Cheio de energia, Serra diz que agressividade é ‘extravagância’ de campanha

Candidato da oposição diz que tanta disposição é fruto da convicção de virada nas intenções de voto

O candidato José Serra em sabatina do O Globo (Foto: Cacalos Garrastazu/ObritoNews)

Rio de Janeiro – O candidato a presidente José Serra (PSDB) afirmou, em sabatina promovida pelo jornal O Globo, que acredita em sua vitória, apesar de estar ainda atrás nas pesquisas de intenção de votos. Essa convicção lhe dá “energia” para a campanha, disse o tucano. Ele classificou a decisão de subir o tom das críticas ao governo nas últimas semanas como uma extravagância, parte da disputa por votos.

Questionado pelo jornalista Zuenir Ventura sobre os erros de sua campanha, Serra preferiu prudência por estar “muito no calor da campanha”, o que o impede de fazer uma análise. “Não posso disser que é erro”, desviou. Sobre o discurso mais agressivo adotado nas últimas semanas, o tucano explicou: “Isso é estratégia de campanha. A história é feita de extravagância, se não tiver extravagância, não é história”.

 

Serra garantiu ao jornalista Artur Xexéo ainda acreditar na possibilidade de vitória nestas eleições. “Acho que vai ter uma virada. Se você me acompanhasse no tempo em que estou acordado, veria que estou com uma energia que não tive na minha vida. Estou com muita energia. Ela provém de uma convicção de que vou ganhar. Do que provém é que o Brasil não vai voltar a eleger um envelope fechado. Não sou o dono da verdade, mas sinto que é demais isso”, disse.

Resistência ao Mercosul

Na única pergunta mais aguda dirigida pelos colunistas de O Globo a Serra, Luís Fernando Veríssimo falou sobre as diferenças entre as políticas externas nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula e perguntou se o tucano iria “resgatar a velha política” em caso de vitória nas urnas. “Eu vou ter uma política própria. Pega a política do Lula, primeiro, teve muita promoção política, na época do FHC também. Isso é bom, mas vou viajar menos”, disse.

Nesse momento, Serra revelou sua resistência ao Mercosul. “Com FHC, investiu-se muito no Mercosul. Eu não sou contra o Mercosul, mas acho que deveria ser uma zona de livre comércio. A União Européia foi subindo os degraus, e quiseram fazer no Mercosul em quatro anos o que a União Européia fez em quarenta. O que tinha que ser feito era uma zona de livre comércio, depois faz-se uma união alfandegária, mas isso é fruto do amadurecimento. Quiseram fazer logo de cara, e isso não funcionou”.

Fogo amigo

Curiosamente, os momentos em que Serra demonstrou maior contrariedade durante a sabatina ocorreram em perguntas de jornalistas mais alinhados ao PSDB. Quando Merval Pereira pediu para o ex-governador “explicar” como havia conseguido perder em São Paulo para Lula em 2002 e agora estar atrás de Dilma nas pesquisas no estado, Serra afirmou, sem esconder a irritação, que não vai perder em São Paulo. “Eleição não é igual a futebol. Eleição só tem um gol no final da partida. Tem o peso do Lula na Dilma, porque ela mesmo não tem peso. É muito investimento no interior. Você vai numa cidade e você vê que tem. Agora, prefeitura só ganhamos uma, que fui eu. O PSDB não tinha tradição de ganhar prefeitura na capital”, retrucou.

Miriam Leitão, após afirmar que “nos últimos cinco anos houve aumento de renda, mas o melhor ano foi 1996” e que “o acesso à telefonia foi de 300% e, na educação, os avanços foram mais rápidos no período Fernando Henrique”, questionou porque o ex-presidente não aparece na propaganda de Serra. “Você tem vergonha do governo Fernando Henrique ou gostaria de ser o candidato do Lula?”, indagou a jornalista.

Serra, mais uma vez, demonstrou contrariedade: “Se você verificar discursos da semana passada em São Paulo, verá que a todo momento eu entro em análise do que aconteceu no passado e o que aconteceu agora. Inclusive em debates. O PT não discute isso, principalmente a questão das privatizações. É um falso debate. (…) Sou de longe o candidato que mais discute programas e circunstâncias. Eu não tenho que ficar revisando o meu passado, nem guardo no cofre momentos da minha vida. Aliás, eu fui ministro do Fernando Henrique”.

Para completar o “fogo amigo” contra o tucano, o colunista e cineasta Arnaldo Jabor perguntou: “Agora que o Lula está atacando a sua campanha, quando é que o senhor vai defender o governo anterior?”. Curto e grosso, Serra respondeu: “Eu vou mandar para o Jabor um estoque de debates e comícios para ele se inteirar sobre o assunto”.

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