Evo Morales: “Querem nos esquartejar politicamente”

Presidente da Bolívia volta a fazer críticas aos opositores da estrada que corta parque indígena no leste do país e defende que obra irá resolver a pobreza da região

Falando a apoiadores da obra, Evo Morales garantiu que não se trata da rodovia mais cara da Bolívia, e ponderou que pode se tratar de um passo para reduzir a pobreza da região (Foto: Daniel Caballero. Presidência da Bolívia)

São Paulo – O presidente da Bolívia, Evo Morales, manteve neste sábado (1º) a linha de indicar interesses políticos por trás da marcha popular iniciada há um mês e meio contra a construção da uma estrada no leste do país.

Morales resolveu se reunir com grupos de manifestantes favoráveis à obra no momento em que retomaram os contrários retomavam a caminhada em direção ao Palácio Quemado, em La Paz. Para o presidente, os argumentos utilizados pelos contrários ao projeto, tocado pela construtora brasileira OAS com financiamento do BNDES, se valem de uma visão conectada ao capitalismo dos Estados Unidos.

“A verdade é que a Tupac Katari o esquartejaram fisicamente. A nós querem esquartejar politicamente utilizando os meios de comunicação”, acusou, em referência ao líder inca que comandou uma rebelião contra o domínio colonial espanhol no século 18. Ele lembrou ainda os episódios de agosto e setembro de 2008 quando, após sua vitória em um referendo revogatório de mandato, houve grande instabilidade no país por conta da oposição comandada a partir do oriente. “Os opositores tratam novamente de utilizar os meios de comunicação para confundir o povo sobre o processo de mudança”. 

O debate sobre a rodovia que corta o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis) ganhou ainda mais força desde o domingo (25), quando forças policiais reprimiram a marcha popular que há 45 dias deixou o parque. Desde então, quatro integrantes do alto escalão do governo entregaram os cargos, e Morales passou desmentir que tenha saído de seu gabinete ou de algum ministério a ordem para a repressão. “Como posso instruir a que maltratem meus irmãos indígenas”, reforçou neste sábado. 

Além disso, ele e o vice-presidente, Álvaro García Linera, tentaram demonstrar total compromisso com a apuração dos fatos, primeiro convocando ministros a depor perante a Assembleia Nacional Constituinte e, depois, montando uma comissão investigativa com a presença de representantes da ONU, da Organização dos Estados Americanos e da Unasul.

Neste sábado, Morales manteve o tom de desmerecer as críticas, asseverando que o debate não está se dando entre ecologistas e desenvolvimentistas, mas entre o governo e gente interessada em desestabilizá-lo. “Nestes dias são os ‘tipnólogos’ que falam, e falam, e não conhecem a realidade da região”, acusou, em ironia ao nome do parque, Tipnis. “O que está em debate na construção da rodovia entre Villa Tunari e San Ignacio de Moxos é resolver a pobreza e o abandono dos irmãos indígenas que vivem nos parques nacionais.”

Os marchantes, porém, têm indicado não haver interesse em que a rodovia passe por dentro do parque. Morales aceitou submeter a construção a um plebiscito nos departamentos (o equivalente a estados) afetados, mas os manifestantes querem que se assine de imediato o fim das obras.

“Reiniciamos a marcha e nossa intenção não é a de enfrentarmos ninguém. O que o governo deve fazer em vez de acusar os indígenas é resolver de uma vez este problema da estrada”, disse à mídia local Adolfo Chávez, presidente da Central Indígena do Oriente Boliviano e ex-aliado de Morales.

Com informações da Agência Boliviana de Informação e da Reuters.

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