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Google se adianta à lei de privacidade e retira serviço do Brasil

Na prática, medida representa que empresa pode conseguir burlar legislação que presidenta Dilma Rousseff considera prioridade após espionagem dos Estados Unidos

Wikimedia/CC

A Google começou a remover seu serviço de DNS do país e o transferiu para os EUA

São Paulo– A Google se mexeu rápido logo após o anúncio da presidente Dilma Rousseff de que o país adotaria medidas restritivas contra a espionagem feita pelo governo dos Estados Unidos, por meio da NSA (National Security Agency), e que contou com a ajuda de grandes empresas de internet, como o próprio gigante de buscas. De acordo com o site Renesys, a Google começou a remover, em 12 de setembro, seu serviço de DNS do país e o transferiu para os EUA, uma tática para ficar fora da jurisdição e das novas medidas anunciadas pelo Palácio do Planalto.

Entre as medidas anunciadas por Dilma, estava o desligamento da rede brasileira das norte-americanas e a exigência de que os dados de usuários brasileiros passassem a ser armazenados em servidores instalados no país. A medida vale para todos os grandes serviços de internet, como o Google e todos os seus serviços (Gmail, Google Plus, etc), Facebook e outras empresas. Uma segunda mudança no serviço de DNS do Google foi registrada em 16 de setembro.

A informação da retirada do serviço de DNS do Google do país é sustentada por uma série de testes feitos pelo site. “No mês passado, notamos que o Google DNS para a América Latina tinha parado de responder a solicitações de São Paulo e tinha começado a encaminhar consultas DNS de volta para os EUA para resolução”, diz a reportagem. O site revela ainda que a única mudança sentida pelos usuários é que as consultas continuam acontecendo em todo o continente latino-americano, “apenas muito mais lentamente”.

O que é o serviço

O DNS representa a “resolução” de um endereço de protocolo de internet, o conhecido endereço de IP [internet protocol, em inglês]. Quando o usuário acessa um site, por trás dele há um endereço de IP (por exemplo, 74.125.131.99) que é convertido para um DNS fornecido pelo provedor de acesso à web. Boa parte dos usuários usa serviços de DNS do próprio provedor ou de outras empresas, e não necessariamente do Google – algo que é opcional. Por isso, apenas os usuários que usam o serviço da empresa (oferecido desde 2009) sentiram os efeitos da mudança.

Porém, o uso “gratuito” do Google DNS tem uma função: ao ganhar visibilidade para o uso da Internet de seus usuários, a empresa pode usar esses dados para melhorar suas aplicações comerciais, tais como a colocação de anúncios. Trata-se de um serviço que fatalmente seria enquadrado pelas leis mais rigorosas implementadas pelo governo brasileiro.

A reportagem mostra que alguns usuários se deram conta da mudança justamente por causa da latência e tempo maior de resposta às consultas. Um deles, inclusive, deixou uma pergunta em um fórum aberto do Google questionando o motivo da mudança. Não houve resposta, segundo o site. No entanto, em 24 de setembro, a empresa publicou uma breve nota informando que, de fato, o serviço de DNS havia sido transferido para os EUA, mas que esperava reverter a decisão “em um futuro próximo”:

“Atualmente, consultas ao Google DNS do Brasil (e talvez também em outros países da América do Sul) são manipulados por resolvedores nos Estados Unidos. Consequentemente, você pode experimentar mais latência do que antes. Lamentamos sobre este transtorno para você e estamos trabalhando para reiniciar os resolvedores no Brasil em um futuro próximo”, dizia a nota. A reportagem afirma que questionou a uma fonte da empresa se a mudança havia sido técnica ou política, mas a questão foi transferida para o setor de relações públicas.

Esperar para ver

A reportagem pondera que a atitude da empresa seja autodefensiva, uma forma de “esperar para ver”, uma vez que o mercado latino-americano é comercialmente muito interessante para empresas de internet como o Google e, em especial, o Brasil, país cujo acesso é um dos que mais crescem no mundo, segundo o Renesys.

Por fim, a Renesys afirma que as mudanças não necessariamente serão negativas, pois podem ser a oportunidade para a formação de novos serviços dentro do próprio país. A empresa de consultoria cita o caso do chinês Baidu, que surgiu após a saída do Google do país, e o Yandex, da Rússia. “Isso não seria necessariamente uma coisa ruim para o Brasil, e na região como um todo, no longo prazo”.

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