Lula lidera pesquisas para 2010, mas não as manchetes

Mesmo com o presidente dizendo que não pretende disputar nova reeleição, levantamentos o apontam como favorito em respostas espontâneas, mas informação não aparece com destaque

Datafolha e CNT/Sensus: ascenção de Lula e de Dilma por conta de atuação diante da crise. Serra cai (Foto: Roosevelt Pinheiro/ABr)

Dois institutos divulgaram pesquisas sobre tendências para as eleições de 2010 apontando o favoritismo de Lula na preferência do eleitorado. Segundo dados divulgados no domingo (31) pelo Datafolha, Lula aparece com 27% das respostas espontâneas – quando nenhum nome é apresentado pelo pesquisador ao entrevistado. No levantamento anterior, de março, Lula aparecia com 25%.

Em pesquisa do instituto Sensus, divulgada nesta segunda (1º/6) pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e repercutida pela internet, o nome do presidente também é disparado o mais mencionado, por 26,2% das respostas espontâneas.

Nos dois casos, José Serra e de Dilma Rousseff vêm em segundo e terceiro lugares. A opção pelo governador de São Paulo caiu de 6% para 5% entre março e maio, segundo o Datafolha; e menção à ministra-chefe da Casa Civil aumentou de 2% para 4%.

Os dois também aparecem praticamente empatados nas respostas espontâneas obtidas pelo CNT/Sensus: Serra com 5,7% e Dilma com 5,4%.

Chamadas estimuladas

As manchetes em torno das pesquisas optaram, porém, por destacar outros “fenômenos”. A Folha de S.Paulo, por exemplo, abriu sua edição dominical com a chamada “3º mandato de Lula divide o país”.

De acordo com o Datafolha, 49% dos entrevistados seriam contrários à mudança, contra 47% favoráveis. O jornal decidiu, portanto, dar mais importância ao resultado sobre o direito à reeleição, possibilidade esta ainda não removida do cenário político, do que à sondagem eleitoral propriamente dita.

Em todos os casos, trabalhou com hipóteses, já que nomes como os de Serra, Dilma, Aécio Neves, Ciro Gomes e Heloísa Helena são apenas possibilidades. Mas no caso da re-reeleição, embora o editorial do jornal, “Assunto encerrado”, a tenha enterrado, ela ainda é uma possibilidade no cenário político e jurídico.

Entretanto, não são divulgados cenários de respostas estimuladas – quando o pesquisador apresenta alternativas de nomes para o entrevistado – que tenham Lula entre os candidatos.

Assim como não há na Folha nenhum cenário, por exemplo, sem o nome do deputado Ciro Gomes (PSB), indicando para onde migrariam seus votos: se mais para Serra, que caiu para 38% (menos três pontos em relação a março); ou mais para Dilma, que subiu cinco pontos, para 16%.

A pesquisa CNT/Sensus também apontou queda de Serra e subida de Dilma nas respostas estimuladas. No cenário em que o nome de Ciro não aparece, a preferência pelo governador caiu de 45,7% para 40,4%; e a opção por Dilma passou de 16,3% em março para 23,5% em maio. Todas as variáveis dessa pesquisa podem ser vistas no site da CNT.

Avaliação e expectativas

Além da larga preferência por Lula, nas respostas espontâneas, e da queda de Serra com melhora nas posições de Dilma, nas estimuladas, outro fenômeno comum detectado pelas pesquisas foi o retorno da aprovação do governo Lula aos níveis pré-crise. O Datafolha apurou que a avaliação bom/ótimo, que havia caído para 65% em março, voltou agora a perto da casa dos 70%, recorde verificado há seis meses pelo instituto.

O nível de ruim/péssimo apurado em maio, 6%, é o mais baixo desde 2007, quando chegou a 14%. O segundo mandato de Lula é considerado regular por 24% (eram 27% em março e 23% em novembro).

A pesquisa Sensus mostrou quadro quase idêntico: 69,8% de bom/ótimo (eram 62,4% em março); 23,9% de regular (ante 29,1%); e 5,8% de ruim/péssimo (contra 7,6% em março e bem longe da pior taxa negativa, de 29%, verificada em novembro de 2005).

A forma como o governo enfrentou a crise financeira internacional repercutiu diretamente na aprovação de Lula. O percentual dos que aprovam o presidente subiu de 76,2% para 81,5% desde março.

Em março, o Datafolha apurou que 24% de seus entrevistados temiam que a situação do país fosse piorar; agora, esse pessimismo se reduziu a 15%. Ainda segundo o Datafolha, 12% dos entrevistados achavam, em março, que sua vida ia piorar. Agora são 8%.

O desemprego iria piorar na opinião de 59% e, para 37%, o poder aquisitivo cairia. Agora, esses percentuais negativos baixaram para 43% e 25%, respectivamente.

Já no levantamento da CNT/Sensus 79,9% dos pesquisados disseram crer que o nível de emprego vai melhorar ou ficar como está. Em março eram 74,5%. E 22,1% que achavam que ia piorar, agora são 16,5%. Quanto à renda, hoje são 84,4% os que têm expectativa de que ela será mantida ou vai melhorar, contra 80,5% em março.

O cientista político e diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, afirmou em entrevista coletiva que a percepção de que a economia está estável e as ações corretas de combate à crise influenciaram o crescimento dos índices de aprovação do governo e do presidente Lula. “Na percepção da população, ela (a crise) é fundamentalmente internacional”, explicou.

Segundo Guedes, a diferença de percepção em relação ao governo ocorreu especialmente no grupo formado por pessoas jovens, urbanas e com alto nível de escolaridade. Daí o crescimento de dez pontos percentuais do presidente, que aparece espontaneamente como o candidato preferido por 26,2% dos entrevistados para as eleições presidenciais de 2010. Em março, eram 16,2%.

O mesmo ocorreu com Dilma, favorita dos petistas para disputar a sucessão. “Houve uma subida mais forte, certamente vinculada à percepção de que a economia está sendo tratada de forma adequada”, afirma.