Boaventura parte 6 – De inconformismo conformado a rebeldia competente

Sociólogo português Boaventura de Sousa Santos fez uma poderosa síntese dos processos pelos quais passa o mundo, durante o Fórum Social Mundial. Confira nesta sexta parte

Direto de Porto Alegre – Sabemos hoje que nosso Fórum Social Mundial não quer ficar com os inconformistas conformados. Queremos criar rebeldes competentes. E é para isso que vamos estar na próxima década.

Tenho alguma preocupação com a próxima década. Penso que não vai ser tão brilhante quanto a outra. Talvez o primeiro sinal preocupante foi a vitória da direita no Chile. Obviamente por culpa de uma esquerda que não soube sê-lo ao longo dos últimos vinte anos.

A primeira ideia fundamental é de que o imperialismo dos Estados Unidos se voltou outra vez para a América Latina. Isso é preocupante para todos nós. Obcecados com o Oriente, com a necessidade de controlar recursos naturais, eles agora estão a pensar de novo que não podem perder o controle desses recursos na América Latina.

As bases (militares dos EUA) na Colômbia não são contra as Farc, não são pelo narcotráfico. São para mostrar à América do Sul que podem fazer suas exibições, mas que vai ser complicado no momento em que puserem em causa o acesso das empresas transnacionais aos recursos das empresas nesse continente.

Tenhamos isso em mente porque vão transformar a Colômbia na Israel da América Latina. Isso vai desestabilizar países. A Venezuela será o primeiro. E podem vir outros.

A outra razão é que os governos progressistas, se olhamos para as políticas sociais, não há  grande inovação além de transferência de renda. Obviamente é  uma transformação. Eu fui um dos primeiros a apoiar este governo pelo Bolsa Família. Mas é extremamente limitado porque distribui lá embaixo, mas não mexe nos mecanismos que criam injustiça social e que criam empobrecimento. É assim no Equador, na Venezuela e na Bolívia. Se misturamos essa timidez com o imperialismo norte-americano, temos uma mistura explosiva.