Governo do Rio se contradiz sobre necessidade de demolições no Maracanã

Chefe da Casa Civil afirma que evacuação do estádio em oito minutos, exigida pela Fifa, não é imprescindível e admite 'opção ideológica' na privatização, que começa nesta quinta e é contestada

Trabalhadores finalizam obras de reforma do Maracanã, palco da Copa das Confederações e da Copa-2014 (Foto: Rafael Ribeiro/Agif/Folhapress)

Rio de Janeiro – Em uma concorrida entrevista coletiva durante a qual esteve sozinho perante dezenas de jornalistas para falar sobre o processo de concessão do complexo esportivo do Maracanã à iniciativa privada, o secretário estadual da Casa Civil, Régis Fichtner, acabou caindo em contradição hoje (10) ao afirmar que as demolições previstas no projeto não são realmente necessárias para que se cumpra a exigência feita pela Fifa de evacuação do estádio em um tempo máximo de oito minutos. A coletiva foi convocada por Fichtner após o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual darem entrada em ação que pede a suspensão do processo licitatório que será iniciado amanhã (11).

Sobre a concessão da gestão do Maracanã pelos próximos 35 anos, contestada na Justiça e também pelos movimentos sociais, o secretário afirmou se tratar de “uma opção ideológica do atual governo”. Fichtner também negou que haja favorecimento do governo à empresa IMX, do empresário Eike Batista, autora do estudo técnico que baseia o projeto de concessão e considerada favorita no processo licitatório.

Ao ser indagado se a não realização das demolições do estádio de atletismo Célio de Barros, do parque Aquático Júlio Delamare e da Escola Municipal Friedenreich antes da Copa das Confederações iria contrariar as exigências da Fifa para o torneio que será realizado em julho, Fichtner respondeu que o governo as cumprirá “com certeza”: “Vamos evacuar o público, mas não da maneira que a gente acha que é a melhor. Vamos ter que encontrar outras formas de o público sair no tempo previsto pela Fifa, mas isso será feito”, disse.

Confrontado à sua contradição pelos jornalistas, já que o governo – e o próprio governador Sérgio Cabral – já havia afirmado inúmeras vezes nos últimos meses que as demolições em torno do Maracanã somente seriam realizadas para garantir a mobilidade do público e uma maior rapidez no esvaziamento do estádio, Fichtner deu nova forma à versão oficial: “Vamos fazer as demolições porque o complexo do Maracanã precisa, para sua sustentabilidade e para o conforto do público, que a gente construa estacionamentos e áreas de lazer em todo o seu entorno. Facilitar a mobilidade e a evacuação não é o único motivo. Mesmo que não tivesse a exigência de evacuação, nós faríamos [as demolições] porque queremos dar ao complexo do Maracanã uma nova conformação.”

Fichtner disse que “a opção pelas demolições é do governo do estado, não só para a Copa do Mundo, mas também para a gestão do estádio daqui pra diante, para os jogos dos campeonatos carioca e brasileiro e para os jogos da Seleção”. O secretário defendeu as demolições. “Uma deficiência do Maracanã é não ter um lugar legal para estacionar carros, e eu preciso abrir espaço para isso. Eu quero construir um museu do futebol de padrão internacional e preciso de espaço para isso. Quero dar ao torcedor o conforto de poder frequentar antes ou depois do jogo um lugar que ele possa frequentar, um bar e uma loja onde ele possa comprar alguma coisa e curtir com a família. Por isso o governo do estado decidiu abrir espaço no Maracanã retirando dali de dentro o Célio de Barros e o Júlio Delamare. A única exigência da Fifa é evacuar o estádio em oito minutos”, disse.

O chefe da Casa Civil do governo estadual afirmou ainda que o poder púbico não teria condições de administrar o Maracanã. “O governo optou pela concessão do Maracanã porque nós vamos ter um estádio a partir de agora com um alto nível de complexidade tecnológica, com necessidades de manutenção de placares eletrônicos, com um campo de última geração e toda a infraestrutura lógica. O Maracanã será todo controlado a partir de uma única sala de controle e estará novinho. Não é possível ao Estado gerir esse complexo de entretenimento com padrões internacionais de conforto para o público, com serviços de primeira linha, e com a manutenção e atração de grandes espetáculos, sejam de futebol ou shows”, disse.

Fichtner criticou a ação do Ministério Público: “O MP não foi criado para interferir em critérios de conveniência e oportunidade do administrador. Se o procurador acha que o Maracanã deva ser administrado pelo próprio Estado e é contra que ele seja operado por um particular, isso é posição ideológica dele, mas não dá fundamento para tentar impedir essa licitação, pois decidir sobre critérios de conveniência e oportunidade é prerrogativa do governador, que foi eleito para isso.”

A concessão à iniciativa privada, segundo o secretário, é a opção ideológica do governo: “Manter o Maracanã como ele era há 50 anos não é uma opção ideológica do atual governo do Rio de Janeiro, que quer transformar o Maracanã em um complexo de entretenimento de padrão internacional. Não achamos que o Estado tenha condições nem que seja dever do estado administrar um complexo de entretenimento.”

Fichtner contestou ainda que o processo esteja beneficiando a empresa de Eike Batista, como também acusa o MP. “Essa afirmação deixa o governo indignado. Não houve de jeito nenhum informação privilegiada à IMX”, disse, acrescentando não haver irregularidade do no fato de a empresa ter feito o estudo técnico e ainda participar da licitação: “Isso é da natureza desse tipo de licitação que envolve uma Parceria Público-Privada (PPP) e também acontece em outros estádios da Copa”, disse.

O governo informa que 21 empresas participaram da vistoria técnica ao Maracanã e, por isso, estão habilitadas a participar da licitação. O vencedor do processo licitatório será conhecido em duas semanas.

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