Murdoquinho e Murdocão: uma dupla que não convence

É difícil dizer qual desempenho foi pior. Ambos bateram na tecla do “eu não sabia”. Ou seja, eram incompetentes para dirigir um império do tamanho que montaram (Foto: © Reprodução […]

É difícil dizer qual desempenho foi pior. Ambos bateram na tecla do “eu não sabia”. Ou seja, eram incompetentes para dirigir um império do tamanho que montaram (Foto: © Reprodução TV Reuters)

Nesta terça feira James e Rupert Murdoch, filho e pai, compareceram perante a Comissão de Mídia, Cultura e Esportes do Parlamento britânico para depor sobre o escândalo das escutas telefônicas e outras práticas ilegais do império montado pelo empresário australiano.

É difícil dizer qual desempenho foi pior. Ambos bateram na tecla do “eu não sabia”. Ou seja, declararam-se incompetentes para dirigir um império do tamanho que montaram. Aparentmente, na sua visão, isso é melhor do que admitir alguma culpa no caso, mesmo que seja por omissão.

No caso, o que cheira mal é que ninguém parece culpado. Ninguém montou nada, ninguém ordenou nada. As coisas simplesmente foram acontecendo. Funcionários subalternos ganharam uma autonomia surpreendente.

A mesma coisa aconteceu com o depoimento de Rebekah Brooks, a chairman do News International. “Não sei, não sabia”, etc.

Não fosse pela invasão do Parlamento por um manifestante que tentou atingir Rupert com uma “torta” de espuma, a sessão seria de um tédio mortal, apesar das perguntas serem incisivas.

Mas as respostas foram todas evasivas. Inclusive a declaração do octogenário Rupert de que “este era o dia mais humilde da minha vida”. Ele usou a palavra inglesa “humble”. Deveria dizer “humiliated”, humilhado, humilhante.

O desempenho dos três, Murdoch Senior, Murdoch Júnior e Rebekah Brooks não impediu uma outra Comissão – que é multipartidária e foi montada especialmente para tratar do caso – de concluir que houve no mínimo iniciativas das empresas do império no sentido de impedir ou dificultar as investigações da polícia. Também concluiu a comissão que a polícia errou ao não aprofundar as investigações apesar dos indícios e recomendou que mais verbas seja destinadas a novas pesquisas sobre esse caso.

Uma coisa é certa: ou a polícia vai investigar isso a fundo, ou ninguém vai ser inculpado pelo caso. Mas como a polícia vai investigar, se ela própria é suspeita maior no caso? A renúncia de dois dos mais altos chefes da Scotland Yard dá testemunho desse nó em que a polícia britânica se meteu.

David Cameron, o Primeiro-Ministro conservador, está voltando às carreiras da África para a Inglaterra, a fim de responder as questões sobre a sua proximidade – para dizer o mínimo – com o grupo de Murdoch. Um caso que vai ter conseqüências políticas no curto e no longo prazo.

Fica um gosto de fundo em tudo: gostaríamos de ver uma investigação semelhante conduzida sobre a participação da nossa mídia convencional em acontecimentos como o golpe de 64. Ia dar pano para manga.

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