ONU afirma que 250 crianças foram mortas na Síria desde o início dos conflitos

Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da comissão que estudou violação dos direitos humanos na Síria, afirmou que a situação do povo sírio é 'desesperadora e de emergência'

A comissão está muito preocupada pelo fato de os crimes contra a humanidade terem sido cometidos em diferentes regiões da Síria (Foto: ©Omar Ibrahim/ Reuters)

São Paulo – Liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, a comissão da Organização das Nações Unidas (ONU) que investigou a situação dos direitos humanos na Síria divulgou, nesta segunda-feira (28), um relatório que denuncia crimes de tortura, assassinato e estupro de civis. Nem crianças foram poupadas: 250 foram mortas pelo governo de Bashar Al Assad desde o início dos protestos, em março.

Por videoconferência com jornalistas brasileiros, Pinheiro, que já foi ministro de Direitos Humanos no Brasil, afirmou que a conclusão do relatório confirma que o exército e as forças de seguranças da Síria cometeram crime contra a humanidade na repressão à população. “O relatório conclui que tudo isso seria impossível que ocorresse sem o conhecimento das mais altas esferas do governo sírio”, ressaltou.

Durante dois meses, a comissão ouviu 223 vítimas e testemunhas que confirmaram o uso excessivo da força, casos de tortura e violência, além de prisões arbitrárias. De acordo com o relatório, foram 3.500 sírios mortos, de 15 a 20 mil pessoas ainda detidas e mais de 3 milhões de pessoas afetadas diretamente pelos confrontos.

Sem autorização do governo Assad, a comissão não pode entrar na Síria e teve que fazer o trabalho de investigação à distância. “A comissão está muito preocupada pelo fato de os crimes contra a humanidade terem sido cometidos em diferentes regiões da Síria durante o período em análise”, diz o relatório, divulgado em Genebra, na Suíça.

A Liga Árabe aprovou no domingo (27) uma série de sanções econômicas e comerciais à Síria. As restrições incluem o congelamento de transações comerciais, das contas bancárias de integrantes do governo em países árabes, a suspensão de voos entre as nações que integram o bloco e a proibição de viagens de integrantes do Executivo para os países da região. O objetivo é pressionar o governo do presidente  Bashar Al Assad a encerrar o impasse político no país e abrir espaço para negociações.

Nesta segunda-feira (28), a União Europeia informou que também vai ampliar as sanções à Síria, reforçando as restrições ao comércio relativo a petróleo, gás e derivados, além de limitações financeiras.

Os protestos contra Basha Al Assad, que está há 11 anos no poder, já duram oito meses e reivindicam a realização de eleições, mais liberdade de expressão e de imprensa, além do fim das violações aos direitos humanos. Segundo Paulo Sérgio Pinheiro, não são apenas jornalistas estrangeiros que sofrem restrições para trabalhar no país. Os profissionais de comunicação sírios têm o trabalho bastante controlado e perseguido, com ação constantemente submetida a riscos.

“Nós sabemos que os jornalistas que pretendem dar uma divisão verdadeira do conflito estão submetidos a riscos. E também pessoas que usam redes sociais e internet estariam sujeitas aos mesmo riscos”, pontuou Pinheiro.