronunciamento no comitê eleitoral no Edifício Joelma, centro da capital.

O ex-governador aguardou a chegada dos principais caciques do PSDB e do DEM que se encontravam no bairro do Morumbi, na casa do secretário estadual de Cultura, Andrea Matarazzo (leia abaixo).

Falando aos brasileiros “de todos os cantos do nosso território”, Serra admitiu que “os eleitores falaram e nós recebemos com respeito e humildade a voz do povo nas ruas”. Disse querer “cumprimentar a candidata eleita Dilma Rousseff e desejar que faça bem ao nosso país”.

Com voz embargada, disse que disputou com “muito orgulho” a Presidência da República, “mas quis o povo que não fosse agora”. “Mas digo aqui de coração que sou muito grato aos 43 milhões e 600 mil brasileiros e brasileiras que votaram em mim.”

O ex-governador disse que foram sete meses de muita energia, movimentação e muito equilíbrio “que foi necessário”. “Chego aqui com muita energia. O problema é como despender essa energia agora.”

Serra lembrou e agradeceu, ainda, os votos que elegeram dez governadores da coligação O Brasil Pode Mais, “dos quais um está presente, Geraldo Alckmin, que se empenhou na minha eleição mais do que se empenhou na sua”.

Aos militantes que choravam, Serra disse: “A maior vitória que conquistamos nesta campanha não foi mérito meu, mas foi de vocês. Pode parecer estranho, mas vim aqui não pra falar da frustração, mas da esperança. Vocês alcançaram uma grande vitória, cavaram uma trincheira no grande campo político da liberdade e democracia no Brasil”. E ressaltou a participação da juventude.

Ao final, anunciou: “Para quem nos vê derrotados, estamos apenas começando uma luta de verdade… Nossa mensagem de despedida não é um adeus, é um até logo”, disse, pouco antes de recitar versos do Hino Nacional e agradecer aos caciques tucanos.

Segunda derrota

Essa foi a segunda vez que Serra disputou a Presidência com um candidato petista e perdeu. O tucano teve 43,95% dos votos válidos no segundo turno, onde chegou após contrariar todos os institutos de pesquisa, que indicavam a vitória de Dilma já no dia 3 de outubro. No primeiro turno. a petista teve 46,9% dos votos, enquanto Serra conseguiu 32,6%.

Essa pode ser uma das razões que levaram os tucanos a apostar no erro das pesquisas e numa virada. O candidato a vice-presidente, Índio da Costa (DEM), insistiu ao votar no Rio de Janeiro na teoria de que as pesquisas estavam erradas: “Acredito nas que a gente fez, que são pelo sistema de probabilidade; o cálculo por cotas que os outros institutos fazem não funciona”.

O dia

Serra votou acompanhado da mulher Mônica, do seu substituto no governo, Alberto Goldman, do governador eleito, Geraldo Alckmin, do senador eleito Aloysio Nunes (todos do PSDB), além do prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM). Apesar de todos esses nomes estarem muito distantes do que se pode considerar “alternância do poder”, esse foi um dos pontos destacados pelo candidato tucano em seu discurso após a votação: “O povo fala em todo o Brasil, na beleza da democracia e, talvez hoje mesmo, a beleza da alternância do poder”.

Após a confirmação da vitória de Dilma, a assessoria de imprensa do candidato derrotado não sabia informar o local do pronunciamento. Muitos jornalistas aguardavam na casa do tucano, no Alto de Pinheiros; no comitê eleitoral, no centro da capital; no Palácio dos Bandeirantes, que fica no bairro do Morumbi. Também no Morumbi, casa do secretário de Cultura, Andrea Matarazzo, estavamo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, além de Índio da Costa, Alckmin e Kassab.

Somente por volta das 22h30, quando todos chegaram ao comitê onde estava Serra, no Edifício Joelma e, alguns minutos após o fim do discurso da presidenta eleita Dilma Rousseff, foi feito o pronunciamento em que o tucano admitiu sua derrota.

Minas

Após o anúncio da vitória de Dilma, o senador eleito Aécio Neves (PSDB) fez, em Minas Gerais, um dos primeiros pronunciamentos entre os tucanos, por volta das 21h do domingo (31). Em nota, elogiou o desempenho de Serra durante a campanha e afirmou que ao contrário do que possa parecer o resultado político e o eleitoral são muito diferentes e que o PSDB saiu maior das urnas. “É preciso ver em nome do que se vence e do que se é derrotado.” Aécio cobrou, ainda, que Dilma honre seus compromissos com a população e faça um governo “republicano” e “generoso”.

Ao votar, o tucano disse que até o último momento acreditava em uma “surpresa”, mas o tom era de derrota. “O Serra foi um leão, foi um lutador. Para quem acompanhou mais de perto, o seu esforço pessoal, físico, foi enorme. Ele fez o que poderia fazer. É claro que depois que termina uma eleição, você sempre encontra problemas que ocorreram aqui, acolá. Mas eu acho que o saldo final é muito positivo“, disse o senador eleito.

Questionado se, em uma eventual derrota de Serra, os tucanos atribuiriam a culpa a ele, Aécio reforçou o empenho na campanha do presidenciável. “Não acredito que tenha havido alguém que trabalhou mais por Serra, em Minas Gerais, do que nós”, referindo-se também ao governador eleito Antonio Anastasia (PSDB) e a Itamar Franco (PPS), também senador eleito.

Dilma, natural de Belo Horizonte, teve mais de 58% dos votos válidos no estado em que nasceu.

 

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