A desinformação sobre o desemprego e a torcida pelo pânico

O noticiário matinal de grandes portais fez tudo que pôde para o melhor janeiro dos últimos tempos parecer notícia ruim

 

Em todos os anos o nível de emprego cai em janeiro em relação a dezembro. Isso pode ser constatado em qualquer pesquisa, de qualquer instituto e sob qualquer governo. É recorrente nos principais sites de notícias usar a comparação de janeiro com dezembro, período em parte das contratações decorrentes do período de Natal se desfaz.

Talvez seja a pressa de dar a notícia tão logo o instituto a divulgue – e logo cedo vemos as manchetes “desemprego sobe em janeiro”. Talvez seja má fé, como forma de compor uma “soma” de fatores negativos que induzam ao pânico ou, no mínimo, a uma tendência favorável aos defensores dos juros altos e do freio na economia.

Isso aconteceu na manhã de quarta-feira (23), após a divulgação da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do convênio Seade/Dieese. Uma análise mais correta seria permitida comparando-se o mesmo mês, taxa de janeiro de 2011 com janeiro de 2010. Na média geral das sete regiões pesquisadas pelo convênio, o desemprego caiu de 12,4% para 10,4%. Em Salvador, a melhora se aproximou de quatro pontos percentuais; em Recife, de cinco.

Estes dados existem na pesquisa – que aponta o melhor resultado do sistema Dieese/Seade em São Paulo dos últimos 20 anos e, na média das sete regiões, o melhor desde 1998 –, mas os títulos e o texto dos principais sites desinformam.

Na manhã de quinta-feira, após a divulgação da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, foi a mesma toada nos principais sites: “Desemprego no Brasil sobe a 6,1% em janeiro” – ou seja, estava 15% menor que o desemprego de janeiro do ano passado, que foi de 7,2%. Os valores são diferentes porque o sistema Seade/Dieese tem metodologia que detecta uma proporção maior de entrevistados procurando emprego do que a seguida pelo IBGE. O que ambas têm em comum é o fato de se restringir a algumas regiões metropolitanas e não conseguir, portanto, captar tendências pelo interior do país.

Os dois medidores de desemprego nada têm a ver também com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho (Caged), que divulga todo mês a diferença entre o número de trabalhadores admitidos e de dispensados com base em informações fornecidas por empresas privadas de todo o país. Em janeiro, não por acaso, o saldo de contratações com carteira assinada foi positivo em 152 mil vagas.

Enfim, num aspecto as pesquisas e o Caged concordam: este foi um do melhores janeiros da história. O noticiário matinal dos grandes portais não fez questão de destacar esse fenômeno. E os comentários de boa parte de seus leitores, alguns sarcásticos, divertem-se com a desinformação. Como dizia Odorico Paraguaçu: “A ignorância é que atravanca o progresso”.

 Taxas de Desemprego nas Regiões Metropolitnas (em %) - IBGE

 Fonte: IBGE

 

 Taxas de desemprego nas Regiões Metropolitnas (em %) – Seade/Dieese

Período pesquisado

 

Variação

 

Janeiro
2010

 

Janeiro
2011

 

Dezembro
2010

 

dez/2010 – jan/2011

 

Jan/2010 – jan/2011

 

Distrito Federal

 

14,7

 

12,9

 

12,6

 

-2,3

 

-14,3

 

Belo Horizonte

9,6

7,1

7,7

8,5

-19,8

Fortaleza

9,7

8,3

8,5

2,4

-12,4

Porto Alegre

9,7

7,2

7,3

1,4

-24,7

Recife

17,9

12,8

13,5

5,5

-24,6

Salvador

17,7

13,8

13,6

-1,4

-23,2

São Paulo

11,8

10,1

10,5

4

-11

Média total das sete regiões pesquisadas

12,4

10,1

10,4

3

-16,1

Fonte: Dieese/Seade