Venezuela pede saída de diplomatas paraguaios

Governo venezuelano ainda não confirmou expulsão, mas Paraguai já prepara saída de chanceleres

Estigarribia: “O Paraguai não vai se render na marcha para conquistar objetivos próprios de uma república independente” (Foto:Reuters/Blas Canete)

São Paulo – Quatro diplomatas paraguaios terão de deixar a Venezuela, de acordo com o governo do Paraguai. Eles foram avisados verbalmente hoje (17) de que poderiam ser expulsos do país. As autoridades venezuelanas ainda não confirmaram a expulsão dos chanceleres, mas eles já preparam sua saída do país. Há cerca de três meses, as relações diplomáticas encontram-se congeladas, mas a nova decisão da Venezuela intensifica o conflito, segundo os diplomatas paraguaios. 

Os dois governos retiraram seus embaixadores dos respectivos países, após o impeachment do presidente Fernando Lugo, em junho deste ano, o que a Venezuela considerou como uma violação à democracia. Lugo foi destituído em um juízo político polêmico no Congresso paraguaio, que levou o vice-presidente Frederico Franco a assumir a presidência. A expulsão desses últimos diplomatas seria resultado das acusações do governo de Franco de que a Venezuela teria interferido no processo de destituição de Lugo. O novo governo paraguaio afirma que Nicolás Maduro – atualmente vice-presidente da Venezuela, mas então chanceler venezuelano no Paraguai – tentou convencer chefes militares paraguaios a apoiar Lugo. Durante o processo de impeachment, Maduro se encontrava em Assunção, capital do Paraguai.

Em entrevistas a veículos paraguaios, o consul paraguaio em Caracas, capital da Venezuela, Raúl Silva, disse que foram avisados na manhã de hoje, por telefone, que teriam 72 horas para abandonar o país, por decisão unilateral do governo da Venezuela.  O chanceler do Paraguai José Félix Estigarribia afirmou que já estão verificando as passagens e os custos para a transferência dos funcionários. “Temos uma situação delicada. Pedimos que nos comunicassem por escrito, como deve ser, todavia ainda não recebemos esse comunicado. É um prazo muito breve, mas é a decisão que o governo da Venezuela tomou”, disse Estigarribia. De acordo com ele, o prazo será contado a partir do comunicado por escrito. 

“Acredito que seja um fato irreversível e que complica ainda mais a possibilidade de solucionarmos o conflito. É um problema enorme, pois temos uma grande quantidade de paraguaios na Venezuela”, comentou. Em crítica à postura da Venezuela, Estigarribia disse que tenta solucionar os conflitos com o governo desse país, mas que este dificulta o diálogo. “Não gosto de julgar outros governos, mas noto que a Venezuela tem uma forma peculiar de lidar com as relações internacionais. Vou buscar outros caminhos para conseguir uma solução, mas são os outros países que criam as dificuldades. Não posso controlar os atos de outros governos que não se ajustam às normas de Direito.” Estigarribia persistiu na acusação feita a Maduro, reprovando sua atitude de defesa a Lugo. “O Paraguai não vai se render na marcha para conquistar objetivos próprios de uma república independente”, afirmou.

A suposta decisão da Venezuela de pedir a saída dos diplomatas ocorre em um momento em que o Paraguai negocia com países da América do Sul o retorno de seus embaixadores e também o fim das sanções antes das eleições gerais do país previstas para abril de 2013. Após o impeachment de Lugo, o Paraguai foi suspenso temporariamente da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e do bloco comercial Mercado Comum do Sul (Mercosul). A saída do Paraguai deste bloco permitiu o ingresso da Venezuela como sócio pleno, fato ao qual o Paraguai era contrário. O novo governo desse país considerou a entrada daquele como ilegal.

Com informações da Reuters, El Nacional e El Universal