Questão síria

Trump quer desviar a atenção dos problemas internos ou usa nova estratégia?

Secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, que era presidente da gigante do petróleo Exxon Mobil quando foi condecorado por Vladimir Putin, está em Moscou para reunião com ministro russo

Reprodução/Youtube

Ainda não está claro se, ao atacar Síria, Trump usa uma estratégia ou se é um ato intempestivo

São Paulo – A crise síria, envolvendo Estados Unidos e Rússia, provocou diversas interpretações, com direito a informações sem fonte e teorias da conspiração. Resumidamente, a versão ocidental é de que o presidente Donald Trump atacou a base aérea de Al Shayrat, na Síria, no dia 6, como resposta ao governo Bashar al-Assad, aliado da Rússia. Assad é acusado de um ataque químico contra a população civil, que matou mais de cem pessoas em Idlib um dia antes. Do outro lado, a versão é de que o ataque químico foi desfechado por aliados dos EUA, para dar o pretexto ao ataque de Trump contra o sistema de defesa sírio, enfraquecendo-o militarmente ainda mais e abrindo caminho para os rebeldes e um horizonte de terra arrasada, como se viu no Iraque e na Líbia com a derrubada de Saddam Hussein e Muammar Gaddafi, respectivamente.

Para Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a priori é preciso eliminar da análise as teorias conspiratórias e dar atenção a questões factuais. “É importante observar a postura dos Estados Unidos ao atacar a base aérea síria. Isso mostra uma mudança de postura de Trump, que tinha dito que o problema dele era o Estado Islâmico e não entraria em questões sobre a legitimidade ou não do regime sírio.”

Para Ayerbe, a partir dessa constatação, duas interpretações são possíveis: a primeira seria que Trump de fato mostra uma política exterior na qual combina o uso da força unilateral com ações isolacionistas, como aconteceu na retirada dos Estados Unidos de alguns acordos internacionais, como a Parceria Transpacífico (TPP), por exemplo.

A outra perspectiva decorreria de seu governo estar muito mal avaliado pela opinião pública interna. Com o ato de força, Trump estaria tentando angariar mais apoios, o que de fato conseguiu, até mesmo da Europa e de setores do Partido Democrata. Além disso, de quebra, o presidente norte-americano estaria tentando desmentir as acusações, que vêm desde a campanha eleitoral, de proximidade suspeita com a Rússia. “Nesse caso, teria sido uma saída para afastar essas dúvidas e endurecer com relação à Rússia publicamente, o que pode não significar que de fato esteja endurecendo nas negociações”, avalia Ayerbe.

O fato é que Trump continua imprevisível. Mas, para o professor, esse estilo também foi exibido pelo republicano George W. Bush: “é a ideia de você mostrar imprevisibilidade como uma forma de ameaça a adversários. Seria uma maneira de agir tentando desorientar seu opositor.”

O professor lembra que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, está em Moscou, onde nesta quarta-feira (12) se reúne com o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.

Hoje secretário de Trump, Tillerson era presidente da gigante do petróleo Exxon Mobil quando foi condecorado por ninguém menos do que Vladimir Putin, em 2013, com a Ordem da Amizade. Não está previsto, pelo menos oficialmente, um encontro de Tillerson com Putin.

Na semana passada, após o ataque químico na Síria que justificou o ataque norte-americano a Assad, Tillerson deu uma declaração ameaçadora sobre o presidente da Síria: “Enquanto seguimos avaliando esta situação terrível, está claro que esta é a forma em que Assad opera: com barbárie brutal e incontida”. Não é certamente um acaso que os ataques verbal e com os mísseis Tomahawk ocorreram uma semana antes da visita do secretário estadunidense a Moscou.

O que todo esse teatro, que engole vidas humanas incessantemente, significa? E qual a real intenção de Trump ao atacar um território sírio? “É para desviar a atenção dos problemas internos ou é uma nova estratégia, embora ainda não esteja claro qual é essa estratégia?”, questiona Ayerbe. Para ele, não se pode chegar a conclusões a partir de especulações e teorias da conspiração.

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