Maduro assume presidência da Venezuela e convida oposição ao diálogo

Herdeiro político de Hugo Chávez prometeu impulsionar uma 'revolução dentro da revolução' para aumentar a eficiência do Estado e combater a corrupção dos 'falsos chavistas'

Maduro é o primeiro presidente venezuelano oriundo da classe trabalhadora (Foto: AVN/Reprodução)

São Paulo – Sindicalista do metrô de Caracas e quadro de primeira hora do chavismo, Nicolás Maduro foi investido hoje (19) como presidente da República Bolivariana da Venezuela estendendo uma ponte de diálogo com a oposição e prometendo um governo de unidade nacional. A cerimônia de posse ocorreu na Assembleia Nacional, no centro da capital, e contou com a presença de 61 delegações internacionais. Maduro é agora o primeiro chefe de estado a governar o país depois da morte de Hugo Chávez, que liderou os venezuelanos ininterruptamente pelos últimos 14 anos. É também o primeiro presidente oriundo da classe trabalhadora.

“Estou disposto a dialogar até com o diabo”, frisou Maduro. “Agora conclamo que deixem de sabotar a economia, deixem de sabotar o sistema elétrico, que deixem de dividir o país. Chamo os cidadãos venezuelanos e aos políticos da oposição para conversar. Estou aberto a conversar em função da pátria, do respeito às instituições e aos direitos humanos. Até com os golpistas vou conversar, se necessário, para que acabe seu ódio e sua intolerância ao povo venezuelano e latino-americano.”

O presidente também prometeu avançar no maior problema do país segundo 80% dos venezuelanos: a criminalidade. O número de assassinatos nunca foi baixo na Venezuela, mas aumentou durante a administração de Chávez apesar dos massivos investimentos sociais realizados pelo governo. “Precisamos dar um salto nessa área”, reconheceu, prometendo acabar com a pobreza na Venezuela até 2019. “Vamos incorporar ao mercado de trabalho os jovens de bairros pobres que estão envolvidos com o crime. Queremos construir novos valores que substituam o culto às armas. Por outro lado, reforçaremos a autoridade policial nas ruas.”

Herdeiro

Pouco antes de partir para sua última cirurgia em Cuba, onde se tratava de um câncer na pélvis, Chávez foi à televisão para pedir aos venezuelanos que elegessem Maduro caso não resistisse à operação. Foi o que ocorreu. No último domingo (14), o herdeiro político do chavismo recebeu 50,6% da preferência popular. A pequena vantagem de 250 mil votos sobre seu adversário, Henrique Capriles, levantou suspeitas de fraude nas hostes opositoras. Pressionado por manifestações que deixaram ao menos oito mortos, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) decidiu abrir as urnas e recontar os sufrágios. Organismos regionais, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), reconheceram oficialmente a validade do pleito.

Em seu discurso, o novo presidente disse que dará todo apoio “institucional e político” ao trabalho da autoridade eleitoral para acabar com todas as dúvidas sobre a lisura do processo. “Mas tenho certeza de que mesmo assim não aceitarão os resultados”, alertou Maduro, lembrando que nos Estados Unidos não houve recontagem de votos quando o Partido Democrata levantou dúvidas sobre a validade do pleito que elegeu George W. Bush. “Não vão reconhecer. O plano da oposição é outro. E estamos preparados para impor a pátria da democracia sobre os que desejam sabotar e instaurar uma agenda de violência na Venezuela.”

Nicolás Maduro prometeu realizar um governo de “milagre nacional” com elevado desenvolvimento econômico e social, e garantiu que concluirá as missões iniciadas por Chávez, entre elas a Gran Misión Vivienda, que promete construir um milhão de casas populares e reduzir o grave déficit habitacional do país. “Quero fazer uma revolução dentro da revolução para que esse país caminhe ao futuro e se democratize cada vez mais, com base na igualdade”, bradou. “Faremos a revolução da eficiência socialista para combater a indolência, a burocracia, o atraso, a cultura da preguiça e a corrupção. É a primeira revolução que quero convocar.”

Simbolismos

A cerimônia que investiu Nicolás Maduro como presidente da Venezuela esteve repleta de simbolismos e referências a Hugo Chávez. O novo chefe de Estado realizou o juramento constitucional diante de dois grandes quadros: um com o retrato de Simón Bolívar, libertador da Venezuela, e outro com a foto do ex-presidente, a quem agora os chavistas se referem como “comandante eterno” ou “comandante supremo”.

Com um pequeno exemplar da Constituição Bolivariana nas mãos, Maduro prometeu seguir o legado deixado pelo antecessor. Logo depois, uma pequena quebra de protocolo: a filha de Hugo Chávez, Maria Gabriela, foi convidada pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, para que colocassem juntos a faixa presidencial no novo chefe de Estado. Quando finalmente soou o hino nacional, veio com a voz de Chávez.

Ao começar o discurso, um susto: um jovem conseguiu romper o bloqueio da segurança e alcançar o presidente, gritando “Nicolás!” Como esperado, a tevê não lhe deu atenção e passou a transmitir imagens da plateia. Maduro não gostou. “Os compatriotas devem entender que essa é uma cerimônia solene e, por mais que sua mensagem seja importante, esse tipo de atitude não é adequada”, disse, deixando um recado bastante claro aos guarda-costas. “A segurança falhou. Estou colocando minha vida a serviço da pátria. Vocês devem cuidar de mim.”

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