Boaventura parte 5 – Temas para avançar nas ações coletivas

Sociólogo português Boaventura de Sousa Santos fez uma poderosa síntese dos processos pelos quais passa o mundo, durante o Fórum Social Mundial. Confira nesta quinta parte

Direto de Porto Alegre – A democracia tem virtuosidades e limites. A democracia representativa nunca poderá nos levar a uma boa situação social. Hoje, a Constituição da Bolívia nos diz que há três democracias: representativa, participativa e comunitária.
Não vamos desperdiçar que essa bandeira seja apropriada pelo Banco Mundial, que hoje já fala em democracia participativa e amanhã vai falar em comunitária. É para continuar a promover a privatização dos recursos naturais em nome da democracia comunitária. Não se iludam, pois eles aprendem melhor com nossos avanços que nós próprios.

Portanto precisamos ter atenção à  radicalização democrática. Em redemocratizar a democracia. E é  evidente que o Fórum vai ter já um tema importante de reflexão e que vai ser crucial nesta década, que é a relação entre partidos e movimentos. Estão surgindo novos partidos e alianças. É preciso que essa vinculação não se perca de maneira nenhuma. O Fórum tem um papel importante nessa luta.

Direitos humanos. Foi em nome de direitos humanos que se tiraram os indígenas deste continente. Os direitos humanos foram instrumentos da Guerra Fria. Em nome dos direitos humanos se destruiu o Iraque e se está destruindo o Afeganistão.

Mas essa não é a história toda. Enquanto estive na Colômbia, 15 ativistas de direitos humanos, muitos deles religiosos, morreram nas mãos de paramilitares. Os direitos humanos não são uma hipocrisia. Há um lado claro de luta e de emancipação.
São os novos direitos fundamentais: água, biodiversidade, terra, vida digna.

Desmercantilizar. Temos de tirar dos mercados, do capital, os bens públicos. É a água. Vamos deixar de tomar água nas garrafinhas, há fontes públicas. Vamos ter uma soberania alimentar. Vamos aproveitar essa ideia que está na Constituição da Bolívia que é a economia final. Pode haver noções capitalistas, o importante é que as empresas capitalistas não dêem a lógica do sistema. Quem dá a lógica do sistema é a economia solidária, a economia social, coletiva, local.

Democratizar o passado. É fazer justiça histórica para que o futuro possa ser justo. Porque não é justo se o passado injusto continuar impune. E, naturalmente, a democratização do futuro. Afinal, o que é a justiça ambiental?

Descolonizar. Que é vencer não apenas os preconceitos raciais, mas os preconceitos sexistas. Vamos tentar descolonizar nossas mentes no sentido de que isso seja possível.

Globalização alternativa. Não é possível passar da natureza capitalista à natureza da mãe terra sem um novo internacionalismo, uma nova internacional dos movimentos sociais. Uma globalização avançada por regiões, e portanto importante para este continente. A ideia de José Martí de Nuestra América finalmente está a ter lugar e, para isso, é preciso que o Brasil, como grande potência, abandone sua posição de não estar nem a favor nem contra.