Inundação e cobranças do MPF: reforma do Maracanã vive inferno astral

Chuva que castigou o Rio alaga canteiro de obras e provoca cancelamento da visita que seria feita amanhã pelo secretário geral da Fifa

Com 87% dos trabalhos concluídos, segundo o governo, reforma do Maracanã é preocupação para Fifa (foto: Tânia Rêgo / ABr)

Rio de Janeiro – A pouco mais de um mês da data-limite (15 de abril) estabelecida pela Fifa para a conclusão das obras de reforma do Maracanã para a Copa das Confederações deste ano e a Copa do Mundo do ano que vem, o ex-maior estádio do mundo vive em inferno astral. Aos atrasos e à insatisfação dos operários, que já ameaçavam a conclusão da reforma dentro do prazo, veio se somar a fúria da natureza, já que o impressionante temporal que castigou na noite de ontem (5) o Rio de Janeiro alagou o canteiro de obras do estádio, estragando máquinas, materiais e equipamentos.

Além disso, termina hoje (6) um outro prazo – este dado pelo Ministério Público Federal – para que o governo do Rio apresente o estudo de viabilidade econômica para o plano de concessão do complexo esportivo do Maracanã e seu entorno à iniciativa privada. A falta de transparência sobre a privatização do estádio já se desenha como um novo foco de contestações ao projeto, nas ruas e na Justiça, para desagrado das autoridades públicas e dos cartolas do futebol mundial.

O temporal que alagou boa parte do Rio transformou o canteiro central de obras do Maracanã – local onde ficará o campo de futebol – em uma gigantesca e barrenta piscina. Fotos aéreas tiradas hoje (6) mostram andaimes deslocados pela força da enxurrada e máquinas completamente engolidas pela lama. Além disso, a chuva prejudicou a instalação do toldo de cobertura do estádio, e durante todo o dia operários retiraram com baldes a água que se acumulou e fazia grande peso sobre a estrutura recentemente montada.

Responsável pela condução das obras, a Empresa de Obras Públicas do estado (Emop) ainda não divulgou um balanço oficial dos desgastes causados pelo temporal nem fez uma avaliação precisa se isso acarretará em algum tipo de atraso adicional à reforma. Em nota oficial, a empresa informa somente que “o cronograma das obras não será alterado” e que “os operários estão trabalhando normalmente”.

Visita cancelada

O certo é que a chuva causou o cancelamento da visita que o secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke, faria amanhã (7) ao Maracanã. O francês, que visitou hoje o Mineirão, em Belo Horizonte, na companhia do prefeito Márcio Lacerda e do ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, já havia dito ao chegar ao Brasil que o estádio carioca era sua “grande preocupação”. Antes de voltar à Europa, Valcke concederá entrevista coletiva na qual deverá abordar mais diretamente os problemas do Maracanã. Sobre a chuva que castigou o estádio, se limitou a afirmar ter “ficado realmente preocupado” ao ver as imagens dos estragos.

Segundo a Emop, 87% do trabalho relativo à reforma do Maracanã já foi concluído. A princípio, a partida de reinauguração, a ser disputada entre Brasil e Inglaterra, está marcada para 2 de junho, e a Fifa quer o estádio em perfeitas condições para receber a Copa das Confederações entre 15 e 30 de junho. Inicialmente estimado pelo governo do Rio em R$ 600 milhões, o custo total da reforma já chegava a R$ 930 milhões na última parcial, divulgada em janeiro.

Privatização

No que diz respeito ao projeto de concessão do Maracanã à iniciativa privada, que tem licitação prevista para 11 de abril, o Ministério Público Federal exige que o governo explique de maneira técnica como chegou aos valores estabelecidos no plano, que tem valor mínimo de outorga estimado em R$ 4,5 milhões e prevê investimentos da ordem de R$ 594 milhões pelos futuros concessionários. Encaminhada à Secretaria da Casa Civil, a notificação faz parte de um inquérito instaurado no ano passado para apurar eventuais irregularidades na utilização dos recursos repassados pelo BNDES para a reforma do estádio.

O Ministério Público questiona o governo também sobre o fato de o estudo que estabeleceu os custos para o plano de concessão não ter sido realizado por técnicos do próprio governo, mas por uma empresa privada que cobrou R$ 2,3 milhões pelo serviço. Curiosamente, o estudo utilizado pelo governo foi elaborado justamente por uma empresa – a única, até o momento – que se diz interessada em participar da licitação: a IMX Holding S.A., do empresário carioca Eike Batista. A prática, segundo o MPF, é pouco usual e merece explicação.