Alckmin promete entregar em oito anos o Metrô prometido para quatro

Governador garante que mais 32 quilômetros de rede serão inaugurados até 2014, e mostra que José Serra, também do PSDB, entregou um quarto do que prometeu

O que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, classifica como “mudança de paradigma” na área de transportes é, na realidade, mais uma chance para cumprir uma meta antiga. Na segunda-feira (15), o político do PSDB anunciou a construção de 24 estações e 32 quilômetros de metrô até 2014, quando a cidade de São Paulo passaria a ter, enfim, 100 quilômetros desta modalidade de transporte – menos da metade do que possui a Cidade do México.

O que está previsto no Plano Plurianual (PPA) de 2012 a 2015 não tem diferença significativa em relação ao que estava planejado no plano para o período de 2008 a 2011. Das duas, uma: no novo PPA, ou Alckmin admite que o governo de seu partido avançou muito lentamente nas obras, ou joga a culpa para seu antecessor, José Serra, do mesmo partido, de quem se sabe ser rival político. 

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“Os investimentos do Metrô têm foco na expansão de sua rede, que deverá ser acrescida, em relação à rede atual, em 35,2 quilômetros até 2014, por meio das ampliações das Linhas 2 e 5 e construção da Linha 4”, anotava o documento apresentado por Serra à Assembleia Legislativa em 2007. Segundo relatório do próprio Metrô, foram entregues 9,4 quilômetros ao longo dos quatro anos do último governo. 

Fazendo as contas, o governo do PSDB ficou devendo 25,8 quilômetros para o novo período.

Por esses números, em suma, Alckmin pretende, em quatro anos, construir seis novos quilômetros – o restante é apenas compensação do mandato anterior de seu partido, que controla o Palácio dos Bandeirantes desde 1995. Para cumprir a meta de quatro anos em oito, vale também colocar no cálculo os monotrilhos, que não são a mesma modalidade de transporte.

A esta altura, segundo a versão anterior do PPA, São Paulo teria uma situação radicalmente diferente da que assiste diariamente. As linhas deveriam estar menos lotadas, em processo inverso ao que se nota. Já se deveria contar integralmente com a Linha 4 – Amarela do Metrô. A construção da primeira parceria público-privada do país contabiliza nove mortes e três anos de atraso. Estão abertas, neste momento, as estações Butantã, Pinheiros, Faria Lima e Paulista – em horário reduzido, apenas de segunda a sexta-feira, e até às 21h. Mais duas paradas devem ser entregues até o fim do ano, e as demais restam como uma absoluta incerteza.

A Linha 5 – Lilás deveria haver chegado em 2010 a 19,8 quilômetros de extensão. Seriam dez novas estações, conectando-se à Linha 1 – Azul pela parada Santa Cruz e à Linha 2 – Verde pela parada Chácara Klabin. A realidade é diferente: são seis estações e 8,4 quilômetros interligando Capão Redondo e Largo Treze, na zona sul paulistana, com apenas 132 mil usuários ao dia. 

Outros projetos de mobilidade urbana não foram cumpridos. O Expresso ABC, trem que Alckmin anunciou há poucas semanas para ligar a capital paulista às cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema, deveria beneficiar 670 mil pessoas todos os dias a partir de 2010, segundo o prometido em 2007. O Expresso Aeroporto e o Trem de Guarulhos, proposta que o governador afirma entregar até 2014, no papel estariam em operação no ano passado, com 106 mil passageiros diários.

O PPA de 2012 a 2015 será dado a conhecer na íntegra nos próximos dias, quando será enviado ao Legislativo. Alckmin promete no novo plano quadruplicar a velocidade de execução das obras do metrô, de dois quilômetros ao ano para oito. Como se vê, não é algo em que se possa fiar. Entre o papel e a prática, vai uma distância. 

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