Dia Internacional da Mulher: a condição feminina

As mulheres ainda são desvalorizadas no trabalho e reprimidas pela sociedade patriarcal

Marcha das Vadias realizada em São José do Rio Preto no ano passado.

No dia 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher, data em que 129 tecelãs morreram carbonizadas numa fábrica de Nova York, em 1857, por um incêndio provocado para reprimir a greve realizada por elas, que protestavam contra as condições de trabalho e a desigualdade de gêneros – elas recebiam um terço do salário dos homens e executavam o mesmo trabalho exaustivo. Desde então, as mulheres lutam pela igualdade. Os resultados se refletem hoje. Ainda hoje as mulheres são menos valorizadas no trabalho do que os homens e, com frequência, vítimas de abusos que vão da negação de seus direitos à violência sexual.

 

Discriminação no ambiente de trabalho

Após séculos de luta pela afirmação da figura feminina no mercado de trabalho, a mulher continua sendo discriminada. A última pesquisa divulgada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), sobre a valorização dos gêneros no setor bancário, mostra que 71,67% das bancárias têm curso superior completo contra 29,92% de seus colegas do sexo masculino. Apesar disso, elas ganham 24,10% a menos do que os homens.

Outro levantamento do Dieese, realizado em fevereiro deste ano, aponta que a discriminação no mundo do trabalho é maior para as negras – em São Paulo, a taxa de desemprego da mulher negra é de 26,2% e das brancas, 18,8%. Enquanto uma mulher branca demora 11 meses para arrumar emprego na cidade, uma afro-descendente demora  quatro semanas a mais.

Em Catanduva, os setores em que as mulheres mais atuam são o comércio e a educação. De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Relação do Trabalho (Semdert), cerca de 60% dos comerciários são mulheres.

 

violência domésticaViolência doméstica: A hierarquia dos sexos

Ao longo da história, a sociedade estabeleceu papéis diferentes para homens e mulheres. São femininas as características de docilidade e submissão. Aos homens são atribuídas força e virilidade, evidências de uma postura dominadora. Para a psicóloga Viviane Sanchez Forte, a violência doméstica contra a mulher vem dessa relação desigual – e hierárquica – estabelecida entre os sexos. “O indivíduo que usa da violência sente ter aprovação social para controlar sua parceira e com isso preencher suas necessidades” – afirma.

Segundo a psicóloga, a violência psicológica antecede as agressões físicas vividas pelas mulheres. “Muitas vezes, inicia-se com uma pequena reclamação, que é substituída por ofensas e xingamentos e atinge o ápice com as agressões físicas” – diz. Entre as consequências da violência doméstica estão irritabilidade, falta de concentração, insônia, falta de apetite e problemas como depressão, síndrome do pânico e uso de álcool e outras drogas.

Apesar dos danos, as vítimas viram reféns por medo, insegurança ou dependência financeira. “Não é fácil convencer a sociedade de que a violência deve ser condenada e eliminada, já que há tolerância a certas formas de violência, retratadas, por exemplo, em canções como Entre Tapas e Beijos” – finaliza Viviane.

 

A vez da Marcha das Vadias

A Marcha das Vadias surgiu em 2011, em Toronto, no Canadá, depois que o policial Michael Sanguinetti recomendou que as mulheres não se vestissem “como vadias” para evitar estupros. Três mil pessoas foram às ruas protestar contra Sanguinetti. Depois, o movimento chegou a vários países, inclusive ao Brasil, onde se realizou em mais de 20 cidades, entre elas a vizinha São José do Rio Preto.

A estudante de Letras Camila Domiciano, vice-presidente do Diretório Acadêmico da UNESP-Ibilce, de São José do Rio Preto, participou da organização da passeata realizada no município em julho do ano passado, que juntou cerca de 400 pessoas. Ela reafirma a luta pela igualdade e contra o sexismo. “Nossa indignação é  a falta de liberdade da mulher. Temos o direito de escolher nossas roupas sem nos preocuparmos com estupro e vamos lutar pela liberdade sexual. Queremos mostrar que as mulheres não estão sozinhas, independentemente de classe social, idade, cor e orientação sexual” – diz.

Para a edição da Marcha de 2013  foram realizadas as primeiras reuniões para sua organização, mas ainda não há indicativo de data.

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Uma batalha pela vida

Em 2007, Sônia Ceneviva descobriu que tinha um tumor maligno na mama direita. Fez quimioterapia, radioterapia e  quatro cirurgias. E mesmo após a mastectomia – cirurgia na qual se remove total ou parcialmente a mama –, ela não se abateu e procurou a Associação Sempre Viva, de Catanduva, tornando-se voluntária e presidente em 2010.

A partir daí, Sônia se envolveu com a dor de outras mulheres e passou a viver por essa batalha – a Sempre Viva dá apoio a mulheres mastectomizadas, colaborando para sua qualidade de vida e autoestima. Além de confeccionar próteses mamárias externas de polietileno e doá-las aos hospitais, a Associação ministra palestras sobre prevenção do câncer de mama em instituições públicas e privadas.

A Sempre Viva fechou parcerias com renomados hospitais do Brasil inteiro, que acolhem um grande número de pacientes. A entidade oferece sessões de fisioterapia especializada e atendimento psicológico gratuitos.

Essa história inspiradora de Sônia Ceneviva foi finalista do Movimento Acolher da Natura, na categoria Crescente, concorrendo com mais 800 casos, e disputou o Prêmio Cláudia 2012, trazendo mais visibilidade à Sempre Viva.