Martinho da Vila vê eleição de Dilma como ‘opção pelos mais pobres’

Em ato do movimento pela igualdade racial, cantor é um dos mais celebrados. Elói Ferreira aponta aliança de Serra com o DEM como motivo para negros escolherem a petista

Rio de Janeiro – A vitória do candidato do PSDB, José Serra, provocaria retrocessos no combate ao racismo e na promoção da igualdade social alcançados durante o governo Lula, na visão de artistas, intelectuais, parlamentares e dirigentes das organizações do movimento negro. Um ato em em apoio à candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, reuniu na noite de terça-feira (26) cerca de 500 pessoas e lotou o teatro da Universidade Candido Mendes, na capital fluminense.

Entre os artistas, os mais demorados aplausos couberam a Martinho da Vila e à Leci Brandão, esta última recentemente eleita deputada estadual pelo PCdoB em São Paulo. Martinho declarou seu apoio à Dilma: “O Lula fez uma opção pelos mais pobres e isso não vai mudar com a Dilma, eu tenho certeza. Nós já fizemos uma revolução pelo voto colocando um operário na Presidência. Agora, vamos botar uma mulher”, disse.

Com o mote “Para o Brasil seguir promovendo a igualdade racial”, participaram ainda representantes das comunidades judaica, árabe e cigana, que também declararam apoio à petista. Convocado pela Frente Nacional Suprapartidária pela Igualdade Racial, o ato contou com a presença dos ministros da Igualdade Racial, Elói Ferreira, e da Secretaria de Mulheres, Nilcéia Freire, além do candidato a vice na chapa de Dilma, o presidente da Câmara dos Deputados Michel Temer.

Os presidentes do PT, José Eduardo Dutra, e do PCdoB, Renato Rabelo, também estiveram presentes, além dos ex-ministros da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro e Édson Santos, do cantor Netinho de Paula (candidato derrotado ao Senado pelo PCdoB em São Paulo), da ex-governadora Benedita da Silva e de diversos parlamentares.

Além de Leci e Martinho, também manifestaram seu apoio à candidata do PT os atores Antônio Pitanga, Milton Gonçalves e Antônio Pompeu, as cantoras Alcione e Sandra de Sá, o dramaturgo Romeu Evaristo, o cineasta Joel Zito Araújo e o músico Da Gama, do grupo Cidade Negra, entre outros. Duas das mais importantes figuras da cultura popular da Bahia – João Jorge do Olodum e Vovô do Ilê Ayê – também fizeram questão de ir ao Rio de Janeiro para levar seu apoio à Dilma.

O ponto alto do ato, entretanto, foram mesmo as vibrantes intervenções dos dirigentes das organizações que lutam pela igualdade racial no Brasil. Falando em nome de uma frente que engloba 10 partidos, a coordenadora da Frente Nacional Suprapartidária pela Igualdade Racial, Cida Abreu, ressaltou a importância da unidade do movimento.

“Depois de grande discussão, nós, dos partidos que compõem a base aliada que apoia Dilma, decidimos constituir uma frente que discutisse no mesmo nível em que discute a coordenação nacional da campanha para que assim a gente pudesse marcar efetivamente a responsabilidade desse novo governo com a política de promoção da igualdade racial”, defendeu.

Entidades

Presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro, o professor Eduardo de Oliveira qualificou como “idéia revolucionária” a colocação da questão “afro-brasileira” e “negra” na agenda política brasileira. “Ninguém mais tem vergonha de dizer que o Brasil foi formado pelos nossos ancestrais que atravessaram o Atlântico e chegaram aqui para construir essa pátria que também é nossa”, disse. Oliveira elogiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Lula abriu caminho para que a igualdade racial se estabelecesse. Essa iniciativa veio de um operário, de um trabalhador, de um homem de macacão”.

Édson França, presidente da União de Negros pela Igualdade, afirmou entender que “com Lula caminhamos muito, e com Dilma se aprofundará essa caminhada”. França afirmou ainda que “a população negra só vai se emancipar com a esquerda no poder” e que a eleição de Dilma “nos dá a convicção de que vamos avançar na titulação dos quilombos, vamos conseguir incluir mais negros nas universidades, vamos conseguir diminuir a violência que abate a juventude negra”, disse.

Representante do Fórum Nacional de Juventude Negra, Clarisse Lima levou o teatro ao delírio ao afirmar que “nunca antes na história desse país as universidades particulares tiveram tantos negros e negras estudando, nunca antes na história desse país tantos negros e negras trabalharam com carteira assinada”.

Falando em nome da Coordenação Nacional de Entidades Negras, Sônia Leite também provocou muitos aplausos ao cantarolar um trecho de “A Banca do Distinto”, de Billy Blanco: “não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho; pra quê tanta pose, doutor?” Em seguida, concluiu: “Esse era o Brasil antes de Lula, onde o negro não tinha nenhum respeito. Esse é o Brasil do atraso, o Brasil que nós não queremos de volta”.

Prefeito de Suzano (SP), Marcelo Cândido falou sobre o desafio de governar uma cidade da Região Metropolitana de São Paulo com uma população de 300 mil habitantes e lamentou “que ainda são muito poucos os prefeitos negros no Brasil”. Cândido elogiou a relação do governo Lula com os municípios e afirmou que Dilma poderá fazer ainda mais pela promoção da igualdade racial no país. “O presidente Lula atravessou o deserto, venceu obstáculos e garantiu conquistas. Agora a Dilma poderá avançar muito mais para garantir espaços de participação da negra e do negro nesse governo que vai mudar a cara do país”, apostou.

Almirante Negro

O ministro da Igualdade Racial, Elói Ferreira, apontou quatro motivos pelos quais, segundo ele, a população negra “não pode permitir” a eleição de José Serra: “Serra está aliado com o DEM, que é contra os quilombolas. Serra está aliado com o DEM, que é contra a política de cotas nas universidades brasileiras. Serra está aliado com o DEM, que quer derrubar o ProUni que permitiu que 360 mil jovens negros ingressassem nas universidades brasileiras. Serra é do PSDB, que trabalhou intensamente para que não fosse aprovado o Estatuto da Igualdade Racial”, disse.

O ministro provocou o momento de maior emoção do ato ao evocar “a tradição de luta de nossos ancestrais e dos heróis negros” e lembrar o marinheiro João Cândido, conhecido como Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata que completa 100 anos no mês que vem: “João Cândido foi um herói brasileiro, um almirante que não disparou um tiro e acabou com aquele castigo infame que ainda era aplicado aos marinheiros”, disse, sob uma torrente de aplausos emocionados.