Jogo de palavras

A ‘novilíngua climática’ de Donald Trump

Departamento de Agricultura do governo dos EUA ordenou a funcionários que parem de usar, entre outros, o termo 'mudança climática'

Gage Skidmore

Funcionários do Departamento de Agricultura devem se adaptar a “mudanças de prioridade” da gestão Trump

Tradução livre a partir de La Marea – Um dos conceitos mais aterradores de 1984, obra de George Orwell, é a novilíngua. Na distópica Londres do escritor britânico, o governo autoritário se esforça para eliminar expressões e palavras, substituindo-as por outras mais simples. O objetivo, no romance, é controlar o pensamento da população, eliminando e tergiversando sobre conceitos representados por estas palavras.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Agricultura ordenou que seus funcionários deixassem de usar, entre outros, o termo “mudança climática”. A ordem foi identificada em uma série de e-mails obtidos pelo jornal britânico The Guardian. Foi emitida no mês de fevereiro e assinada por Bianca Mobius-Clune, diretora de qualidade do solo do Serviço Nacional de Conservação de Recursos (NCRS), a unidade que se dedica à supervisão do setor agrário do país.

No e-mail, ordena-se que os empregados evitem a expressão “mudança climática” e a substituam por “temperaturas extremas”. Além disso, há outras palavras e termos proibidos pela agência como “adaptação à mudança climática”, que passa a ser “resiliência frente a temperaturas extremas”, ou “redução de emissão de gases de efeito estufa”, que se converte em “construção de matéria orgânica”.

Em outro dos e-mails obtidos pelo The Guardian, Kimmy Bramblett, subdiretor de programas da NCRS, informa os gestores e gerentes de nível médio da agência que devem dirigir as equipes sob sua supervisão no sentido do novo Executivo dos EUA. “Está claro que uma das prioridades da administração anterior não é consistente com as da nova administração. Especificamente, esta prioridade é a mudança climática”, diz Bramblett no e-mail, pedindo a eles que informem seus encarregados sobre “esta mudança de perspectiva do Poder Executivo”.

Causa, consequência e solução

Os agricultores são um dos setores mais céticos em relação à ciência que estuda a mudança climática nos EUA. Segundo um estudo da Universidade de Purdue, somente 8% deles aceita o consenso científico internacional apontando para a responsabilidade da emissão de gases de efeito estufa. Além disso, um terço dos produtores agrícolas não considera que o clima está mudando.

O setor agropecuário se encontra no centro da questão climática, pois é tanto uma das indústrias que mais contamina, como uma das vítimas mais evidentes. Assim mesmo, um novo modelo agrário mais sustentável é condição indispensável para amenizar os efeitos mais graves do aquecimento global. Segundo um informe do Grupo Interministerial de Especialistas sobre Mudança Climática da ONU, introduzir mecanismos de captura de carbono em solos agrícolas é “necessário para garantir níveis seguros de carbono atmosférico e mitigar a mudança climática”.

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