Brasil reafirma que não reconhece eleições em Honduras

País aproxima-se da votação de domingo com situação tensa: mais de cem candidatos renunciaram, governo adquiriu equipamentos bélicos e de controle de distúrbios nas ruas

Partidários de Roberto Micheletti, presidente golpista afastado temporariamente do cargo (Foto: Edgard Garrido/Reuters)

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou nesta quinta-feira (26) que o governo brasileiro não irá apoiar o novo governo de Honduras, a ser eleito no próximo domingo (29). Em Manaus, onde participa da cúpula de países amazônicos e da França sobre o clima, o chanceler foi taxativo: “Um golpe de Estado não pode ser legitimado como forma de mudança política”.

Esta semana, os Estados Unidos pressionaram abertamente o Brasil a reconhecer o processo eleitoral, passo que era visto como fundamental para a legitimação da votação de domingo, dado o peso internacional brasileiro e o envolvimento do governo Lula nas negociações para o fim do golpe realizado no fim de junho.

O país centro-americano se aproxima das eleições com uma situação no mínimo peculiar. Mais de cem candidatos a diversos cargos renunciaram à disputa por considerarem o processo ilegítimo. Entre os que desistiram está o candidato à presidência Carlos Reyes, bem como postulantes à vice-presidência e deputados e prefeitos.

Além do presidente, a eleição foi convocada para eleger 128 senadores, 20 legisladores do Parlamento da América Central e 298 prefeitos. Com exceção dos Estados Unidos e do Panamá, os demais países do continente que se manifestaram disseram considerar o processo ilegítimo.

Para a oposição comandada pelo presidente eleito e deposto Manuel Zelaya, Micheletti tenta legitimar o golpe de 28 de junho com a eleição. O grupo convocou os eleitores a boicotar o pleito.

Na quarta-feira (25), o presidente golpista Roberto Micheletti afastou-se do cargo para tentar amenizar a tensão vivida no país. Anunciada na semana anterior, o afastamento foi oficializada diante do Conselho de Ministros. Micheletti retorna ao cargo no dia 2 de dezembro.

Tanto Zelaya quanto Micheletti são filiados ao Partido Liberal, que já teve 55 renúncias apresentadas por candidatos.

18 processos

O Ministério Público de Honduras se posicionou contra a restituição do presidente deposto, Manuel Zelaya, enquanto ele não comparecer à Justiça para responder pelos 18 processos movidos contra ele. A posição foi apresentada hoje (25) ao Congresso Nacional, que pediu a opinião de várias instituições sobre o retorno de Zelaya ao governo, exigência do quinto ponto do Acordo Tegucigalpa-San José. As análises serão avaliadas pelos deputados a partir de 2 de dezembro, após as eleições do próximo dia 29.

O Acordo Tegucigalpa-San José foi assinado entre governo provisório e deposto, com a mediação da Organização dos Estados Americanos (OEA), mas até agora sem resultados concretos. O documento atribui ao Legislativo nacional a decisão de “retrair à titularidade do Poder Executivo a seu estado anterior a 28 de junho até a conclusão do atual período governamental, em 27 de janeiro de 2010”.

Direitos humanos

Em meio à tensão e a denúncias de assassinatos e atentados políticos de ambos os lados, o Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos em Honduras (Cofadeh) denunciou nesta quinta-feira (26) que o governo golpista prepara a importação de caminhões blindados Ford modelo F750.

Segundo a organização, um comunicado do governo Micheletti foi emitido para liberar de impostos a entrada do equipamento que poderia ser usado para controle de distúrbios de rua. Importada dos Estados Unidos, o veículo custa de US$ 11.990 milhões, segundo a entidade. 

A “maquinaria de morte”, como denominou o Cofadeh, está equipada com uma torres de canhão de água com pressão de 300 libras e 150 galões por minuto, quatro câmaras blindadas de segurança com uma visão de 360 graus, operadas de uma estação de vídeo-gravação dentro do caminhão.

Também foram adquiridas 10 mil granadas de mão lacrimogêneas e 5 mil projéteis de 37mm de gás lacrimogêneo.

Com informações de Vermelho, Adital e Reuters.

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