Pequenos de esquerda optam por sair separados apesar de proximidade

Candidatos de partidos de menor expressão têm propostas comuns, chegaram a discutir alianças, mas desistiram

Candidatos do PSOL, à Presidência, Plinio Arruda Sampaio e ao Senado pelo Rio de Janeiro, Jefferson Moura (Foto: Divulgação/Flickr)

Rio de Janeiro – Nestas eleições, a necessidade de afirmação política e partidária falou mais alto do que a luta pela vitória eleitoral para três pequenos partidos de esquerda brasileiros: o PSOL, o PSTU e o PCB. Apesar das semelhanças programáticas entre si, os três partidos, que chegaram a conversar sobre a possibilidade de lançamento de um candidato comum à Presidência da República, acabaram por lançar separadamente as candidaturas de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), Zé Maria (PSTU) e Ivan Pinheiro (PCB). Esse cenário se repete na eleição para governador na maioria dos estados, sendo que, em alguns deles, existem também candidatos do PCO.

Estado onde o PSTU, o PCB e, principalmente, o PSOL têm um bom número de militantes e alguma força eleitoral, o Rio de Janeiro é um exemplo claro da opção política feita pelos três partidos. Embora defendam temas em comum como a participação dos trabalhadores nas decisões de governo, o aumento de impostos para as grandes empresas e a reestatização dos transportes públicos, entre outros, os candidatos Eduardo Serra (PCB, com 2% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha), Cyro Garcia (PSTU, também com 2%) e Jefferson Moura (PSOL, 1%) se lançaram separados. Uma matemática simplista sugere que, unidas, as três siglas de esquerda, além de conseguirem um maior tempo de televisão para seu candidato, teriam uma nada desprezível base de 5% dos votos no Rio.

Entrevistados separadamente pelo jornal O Globo na semana passada, os três candidatos ao Governo do Rio falaram sobre a decisão de não construir uma aliança entre si. Eduardo Serra explicou os problemas para concretizar a aliança. “Não se conseguiu chegar a um programa de governo, e isso criou uma dificuldade grande. Tentamos um acordo até a véspera do lançamento das candidaturas”, revelou o candidato do PCB. No entanto, ele afirma que os três partidos ainda podem integrar “uma frente anticapitalista e anti-imperialista que apresente o projeto de uma outra sociedade”.

Cyro Garcia, que é candidato a um cargo majoritário pela oitava vez, aposta na construção do PSTU e não lamenta a falta de acordo entre os pequenos partidos de esquerda que joga a todos em mais uma inglória batalha eleitoral. “O PSTU não é um partido eleitoreiro nem tampouco eleitoral. O PSTU é um partido que se constrói cotidianamente nas lutas dos trabalhadores e da juventude. Para mim, eleição é apenas um momento episódico. Nós militamos o tempo inteiro”, disse.

Mesmo estando atrás de Cyro e de Eduardo Serra nas pesquisas, Jefferson Moura aposta na força eleitoral de nomes como os dos candidatos Milton Temer (senador), Chico Alencar (deputado federal) e Marcelo Freixo (deputado estadual) para impulsionar a candidatura do PSOL ao governo a um resultado mais expressivo do que os alcançados por PCB e PSTU. Fiel à estratégia de disputar a base do PT e da herança política de Leonel Brizola, Moura tampouco lamenta a desunião eleitoral dos pequenos partidos de esquerda. “Não acho que necessariamente o PSTU e o PCB estejam mais próximos do PSOL. O PSOL precisa, e isso é um desafio, se relacionar com a base social petista, se relacionar com quem votava no Brizola”, argumentou.

Propostas semelhantes

Muitas são as semelhanças entre as propostas dos candidatos das três legendas. A reestatização do sistema de transportes estadual, por exemplo, seria fava contada em um eventual governo comandado por alguma dessas três siglas de esquerda: “Barcas, trens e metrô já transportaram muito mais passageiros do que transportam hoje. A privatização desses segmentos não resultou na expansão desses serviços nem em melhoria. Nos países da Europa, por exemplo, esses setores sempre foram públicos como forma de fomentar o desenvolvimento e garantir direitos sociais”, afirma Eduardo Serra.

Cyro Garcia propõe uma “estatização dos meios de transporte sobre o controle dos trabalhadores” e defende a adoção de uma tarifa de apenas um real. “Em Buenos Aires, por exemplo, você tem um metrô com seis linhas e paga R$ 0,55. No Rio, você paga R$ 2,35 em um só ônibus. Isso mostra o tamanho da farra que é a margem de lucro desses empresários do transporte público”, diz.

Jefferson Moura também defende a reestatização do sistema estadual de transportes: “A primeira medida de nosso governo será rever os contratos de concessão. Hoje, o Metrô, as Barcas S.A. e a Supervia (que opera a rede ferroviária) não têm condições técnicas e administrativas de seguirem gerindo os transportes do Rio”.

Transformar UPPs

Outro tema comum aos candidatos de PSTU, PSOL e PCB é a experiência do governo de Sérgio Cabral com a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em favelas do Rio que antes eram controladas pelo tráfico de drogas. “Precisamos integrar as favelas à cidade. Precisamos transformar as UPPs em Unidades de Políticas Públicas”, afirmou Moura. Serra também prega a transformação das UPPs: “Eu transformaria as UPPs em algo mais abrangente. Nós achamos que a política de segurança tem que passar pelos conselhos populares, para que as pessoas possam opinar sobre o que deve ser feito”.

Para Cyro Garcia, “a política das UPPs é uma grande farsa” montada pelo governo Cabral: “É uma questão pontual que pode resolver de maneira paliativa os problemas das comunidades onde estão instaladas, que são pouquíssimas. O que está havendo é uma migração do crime dentro da própria cidade”, diz. Cyro defende a descriminalização das drogas como uma das maneiras de enfrentar a violência no Rio: “O que mata não é a overdose. O que mata são as balas ‘perdidas’ e ‘achadas’”.

 

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