Osama Bin Laden: operação mau-gosto

Americanos em Washington festejam anúncio da morte do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden (Foto: ©Jason Reed/Reuters) Começo este comentário por um aspecto que pode parecer, à primeira vista, […]

Americanos em Washington festejam anúncio da morte do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden (Foto: ©Jason Reed/Reuters)

Começo este comentário por um aspecto que pode parecer, à primeira vista, secundário. Mas não é.

Dar o nome de “Gerônimo” à operação que terminou com a morte de Osama bin Laden é, em primeiro lugar, prova de tremendo mau gosto.

Gerônimo foi o nome de guerra de um bravo chefe militar apache que durante décadas atazanou a vida dos exércitos norte-americano e mexicano, em defesa do que pensava ser um “território apache livre”. Teve sua primeira mulher, seus filhos e sua mãe assassinados pelo exército mexicano.

Nunca se declarou um “chefe”, no sentido, por exemplo, que Touro Sentado o era. Declarava-se apenas um “chefe militar”.

Gerônimo, líder apache com rifle em punho, em foto de 1887Na década de 80 do século 19 o exército norte-americano realizou uma operação definitiva, cujo fim era matar ou aprisionar Gerônimo.

Extenuado e sem outra chance, o bravo apache acabou se entregando com um punhado de guerreiros. Viveu até 1909 como prisioneiro de guerra, embora desfrutasse de grande liberdade, participando de feiras e desfiles comemorativos, quando começou a “glamurização” do faroeste norte-americano.

Morreu de pneumonia, depois de uma queda do cavalo que montava, ficando ao relento uma noite inteira até ser encontrado por um amigo. 

Dar esse nome à operação contra bin Laden é prova de que a visão oficial norte-americana continua impregnada de “hollwyoodismo”, no estilo John Wayne. Além disso, é um desrespeito à memória de um dos mais ilustres nativos das Américas. Seria mais adequado chamá-la de “Operação Búfalo Bill”.

A discussão do momento gira em torno do que mudou e do que não mudou com a morte de bin Laden. Também gira em torno de onde e quando virão as represálias, com a certeza de que virão.

A única coisa que de fato mudou até o momento foi a transformação da candidatura de Barack Obama à reeleição para a Casa Branca de uma possibilidade numa probabilidade. A possibilidade já era forte, menos pelos (poucos) méritos de Obama no exercício da presidência e mais pela indigência de candidatos do lado republicano. Entretanto o êxito da caçada a bin Laden catapulta a reeleição para o primeiro plano das expectativas.

Outra certeza diz respeito à natureza da operação. É evidente que aos Estados Unidos não interessava capturar bin Laden vivo. Imaginem o que seria o seu julgamento. Além disso, onde guardá-lo? Na já famigerada Guantánamo, que Obama não consegue fechar?

Aumenta essa certeza a informação, deixada escapar nas entrelinhas, de que Osama não estaria armado no momento do confronto final. Pelo menos, se estava, não disparou um único tiro, ficando a resistência por conta de outros habitantes da casa.

Também se especula sobre uma possível responsabilidade de autoridades do Paquistão no ocultamento do foragido, devido à vulnerabilidade do seu refúgio. A tese é fraca: onde mais poderia Osama bin Laden se esconder? Numa caverna? Numa aldeia remota, onde seria muito mais facilmente reparado? Não: o melhor local mesmo seria nas barbas de todo mundo.  Quem se lembrar do conto “A carta roubada”, de Edgar Allan Poe, há de concordar com isso.

Por fim, quanto às represálias, elas virão, ainda não se sabe como, mas sim por quê. A Al-Qaeda é mais uma franquia do que uma organização centralizada. Sua estrutura tem mais a ver com uma empresa multinacional capitalista do que com algum partido de esquerda.

Aliás, esquerda é o que ela não é. Estimulada (para dizer o mínimo) pela CIA no Afeganistão durante a luta contra os soviéticos, ela se moldou segunda a imagem do que viria a ser seu maior inimigo e alvo preferido: os Estados Unidos.

A outra certeza é a de que, como a máquina de guerra dos Estados Unidos não mudou, será necessário encontrar um outro “alvo número 1”.

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