intolerância

Protesto por ‘lei da blasfêmia’ deixa 21 mortos na Índia

Fundamentalistas muçulmanos querem aplicação mais rigorosa do Islã e enquadramento dos chamados 'blogueiros ateus'

Fundamentalistas protestam em Bangladesh por lei mais severa (Foto: Abir Abdulah/EFE)

Nova Délhi – Vinte e uma pessoas morreram e centenas ficaram feridas durante dois dias de protestos em Bangladesh, onde os fundamentalistas querem uma aplicação mais estrita do islã, com uma lei antiblasfêmia e a segregação do homem e da mulher.

As manifestações, que contaram com milhares de pessoas, começaram no domingo em Daca e hoje se estenderam à cidade vizinha de Narayanganj, e já deixaram pelo menos oito mortos, segundo o portal Bdnwes 24.

No domingo, houve enfrentamentos violentos entre manifestantes islamitas e as forças de ordem no bairro de Motijhil, o que levou as autoridades a expulsar os ativistas desta área durante a madrugada.

Ao meio-dia de hoje (6) a situação era “quase normal”, disse o inspetor geral da polícia de Bangladesh, Hassan Mahmoud Jandker.

Entre os mortos até agora predominam os manifestantes, mas também há pelo menos quatro membros de diferentes corpos de segurança bengaleses.

As autoridades impuseram o toque de recolher até a 0h local.

Os protestos são liderados por Hifazat-e-Islam (HI), uma organização religiosa de professores e estudantes de madraçais, que reivindicam uma aplicação mais estrita do islã.

O líder do HI, Allama Shah Ahmad Shafi, foi detido hoje pela polícia, que ofereceu a ele duas opções: permanecer detido ou abandonar a capital, segundo o jornal The Daily Star, que não dá detalhes sobre a resposta do religioso.

As manifestações islamitas isolaram durante horas a capital de Bangladesh do resto do país e transformaram as ruas de Daca em um campo de batalha com o saque e destruição de lojas e centenas de carros em chamas.

A polícia e o exército recorreram aos meios antidistúrbios para fazer frente à manifestação islamita.

Hifazat-e-Islam tinha publicado um manifesto islamita em Daca em 6 de abril no qual pedia a criação de uma lei antiblasfêmia e outorgou um prazo ao governo até 5 de maio para decretá-lo.

O governo da primeira-ministra Sheikh Hasina, da Liga Awami, não deu o braço a torcer e por isso os islamitas tomaram ontem a capital.

Os islamitas reivindicam a lei antiblasfêmia para aplacar os que eles chamam “blogueiros ateus”, que na rede pediram durante os últimos meses a pena de morte para os islamitas condenados por crimes de lesa-humanidade na guerra civil que desencadeou a independência de Bangladesh do Paquistão em 1971.

Aí é onde nasce o atual conflito entre os fundamentalistas islâmicos e o governo de um país onde 90% da população é muçulmana, com uma tradicional moderação e tolerância religiosa.

Hasina, filha de um dos pais da pátria, se propôs ao início de sua legislatura (2009) denunciar judicialmente os supostos responsáveis que perpetraram crimes contra a humanidade no conflito de independência.

Durante aquele conflito morreram, segundo algumas estimativas, cerca de três milhões de pessoas e milhares de mulheres foram estupradas.

Desta maneira foi criado em 2010 um tribunal de crimes de guerra, onde na prática a maior parte dos acusados – e todos os três condenados até o momento – foram líderes de Jamaat-e-Islami (JI), o principal partido religioso do país.

Desde então, se repetiram os protestos islamitas em Bangladesh e pelo menos 120 pessoas morreram neles.

Mas ao mesmo tempo milhares de pessoas tomaram de forma pacífica a zona de Shahbag, no centro de Daca, durante semanas para pedir uma pena mais severa contra um dos condenados.

Os blogueiros tiveram um papel importante neste movimento e quatro deles foram detidos por “ferir os sentimentos religiosos” por pedir a proibição do Jamaat-e-Islami, o que pode acarretar 10 anos de prisão.

O governo, de fato, aprovou uma lei em fevereiro que permite à Promotoria recorrer sentenças e que dá sinal verde para perseguir judicialmente as formações políticas, o que foi avaliado como uma medida contra o JI e desencadeou novos protestos islamitas.

O líder da oposição Jaleda Zía, à frente do Partido Nacionalista de Bangladesh e aliado histórico dos islamitas, exigiu a criação de um governo interino e a antecipação das eleições previstas para finais deste ano ou começo de 2014.

Precisamente, a tensão costuma se intensificar quando as eleições se aproximam neste superpovoado país, com 150 milhões de habitantes, com pobres indicadores de desenvolvimento e graves problemas ambientais, e muito fragmentado politicamente.

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