Grécia x Euro: chantagear a chantagem?

Corre um interessante debate sobre relação entre Grécia, sua crise, a zona do Euro e a crise desta última. (Ver artigos recentes, por exemplo, Mark Weisbrot (The Guardian) e Paul […]

Corre um interessante debate sobre relação entre Grécia, sua crise, a zona do Euro e a crise desta última. (Ver artigos recentes, por exemplo, Mark Weisbrot (The Guardian) e Paul Krugman (NY Times).

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que não há posicionamentos frontalmente conflitantes. O que há é mais um embate de perguntas do que de respostas.

A pergunta que paira em torno, debaixo e sobre o debate é a de se a opção de deixar o euro e voltar ao dracma é válida para a Grécia, e em que termos.

O alerta que o debate traz é o de que se a Grécia tirar essa opção da mesa de jogo, a sua relação com a dos demais países do euro fica parecida com a de gato e rato, sendo que o gato, além da ameaça de devorar o “adversário”, tem o queijo, o prato, a faca, e a mesa na mão.

Em suma, o que o debate propõe é deixar a pseudo-narrativa “idílica” que tenta se montar em cima da questão, para recobrir sua verdadeira natureza. Essa narrativa, que se quer hegemônica e única, se baseia na mesma ladainha que engambelou muitos latino-americanos ao final do século XX. Trata ela de “explicar” que os gregos (assim como os portugueses, os irlandeses e os espanhóis) foram “maus discípulos” dos “bons mestres” dos países centrais e dos economistas (e ideólogos) da zona do euro. Nào fizeram a lição, e agora seus “bons mestres” têm o dever de fazer gregos e troianos (os demais) “engolirem o amargo remédio”.

Em lugar desse “conto de fadas” – mesmo que tenha seus momentos de pesadelo, como todos os do gênero – o que esse debate vem propondo é que se veja o pano de fundo e o de boca reais, de uma surda ou ruidosa luta de interesses, em que estão em campo, além do destino da Grécia e de seu povo, os interesses pesados dos bancos credores e o jogo político de governantes (inclusive da Alemanha e da França) premidos entre estes e a cobrança (próxima) de seus eleitores sobre as despesas decorrentes – eleitores estes que, em casa, acreditam, na maioria, na mesma narrativa pia sobre as economias atuais e suas perspectivas.

A economia grega está partciularmente abalada – tanto pelos problemas em que se meteu quanto por causa dos remédios que estão lhe enfiando guela abaixo: recessão, desemprego, instabilidae social conseqüente, a receita conhecida. Agora, querem lhe enfiar mais um: para que a Grécia não “reestruture” sua dívida (leia-se, declare falência, moratória ou algo parecido, protelando prazos e diminuindo os montantes a serem pagos), é necessário um pacote suplementar da ordem de mais 50 bilhões de euros, além dos 110 que já estão em fluxo. Mas para que isso se efetive, cobra-se então uma privatização suplementar equivalente – o que vai prostrar mais ainda a economia grega – a não ser que ela entregue mais ainda dedos e anéis aos seus já vorazes credores.

Para se contrapor a essa narrativa, só tendo outra a considerar, que é a ameaçante (para todos) saída do euro. Por que ameaçante? Porque ela introduz no jogo, nos corações e nas mentes uma outra possibilidade, dramática (dracmática?) é certo, para lém da narrativa imposta. Como? Se a Grécia sair do euro e retornar ao dracma, prevêm os economistas ortodoxos que essa moeda se desvalorizaria e catapultaria a dívida pública contraída em euros `a estratosfera. Resultado: a Grécia de fato não teria como pagar, e a tal da “reestruturação” seria inevitável, instalando-se o jogo do “todo mundo perde”. E nesse todo mundo quem terá mais a perder são os bancos credores, que terão suas contas e seus dividendos abalados.

Ninguém quer isto? Então que se negocie. Mas para valer: dando à Grécia condições reais de crescer por conta própria. Para isso, no entanto, a hipótese de abandono da zona do euro precisa ser real, projetada, exposta como um caminho alternativo. Porque em matéria de política, a pior alternativa é sempre não ter alternativas.

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