Italianos aguardam definição de novo primeiro-ministro

Após renúncia de Berlusconi, presidente realiza consultas para formar novo gabinete, que deve ser anunciado ainda neste domingo

Após queda de Berlusconi, presidente italiano tenta acelerar escolha do novo premier para aplacar tensão de especuladores (Foto: © Max Rossi/Reuters)

São Paulo – Diante da crise e cansados do governo de Silvio Berlusconi, os italianos mostram-se favoráveis à indicação do economista Mario Monti ao cargo de primeiro-ministro do país. Um dia depois da renúncia de “Il Cavaliere”, como Berlusconi é apelidado, 50% dos entrevistados em uma pesquisa de opinião divulgada neste domingo (13) apoiam a indicação do ex-comissário da União Europeia ao cargo.

O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, promove consultas formais aos líderes dos partidos do Parlamento. O processo é necessário para confirmar se o nome indicado terá apoio da maioria da Câmara dos Deputados. A expectativa é de que a etapa se cumpra ainda neste domingo, antes da abertura das bolsas de valores asiáticas, como a de Tóquio, no Japão, e de Hong Kong nesta segunda-feira (14).

A costura para levar Monti ao cargo começou com a nomeação como senador vitalício feita às pressas, na quarta-feira (9). Tudo para evitar a convocação de novas eleições e levar mais tensões ao mercado – o que significaria mais motivos a especuladores investirem contra títulos da dívida italiana e produzirem instabilidades sobre o futuro. Ainda de acordo com a pesquisa de opinião do Instituto Piepoli, 22% dos entrevitados defendem essa alternativa. O estudo foi realizado por telefone com 500 participantes. Apenas 24% dos ouvidos apoiavam Berlusconi.

Se confirmado, o economista de perfil ortodoxo irá optar por um governo com menos lideranças políticas como forma de ganhar a confiança de bancos e investidores em bolsas de valores europeias. A escolha de tecnocratas seria uma forma de mostrar a “austeridade” que dá nome à lei aprovada no sábado (12) e que abriu as portas para a saída de Berlusconi.

A aprovação do pacote de corte de despesas – 59,8 bilhões de euros até 2014 – de aumento de imposto, congelamento de salários e prorrogação da idade mínima para aposentadorias era a condição colocada pelo ex-primeiro-ministro para deixar o cargo. Isso porque, na semana passada, na votação do orçamento do próximo ano, o governo não conseguiu maioria dos votos na Câmara dos Deputados.

Mesmo algumas lideranças de centro-esquerda, opositores ao conservador Berlusconi, defendem Monti e o programa de contenção do déficit público – que provavelmente vai agravar a incapacidade da economia do país de alcançar taxas de crescimento importantes. Nos últimos 15 anos, a média de evolução do Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas pela terceira maior economia da zona do euro, foi de 0,75% ao ano.

É o caso do ex-premiê italiano Romani Prodi. Ele comandou um governo de dois anos entre duas gestões de Berlusconi. Segundo Prodi, Monti é “o homem certo” para o cargo por ser “moderado” e conhecer o sistema financeiro internacional. Sobraram críticas ao adversário político: “Esse ataque especulativo contra os títulos da dívida italiana são em parte por causa de Berlusconi, não por causa da realidade”.

A Liga do Norte, partido de direita aliado do Povo da Liberdade (PdL), de Berlusconi, ameaçou abandonar o governo. As confirmações são esperadas para as próximas horas.

Se confirmado, seria o segundo país europeu em crise a conduzir ao poder figuras com passagens por órgãos da União Europeia. Na Grécia, depois de negociar um pacote de ajuda de outros países da zona do euro e o perdão de metade da dívida, o socialista George Papandreou deu lugar a Lucas Papademos, ex-vice-presidente do Banco Central Europeu.

Monti represenatou a Itália na Comissão Europeia por dois períodos, de 1995 a 2004, mas em setores diferentes. O primeiro mandato foi na área de combate a monopólios e concorrência desleal e o segundo em comércio e serviços. No período, foi apelidado de “Super Mário” por ter ganhado projeção em embates contra interesses de bancos alemães.

Além de significar uma opção por uma saída conservadora e liberal do ponto de vista econômico (menos intervenção na economia e prioridade no combate ao déficit fiscal), a aposta é de que o bom trânsito do senador vitalício com outros países da zona do euro ajudam a enfrentar a crise.

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